VEJA
Alerta ao comandante
Companhias aéreas alertam os pilotos sobre como proceder
em caso de pane na medição de velocidade das aeronaves
– e evitar um acidente como o do Airbus da Air France
Laura Ming
Divulgação |
Airbus A330 |
As causas do desastre com o Airbus A330 da Air France, que matou 228 pessoas há três semanas, ainda são desconhecidas. A esta altura parece provável, porém, que durante uma turbulência violenta, numa nuvem de tempestade, a tripulação tenha ficado sem informações vitais sobre a velocidade do avião. Essa suspeita fez com que nos últimos dias várias companhias aéreas, entre elas duas brasileiras, mandassem um boletim de alerta para seus pilotos. O documento, ao qual VEJA teve acesso, chama atenção para os procedimentos que devem ser adotados em caso de unreliable airspeed – nome dado ao tipo de pane ocorrida no Airbus acidentado. O alerta enfatiza que, caso não disponha de informações confiá-veis sobre a velocidade do avião, o piloto deve ajustar a potência das turbinas e a inclinação em relação ao horizonte de acordo com uma tabela que varia conforme a aeronave. Dessa forma, ele consegue voar com segurança até sair da turbulência ou até que a pane seja sanada. A velocidade do avião é tão importante para sua segurança porque, se for baixa demais, ele perde a sustentação e cai. Se for muito alta, pode comprometer a estrutura da fuselagem e fazer com que a aeronave se desintegre no ar.
Para conduzir o avião, o piloto trabalha com três tipos de velocidade. A primeira é a do velocímetro, medida em nós (1 nó corresponde a 1,8 quilômetro por hora). A segunda, expressa em unidades mach, relaciona a velocidade do avião com a do som. Essa unidade, considerada mais precisa, é utilizada em altitudes superiores a 8 000 metros. A terceira é medida em relação ao solo – feita por GPS nos aviões mais modernos. A velocidade em relação ao solo é usada apenas para calcular o tempo de voo. A medição de velocidade pelo GPS não é suficientemente precisa para substituir o velocímetro.
Além de emitirem boletins de alerta sobre os procedimentos em caso de pane na medição da velocidade, várias companhias aéreas determinaram a substituição dos tubos de pitot em suas aeronaves. São as providências possíveis enquanto não se encontra a caixa-preta do Airbus da Air France. Espera-se que ela elucide o acidente por completo. A busca pela caixa-preta na região do desastre é uma corrida contra o tempo. A previsão é que as baterias do equipamento, que emitem ondas e sinais sonoros para que se possa localizá-lo, só durem até 1º de julho. No momento, a procura pela caixa-preta é feita por um submarino nuclear francês e duas sondas americanas instaladas em rebocadores. Às equipes brasileiras de resgate cabe recolher destroços do avião e, principalmente, os corpos das vítimas. Até a sexta-feira passada, cinquenta corpos haviam sido encontrados.
O que já mudou na aviação após 1 - Diversas companhias aéreas, entre elas duas brasileiras, enviaram boletins a seus pilotos recomendando que, em caso de falha na medição da velocidade, se deve ajustar a potência das turbinas e o nariz do avião em um ângulo específico em relação ao horizonte. Os ajustes dependem do modelo da aeronave 2 - Companhias aéreas, entre elas a Air France e a TAM, anunciaram a troca dos tubos de pitot em seus aviões. Supõe-se que esse equipamento, que ajuda a medir a velocidade, tenha contribuído de forma decisiva para o desastre com o Airbus 3 - A Agência Europeia para a Segurança da Aviação (Easa) estuda se a troca dos tubos de pitot deve se tornar obrigatória nos 600 Airbus A330 hoje em operação no mundo 4 - A Easa avalia se os pilotos precisam passar por um treinamento adicional para lidar com o tipo de pane sofrida pelo avião da Air France |