O Estado de S. Paulo |
26/1/2007 |
O senador Tasso Jereissati deve sair mesmo da presidência do PSDB antes do término oficial de seu mandato, no fim do ano. Oficialmente, está acometido de “falta de apetite” pelo cargo. Na realidade, perdeu a condição de ficar quando declarou no programa Roda Viva que admitia a hipótese de apoiar Ciro Gomes, do PSB, na eleição presidencial de 2010. Naquele momento extinguiram-se quaisquer resquícios de confiança em Tasso Jereissati dentro do partido, que não apenas é o único a ter desde já candidato à sucessão do presidente Luiz Inácio da Silva, como tem dois, e logo os governadores de São Paulo e Minas Gerais. O hipotético candidato de Jereissati, além de ser considerado como uma espécie de inimigo número 1 do PSDB nacional, é aliado de Lula, tido como uma alternativa do presidente para a eleição de daqui a quatro anos. Tasso Jereissati é o terceiro presidente do partido que deixa o cargo antecipadamente em menos de quatro anos. Desde novembro de 2005, Jereissati substitui Eduardo Azeredo, que assumiu o lugar de José Serra quando o hoje governador de São Paulo foi eleito prefeito, em 2004. Embora a saída do atual presidente seja um assunto tratado como resolvido, a sucessão dele continua em aberto. “Quem?” é a pergunta recorrente entre tucanos, que só estariam de acordo se Fernando Henrique Cardoso aceitasse assumir. Ele não quer. Prefere a condição de conselheiro-mor. Geraldo Alckmin sofre pesadas restrições do grupo de Serra e não se enxerga dentro do partido alguém que alie autoridade interna com peso político externo suficiente para garantir repercussão às ações do PSDB. Neste aspecto, há quem argumente em favor dos 40 milhões de votos obtidos por Alckmin na eleição. No ambiente de dificuldade geral, pode acabar mesmo sobrando para o senador Sérgio Guerra, cujas credenciais são consideradas insuficientes para as pretensões tucanas. A atuação dele como coordenador da campanha presidencial de Alckmin tampouco é tida como recomendável a um partido necessitado de construir vitórias, buscar a unidade e produzir idéias. Para todos os efeitos, Tasso Jereissati sairá da presidência por iniciativa própria. À moda tucana, terá todas as honras e será tudo feito na maior educação. Ele mesmo tratará de antecipar a convocação do congresso do partido - marcado inicialmente para o segundo semestre, com a finalidade de discutir o caminho futuro e resolver a crise presente do PSDB - e apresentará suas despedidas. O episódio gota d’água acirrou as críticas ao senador, explicitou uma situação complicada e acabou facilitando a vida dos que apontam a inadequação da presença de um presidente que em seu próprio Estado não só perdeu a eleição, como viu os cinco deputados federais do PSDB saírem do partido rumo à área de influência de Ciro Gomes. Além disso, os deputados reclamam de Tasso Jereissati se dedicar inteiramente ao Senado, ficando indiferente à Câmara. Faz sentido. O recente constrangimento do apoio oferecido ao PT para a presidência da Câmara pegou o senador de surpresa, em férias na Europa. Mas, se o PSDB está insatisfeito com a atuação de Tasso Jereissati, a recíproca também é verdadeira. O senador não anda exatamente em fase de amor profundo pelo jeito tucano de ser. Bloco PSDB e PPS estão conversando sobre a possibilidade de formação de um bloco parlamentar na Câmara. Os tucanos têm 64 deputados federais, o PPS elegeu 22 e por enquanto está com 20, mas, pelas últimas contas, pode ficar reduzido a 17. Se os dois chegarem a um acordo, na pior das hipóteses somarão 81 parlamentares, o suficiente para disputar com o PT a condição de segunda maior bancada. Dependência crônica O deputado Gustavo Fruet acerta no diagnóstico, mas prega quase no deserto ao levantar a bandeira da autonomia do Legislativo em relação ao Executivo para um público dependente crônico das ordens e dos favores do poder central. Para a maioria, a referência na atividade legislativa não é o eleitor, mas o governo. A visita semanal “às bases”, a luta pela liberação de recursos do Orçamento, a atenção voltada para o público na campanha eleitoral dizem respeito à necessidade de sobrevivência de quem precisa de votos. Quando defende a independência, Fruet fala da preservação institucional do País, questão distante da agenda do público-alvo do deputado. Uso da máquina O seminário patrocinado pelo presidente da Câmara, Aldo Rebelo, onde dará palestra para orientar os novatos dois dias antes da eleição na qual concorre à reeleição, não é um ato inocente. Além de os concorrentes não terem a mesma prerrogativa, o que caracteriza desigualdade de condições, o seminário poderia ser feito em qualquer momento entre posse e o início efetivo da legislatura, 15 dias depois. |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, janeiro 26, 2007
Dora Kramer - Saída (quase) à francesa
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