Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, junho 19, 2009

Celso Ming -Mão pesada nos bancos



O Estado de S. Paulo - 19/06/2009
 
Faltam pormenores sobre como será a nova regulação do mercado financeiro americano e, mais do que isso, falta a decisão final, porque o Congresso pode mexer em tudo. Mas já dá para saber que um dos buracos negros do mercado financeiro pode, finalmente, ser tapado.

Trata-se da decisão tomada em 2001 pelos governos dos sete países mais ricos do mundo (Grupo dos Sete, G-7) de garantir socorro para instituições financeiras capazes de provocar crise sistêmica (quebra em cadeia).

Esta decisão, mantida até recentemente sob reserva, foi uma das principais causas do comportamento irresponsável dos grandes bancos. Se nunca faltará socorro oficial, por que, afinal, se preocupar em manter administração irrepreensível?

Essa regra informal só foi quebrada em setembro, quando da falência do Lehman Brothers, e, ainda assim, aparentemente porque o então secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Henry Paulson, duramente acusado por políticos americanos de excessiva leniência na canalização de recursos públicos para bancos administrados irresponsavelmente, entendeu como inevitável o sacrifício de um banco de médio porte.

O rompimento dessa regra provocou o colapso do sistema financeiro. Como nenhum banco podia confiar nos outros, todos os canais de crédito foram bloqueados e a economia global mergulhou na paradeira, a maior que se viu depois da Grande Depressão dos anos 30.

De qualquer maneira, o compromisso de socorrer instituições tão grandes cuja quebra pudesse provocar crise sistêmica foi sacramentado em março na reunião de ministros de Finanças e de presidentes de bancos centrais do Grupo dos 20. 

O buraco negro acima mencionado consistiu em dar todas as garantias de sobrevivência a essas instituições financeiras sem a contrapartida de monitoramento e supervisão de suas atividades que pudessem evitar a atuação irresponsável.

Foi uma situação que contaminou o comportamento de outros organismos encarregados de garantir a lisura das operações financeiras. Se a má administração em grandes instituições deixou de ter consequências, por que então as agências reguladoras teriam de impor regras de austeridade? Por que, também, as agências de classificação de risco teriam de denunciar a má qualidade do passivo dos bancos? E por que os escritórios de auditoria precisariam expor as verdadeiras condições do balanço dos bancos se nada seria capaz de decretar sua falência?

Quando o banco central americano tiver mandato para usar mão pesada no mercado financeiro, os bancos não poderão mais se atirar ao lucro fácil e desconsiderar as normas da boa governança financeira.

Os administradores dos bancos não gostaram nem um pouco das intervenções propostas pelo governo Obama porque estavam mal-acostumados com a moleza que vigorava no mercado. Mas a longo prazo, as regras ajudarão no principal, que é a recuperação da confiança na atuação das instituições financeiras.

O governo Obama dá um passo importante para a reforma do sistema financeiro americano. Falta agora estender os mesmos princípios para o mercado global. E isso é mais difícil porque o governo americano já avisou que não quer supervisão supranacional das instituições financeiras dos Estados Unidos. 

Confira

Fim de ciclo? - O recado mais importante da Ata da última reunião do Copom, ontem divulgada, foi o de que os cortes alentados de juros, de 1 ponto porcentual, não vão se repetir.

Alguns analistas se apressaram a concluir que a reunião do Copom de 22 de julho se limitará a cortar os juros em 0,25 ou até mesmo 0,50 ponto porcentual e que este será o fim do atual ciclo de baixa.

Os próximos passos do Banco Central vão depender do comportamento da inflação. Em mais dois ou três meses será possível verificar qual o corte adicional de juros compatível com a meta de inflação.

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