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sexta-feira, janeiro 26, 2007

PT anuncia "reflexão" mas mantém tudo como antes


Editorial
Valor Econômico
26/1/2007

No dia 10 de fevereiro o PT completa 27 anos com uma reunião do Diretório Nacional em Salvador, Bahia, que deverá ser o "lançamento" do 3º Congresso Nacional do partido. As festividades, que incluem um almoço com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, são anunciadas no site da legenda como "o início a um profundo processo de reflexão sobre o Brasil, o socialismo e o futuro do próprio partido". E isso ocorre depois de o PT "dar a volta por cima, reeleger o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aumentar o número de governadores e ser a legenda mais votada para a Câmara dos Deputados", diz o site.

O evento acontecerá nove dias depois da eleição da mesa diretora da Câmara, onde um candidato petista, Arlindo Chinaglia (SP), terá disputado contra o deputado Aldo Rabelo (PCdoB-SP), da base parlamentar do governo e candidato à reeleição; e quase dois anos depois do início de uma série de escândalos que abalou a sua credibilidade e a unidade interna em torno de um "campo majoritário" pragmático que esteve no centro de todos esses episódios. A festa, no entanto, não será de "refundação": todos os movimentos do partido, desde a eleição de seu atual presidente, Ricardo Berzoini (SP), são no sentido de manter o status quo daqueles que ocuparam a máquina partidária e, por excessivo pragmatismo, sucumbiram à política tradicional. A proposta de "refundação" virou folclore, principalmente depois do processo eleitoral para a presidência da Câmara. A candidatura do deputado Arlindo Chinaglia mostrou que o partido mantém, antes de tudo, um incrível poder de consolidar unidades quando a perspectiva é o poder.

A candidatura de Chinaglia teve o poder de unificar os mais diversos grupos do partido - que agora podem ser catalogados mais por projetos de poder do que propriamente por posições ideológicas - e tornou-se a varinha mágica que poderá passar de vez a borracha sobre as histórias de envolvimento de políticos petistas com o "mensalão" ou, mais recentemente, com a tentativa de compra de um dossiê contra o governador José Serra. A volta do deputado Ricardo Berzoini à presidência do partido colabora com o projeto interno, que interessa teoricamente à maioria dos grupos (exceto às tendências de esquerda), de deixar tudo como está, para ver como fica.

A estratégia consolidada em torno da manutenção de Berzoini e da candidatura de Chinaglia à presidência da Câmara parece ser a de fortalecer o partido, pela unidade, frente ao governo. Isso significaria, na prática, aumentar o poder de barganha da legenda na composição do novo governo, frente aos aliados. Com esse objetivo, o núcleo petista de poder não parece se importar com o fato de que a disputa com Aldo Rebelo tenha desestabilizado a unidade entre os três partidos que, desde o primeiro mandato de Lula, são os aliados de primeira hora, o PSB, o PCdoB e o próprio PT - aliás, como reportado na matéria "Disputa na Câmara implode 'núcleo de poder'", publicado ontem pelo Valor.

A desenvoltura do PT para ocupar espaços de poder, independente das conveniências de uma aliança eleitoral e parlamentar, alimenta-se, em parte, da decisão equivocada do presidente Lula de adiar o anúncio do ministério do segundo mandato para depois das eleições da presidência da Câmara. Foi muito tempo entre a sua reeleição e a montagem da nova equipe - tempo suficiente para que o PT se insurgisse não apenas contra o governo, mas contra as ponderações do presidente, uma vez ou outra vazadas para a imprensa, de que poderá apoiar um candidato de outro partido para a sua sucessão, em 2010.

É o projeto da sucessão de Lula que está em jogo, na disputa pela presidência da Câmara e pelo comando do PT. E para ele parecem convergir os grupos que se envolveram em escândalos e aqueles com pretensão de emplacar o seu candidato. Até lá, pelo visto, o presidente Lula terá que governar com uma base de apoio parlamentar que será fluida, a começar pelo seu próprio partido. E poderá estar sujeito a outra série de crises políticas, repetindo o passado - quando, mais do que a oposição, foi o poder de fazer confusão dos aloprados petistas que o colocou sob o fogo cruzado de seus opositores.

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