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Nos tempos tucanos de poder, o falecido Sergio Motta alertava para risco de o PSDB se transformar num “partido ônibus”, onde sempre cabe mais um e entra quem quer. Talvez nunca tenha lhe ocorrido que o partido, quando na companhia de vacas mais delgadas, poderia ser mais bem descrito se comparado a um barco. Daqueles à deriva, cujo rumo é definido pela direção do vento e o balanço das ondas.
Se na hipótese longínqua de os dois candidatos governistas à presidência da Câmara se enrolarem ao ponto de dar a vitória ao deputado tucano Gustavo Fruet é de se questionar se o PSDB estaria preparado para assumir o posto, se saberia o que fazer com ele, se tem um rumo bem definido a seguir ou se ficaria perdido em suas inconsistências, batendo cabeça entre as conveniências de seus caciques, pondo a perder mais uma chance de firmar posição como força política de contraponto no cenário da alternância de poder.
O andamento do espetáculo em cartaz desde a derrota de 2002 para o PT - com destaque para a última (e patética) cena de esperteza pueril travestida de respeito às regras do jogo da disputa na Câmara - não aconselha otimismos quanto ao sucesso da empreitada.
Os tucanos agora apóiam Fruet não por convicção nem por estratégia ou por decisão partidariamente amadurecida, muito menos por disposição de capitanear um processo de recuperação moral, política e profissional do Poder Legislativo.
Esta bandeira quem levantou foram os deputados Fernando Gabeira, Raul Jungmann, Luiza Erundina, Chico Alencar e Carlos Sampaio, só para citar os missionários mais antigos, e não adianta o PSDB querer se apropriar dela. Não convence.
O partido decidiu apoiar em bloco o correligionário porque foi forçado a isso: desvendados os acordos com o petista Arlindo Chinaglia, seus artífices não querem ser acusados de pôr azeitona na empada do PT.
Note-se que a preocupação é com as aparências, porque enquanto o PT assumia o compromisso de rechear os salgadinhos dos governadores de Minas Gerais e São Paulo, mas a combinação era segredo de bastidor, boa parte do PSDB não se importava de colaborar, mediante boa compensação.
Levantada a cortina, fizeram todos caras de bons moços, a começar pelos governadores Aécio Neves e José Serra, subitamente tomados de consciência cívica.
Não percebem que não estão para o PSDB assim como Lula sempre esteve para o PT. O partido não vai a lugar algum se se mantiver referido exclusivamente nos projetos eleitorais desta ou daquela liderança.
Desta vez puderam contar com a fidelidade do então líder da bancada na Câmara, Jutahy Magalhães Júnior, que pagou a conta sozinho. Mas nem sempre haverá um bode expiatório tão cordato à disposição.
Ao partido falta tutano. E, sobretudo, eixo. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso faz o que pode para organizar a tropa, mas, a não ser em situações altamente vexatórias, como a mais recente, não é ouvido em seus apelos por unidade de ação e produção de pensamento.
Na seara tucana cada um tem um projeto que se confronta com os planos dos demais. Como a filosofia não é de reverência a Deus, não há quem fale por todos. Quando falam é cada um por si, e ainda assim o tom é o do disfarce, o da acovardada fidalguia.
Nada mais eloqüente da alma tucana que a situação do presidente da legenda, Tasso Jereissati. A necessidade de removê-lo o quanto antes do posto é tratada aos murmúrios, de modo a não melindrar o senador que, no entanto, não se sentiu minimamente desconfortável em ferir suscetibilidades partidárias ao dizer em alto e bom som que seu candidato a presidente da República pode vir a ser Ciro Gomes, porque seu projeto de vida é bem servir ao Ceará.
O de Serra a São Paulo, o de Aécio aos mineiros, o de Jutahy à Bahia, e assim por diante seguem os tucanos em marcha batida para se transformar numa amorfa federação de interesses regionais, uma espécie de sub-PMDB.
Mensagem
Oficialmente, o governo brasileiro não assume que a introdução da afirmação democrática no discurso presidencial de apresentação do Programa de Aceleração do Crescimento tenha tido como objetivo marcar distância dos arreganhos autoritários de Hugo Chávez.
Admitir o recado seria um gesto de confronto com o venezuelano, o que não está posto no cenário político e diplomático, muito menos no cardápio pragmático das relações comerciais entre os dois países.
Mas a ressalva do presidente Lula de que “sacrifícios à democracia” como preço a pagar pelo crescimento econômico estão fora de cogitação não teve outra finalidade senão a de dissociar, perante o mundo, o Brasil da megalomania retrógrada de Chávez. Pela primeira, e alvissareira, vez.
Escribas
Desde o discurso de posse ficou evidente a melhora da qualidade (na forma) dos pronunciamentos presidenciais, confirmada na fala de apresentação do PAC.
Entrevista:O Estado inteligente
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