O Estado de S. Paulo - 03/06/2009 |
Aumentam as pressões para que os juros primários (Selic) se alinhem com os juros internacionais. Já não se trata mais de derrubar os juros para garantir mais crescimento econômico, mas para evitar uma excessiva valorização do real, independentemente do que isso possa significar. Nos últimos dias, essa posição foi defendida aqui no Brasil pelo ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda do governo Sarney Luiz Gonzaga Belluzzo e pelo ex-ministro do Desenvolvimento do governo Fernando Henrique Luiz Carlos Mendonça de Barros. Eles estão preocupados com a baixa abrupta do dólar no câmbio interno (valorização do real), fator que tira competitividade do produto brasileiro em razão do barateamento em reais das importações e do encarecimento em dólares das exportações. Entendem que a falta de convergência dos juros internos comandados pela Selic com os juros externos trará uma enxurrada de dólares ao País que procurarão tirar proveito dos juros bem mais altos aqui dentro. Quando isso acontecer, o dólar, que já vem mergulhando, afundará ainda mais diante do real. Por enquanto, as estatísticas não denunciam um afluxo anormal de moeda estrangeira que venha a aproveitar os juros mais altos no Brasil. Mas, à medida que os investidores internacionais saírem de suas posições defensivas e se voltarem para o risco, isso pode ocorrer. Aumenta a percepção de que o Brasil é a noiva da vez. Bancos e escritórios de finanças trabalham com computadores que 24 horas por dia apontam oportunidades de ganhos com mordidas com juros (arbitragem) e disparam automaticamente, mundo afora, ordens de compra e venda de ativos. As pressões para que haja alinhamento de juros não são muito diferentes das reclamações que têm sido feitas por autoridades monetárias do resto do mundo. O presidente do Banco da Inglaterra (banco central), Mervyn King, por exemplo, tem se queixado de que, a cada recuo dos juros nos Estados Unidos, uma invasão de moeda estrangeira no mercado inglês cuida de valorizar insuportavelmente a libra esterlina. O problema é que cada país tem a política monetária que o momento pede. Agora, por exemplo, o Federal Reserve (o banco central dos Estados Unidos) opera a juros próximos do zero por cento ao ano porque precisa apagar um incêndio e desobstruir o mercado de crédito. Se a cada mexida da política monetária do dólar ou do euro for preciso alinhar os juros, o País perderia capacidade de administrar a sua própria. No fundo, o que está em questão é uma enorme desproporção. O mercado financeiro é rigorosamente global e opera no sistema de vasos comunicantes. E, no entanto, as políticas monetárias seguem sendo nacionais ou, no máximo, regionais. A globalização está pedindo convergência ou para uma moeda única ou para coordenação de políticas monetárias. Enquanto não houver isso, será preciso lidar com assimetrias monetárias. A convergência monetária está em curso no Brasil. Em 2003, os juros estavam nos 26,5% ao ano e, na semana que vem, terão chegado à casa dos 9%. O que precisa ser discutido é se a velocidade dessa convergência é adequada ou não. Se não é e precisa aumentar, cabe perguntar se o País aceita correr o risco de mais inflação que a flexibilização do plano de metas implicaria. Confira Subindo - Enquanto o dólar afunda globalmente diante das moedas fortes, o petróleo segue na direção contrária, agora a caminho dos US$ 70 por barril. Em Nova York, ao longo de 2009, já acumulou alta de 31,5% e, nos últimos 30 dias, de 26,2%. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, junho 03, 2009
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