SÃO PAULO - Enquanto a Igreja Católica gasta o seu latim, dividida em torno da greve de fome do bispo do São Francisco, a Igreja Universal do Reino de Deus trata de cuidar do milagre da multiplicação -não dos peixes, mas da fortuna alavancada pelos dízimos de seu rebanho.
São 23 emissoras de TV, 40 rádios próprias e outras 36 arrendadas, dois jornais de grande circulação, duas gráficas, empresas de participações, uma agência de turismo, uma imobiliária, uma seguradora de saúde e -surpresa- até mesmo uma empresa de táxi aéreo. Haja fé.
A ótima reportagem de Elvira Lobato publicada no sábado pela Folha revela uma rede diversificada de negócios ligados à Universal, a que não falta pelo menos uma conexão com o paraíso fiscal de Jersey, aquele mesmo de Maluf.
A Rede Record, avaliada em R$ 2 bilhões, seria só o centro nervoso a partir do qual Edir Macedo comanda um império em expansão. Lembre-se, ainda, que o PRB, de José Alencar, é o braço institucional da igreja, embora sua presença na política vá muito além desse partido.
Nem o céu parece ser o limite para os neobucaneiros da fé, cuja máxima é a de qualquer negociante de sucesso: encontre (ou crie) uma necessidade e a satisfaça. Organização empresarial, técnicas agressivas de convencimento e mobilização, idéia de felicidade associada à promessa de ascensão social e conquistas materiais -só por herança ainda chamamos isso de religião.
Ao contrário dos católicos, reféns do juízo final, a Igreja Universal propõe a salvação aqui e agora; ao contrário das utopias de esquerda, coletivistas, estimula a redenção do indivíduo, só ele.
Uma igreja assim aderente ao espírito do capitalismo encontrou na perdição das décadas perdidas de 80 e 90 terreno fértil para vicejar: desemprego, tráfico de drogas, famílias despedaçadas e jovens sem futuro nas periferias ofereceram o palco ideal ao apelo neopentecostal. Como Silvio Santos, Edir Macedo explica muito do Brasil.
Entrevista:O Estado inteligente
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