Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Decadência sem elegância- Mário Magalhães




Folha de S. Paulo
29/1/2007

Tristes almas as que, a pretexto de cultivar o passado, se alimentam da aversão ao novo. Que resmungam "ah, no meu tempo..." a cada amanhecer, como se não fosse hoje o seu tempo. Pobre do reacionarismo de quem já morreu e não sabe. De quem não vê no sol nascente a poesia luminosa de outrora.
Não se filia ao saudosismo, contudo, o cotejo dos dias presentes com os que já se foram. Ossos do ofício, ouvi a fita de um embate na Câmara nos idos de fevereiro de 1964.
O trabalhista Almino Affonso praguejava contra manifestantes que impediram um evento pelas reformas de base. A oposição, o udenista Adauto Lúcio Cardoso à frente, amaldiçoava o governo Jango. Duelo brilhante. Adauto não falava como Carlos Lacerda, e talvez Almino não estivesse à altura da verve de Leonel Brizola, a despeito do gatilho dos seus argumentos parecer mais rápido. Mas eram deputados bons demais. Havia outros.
Lembrei-me do avesso, os discursos medíocres de Aldo Rebelo e José Thomaz Nonô na última disputa da Câmara. Beira a covardia comparar a turma atual com bancadas como a da Constituinte de 1946. Sem eleição para os Executivos estaduais, a elite política -à esquerda e à direita- concorreu. Agora o plenário é socialmente mais democrático, mas exagera na indigência de mentes e costumes.
Na velha gravação sobressai o homem cordial. Ao pedido de aparte para fustigá-lo, Almino concede: "Vossa Excelência acorre tão cedo que já é uma alegria para mim". Hoje o presidente da Casa pronuncia tolices como "voto se colhe na urna, e não em cacho de banana". Ao contrário da antiga música de Lobão, a tamanha decadência nem a elegância sobreviveu.

mariomagalhaes@folhasp.com.br

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