A necessária estratégia de desenvolvimento deverá se basear em uma taxa de câmbio competitiva
AS DUAS alternativas para a globalização -a do Fórum Econômico Mundial e a do Fórum Social Mundial- não são relevantes para o Brasil. A primeira porque é a mera celebração do atual estágio do desenvolvimento capitalista; a outra porque, embora generosa, é utópica. Para nós, o que interessa é outra distinção; é compreender que a globalização comercial é uma grande oportunidade para quem tem mão-de-obra ainda barata, e a financeira, a causa de quase estagnação de países em desenvolvimento como o nosso.
A globalização enquanto fenômeno econômico é a competição comercial em nível mundial entre os Estados-nação por meio de suas empresas. Logo, a questão fundamental é saber como cada país será ou não bem-sucedido nessa competição. No início dos anos 1990, quando a hegemonia ideológica dos Estados Unidos estava no auge, o globalismo -a ideologia da globalização- afirmava que bastava para isso realizar reformas que abrissem todos os mercados, inclusive os financeiros.
Verificamos, 15 anos depois, que essa receita foi desastrosa para quem a seguiu porque não distinguiu a globalização comercial da financeira. Para países em desenvolvimento, cuja mão-de-obra é barata em relação aos países ricos, a globalização comercial representou uma incrível oportunidade. Primeiro os tigres asiáticos e depois a China estão aí para demonstrá-lo. Em compensação, a abertura financeira foi a principal razão da quase estagnação da América Latina.
O segredo do desenvolvimento dos países asiáticos dinâmicos foi ter limitado a globalização financeira. Eles compreenderam que a flutuação sem controles da moeda nacional podia anular a vantagem existente na globalização comercial, porque, quando a taxa de câmbio deixa de ser administrada, a moeda local nos países em desenvolvimento tende a se tornar apreciada e, portanto, não competitiva. A doença holandesa, causada pela disponibilidade de recursos baratos e abundantes, é a causa dessa tendência: a taxa de câmbio resultante -apreciada- é definida por esse recurso barato, cuja exportação é rentável a essa taxa. Outros bens comercializáveis com maior valor adicionado per capita, embora utilizem tecnologia no estado da arte, ficam inviabilizados porque necessitam de uma taxa de câmbio mais depreciada -uma taxa livre da doença holandesa- para serem rentáveis. E assim fica inviabilizado o desenvolvimento econômico que implica a transferência de mão-de-obra de setores econômicos com baixo valor adicionado per capita para setores com maior conteúdo tecnológico e maiores salários.
É isso o que acontece hoje no Brasil. Com a liberalização comercial, em 1990, que automaticamente baixou a taxa de câmbio efetiva, e a liberalização cambial, em 1992, que levou à perda da sua capacidade de administrar o câmbio, o país perdeu suas defesas contra a doença holandesa e estagnou. Sua indústria vai se transformando em uma indústria "maquila", que apenas usa mão-de-obra barata e pouco qualificada, como aconteceu com a economia mexicana. Nos anos 1990, a essa perda de defesa somou-se a adoção da "política de crescimento com poupança externa", ou seja, de crescimento com déficits em conta corrente, que apreciou ainda mais o câmbio e foi duplamente desastrosa.
Para competir com sucesso na globalização, a necessária estratégia nacional de desenvolvimento deverá se basear em uma taxa de câmbio competitiva. Para isso, além de estabelecer limites rigorosos ao endividamento externo, deverá poder limitar a entrada de capitais sempre que for necessário. Não precisará limitar sua saída, porque essa é uma política à qual recorrem os países que aceitam as recomendações da ortodoxia convencional, endividam-se e ficam ameaçados de crise de balanço de pagamentos. Não basta, porém, evitar crises: a doença holandesa é compatível com equilíbrio a longo prazo da conta corrente. Só administrando a taxa de câmbio competitiva o Brasil poderá aproveitar seu potencial empresarial e tecnológico e crescer competitivamente na era global.
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Arquivo do blog
-
▼
2007
(5161)
-
▼
janeiro
(447)
- Diálogos & dialéticas Roberto DaMatta
- FERNANDO RODRIGUES Lula 2.0
- CLÓVIS ROSSI Fim da história, de novo?
- Míriam Leitão - Destravar usinas
- Merval Pereira - Milho para as galinhas
- Dora Kramer - Vitória pírrica
- AUGUSTO NUNES O dinheiro foi para o buraco
- Opinião: A anistia que não deu certo Jarbas Passar...
- Dora Kramer - Conflito permanente
- Os crediários de Lula 1 - Vinícius Torres Freire
- O mundo começou e acabará sem o homem- Gilberto Dupas
- Médicos em emergência
- Clóvis Rossi - O fantasma do cassino
- Decisão temerosa- Ives Gandra da Silva Martins
- Jogo de palavras
- Luiz Garcia - Só para os outros
- Merval Pereira - Vitória política
- Míriam Leitão - Não adianta negar
- De novo, Angra 3 LAURA CAPRIGLIONE
- LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA Globalização comercial...
- FERNANDO RODRIGUES Razão e acomodação
- O contribuinte que se prepare
- Nivelando por baixo- Marcelo de Paiva Abreu
- Nem vai nem racha- Fernando de Barros e Silva
- Decadência sem elegância- Mário Magalhães
- Aliança perigosa
- A tentação chavista - Fábio Ulhoa Coelho
- PAC não ataca questão fiscal, diz Pastore
- Entrevista // Yeda Crusius
- LULA PERSEGUE NOVA REELEIÇÃO: AS PROVAS por Paulo ...
- AUGUSTO NUNES A CAPITULAÇÃO DOS FLAGELADOS
- AUGUSTO NUNES SETE DIAS JB
- FERREIRA GULLAR Pânico no jardim
- JOSÉ ALEXANDRE SCHEINKMAN Lula 2 x Lula 1
- PLÍNIO FRAGA Afeto que se encerra
- VALDO CRUZ Em nome de quem?
- CLÓVIS ROSSI -Moisés e as reformas
- MIRIAN LEITÂO Dois pontos
- MERVAL PEREIRA Reformas necessárias
- A 'quarentena' remunerada
- A agonia do Fórum Social Mundial
- As águas de Tom Jobim Daniel Piza
- Alberto Tamer Relançar Doha é conversa fiada
- Mailson da Nóbrega O Mercosul de Lula e a União E...
- Mailson da Nóbrega O Mercosul de Lula e a União E...
- O PAC esqueceu os excluídos Suely Caldas
- Dora Kramer Campeões morais
- Gaudêncio Torquato Um eterno recomeço
- Paulo Renato Souza Semana decisiva para o Brasil
- FERNANDO RODRIGUES Universo paralelo
- CLÓVIS ROSSI As duas cruzadas
- Fugindo das bolas divididas Jorge J. Okubaro
- Tema descabido
- DORA KRAMER Sem reforma, sem mais nada
- Miriam Leitão Fios desencapados
- MERVAL PEREIRA -Falsa questão
- VEJA Carta ao leitor
- MILLÔR
- Diogo Mainardi
- Roberto Pompeu de Toledo
- Lya Luft
- VEJA Entrevista: Delfim Netto
- Pesquisa VEJA/Ibope: os políticos no fundo do poço
- Controladores de vôo planejam novo caos aéreo
- Os tucanos tentam livrar o estado da calamidade
- As fraudes com as urnas eletrônicas
- Pacote não melhora a economia
- Líbano Hezbollah empurra o país para a guerra civil
- Israel O presidente é acusado de assédio e estupro
- Venezuela Chávez rasga jornal brasileiro e é apl...
- Bolívia Uma Marinha fora d'água
- Ecstasy atrai jovens da classe média para o tráfico
- Clint Eastwood, o maior ícone vivo do cinema
- Winston Churchill, de Stuart Ball
- Um déficit da Previdência caiu Vinícius Torres Freire
- PT anuncia "reflexão" mas mantém tudo como antes
- O crescimento da economia- Luiz Carlos Mendonça de...
- Infeliz aniversário- Barbara Gancia
- Justiça para todos - Nelson Motta
- Economia mundial ajudou o Brasil
- Corrida pelo álcool
- Ai dos vencidos!- Aldo Pereira
- Clóvis Rossi - Onde é mesmo a selva?
- Dora Kramer - Saída (quase) à francesa
- Luiz Garcia - Saindo e não voltando
- Merval Pereira - Sem competitividade
- Míriam Leitão - Até que ponto?
- Valdo Cruz - Independência, jamais
- Serra e os juros: "O Brasil precisa redescobrir o ...
- VINICIUS TORRES FREIRE Riso e ranger de dentes pós...
- PLÍNIO FRAGA Postar é...
- To PIB or not to PIB MELCHIADES FILHO
- CLÓVIS ROSSI Não é ainda caso de suicídio
- Roberto Macedo PAC - micro sem macro
- Alberto Tamer Com ou sem o PAC o mundo é belo
- DORA KRAMER Um barco a vagar
- Cora Ronai Brasil, o país mais caro do mundo
- Miriam Leitão Erros nada originais
- DEMÉTRIO MAGNOLI Sindicato de deputados
- CARLOS ALBERTO SARDENBERG Os vinhos no Chile
-
▼
janeiro
(447)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA