Entrevista:O Estado inteligente

sábado, maio 02, 2009

Nelson Motta -O fator humano

O GLOBO

Em 1970, depois de oito anos fora do Brasil, João Gilberto voltou ao Rio de Janeiro para (não) fazer um show no Canecão.

E aceitou dar uma entrevista para a TV Globo. Jovem repórter, fui designado para entrevistá-lo. Nesse tempo, as reportagens dos telejornais ainda eram filmadas em película e em preto e branco. Dada a importância da matéria, que entraria no Jornal Nacional, me acompanhava o melhor cinegrafista da casa.

Às cinco da tarde, começamos a entrevista, com João muito simpático e à vontade, feliz por estar de novo no Brasil, “respondendo” daquele seu jeito não muito loquaz, mas sempre divertido e inteligente. Rodamos dez minutos preciosos e corremos para a emissora, de posse da única entrevista jamais dada por João Gilberto a uma televisão.

Fiquei na porta do laboratório, esperando o filme ser revelado. Para ver e crer no milagre. Meia hora depois, o laboratorista me entregou um rolo de cem metros de celuloide sem qualquer imagem ou som gravados: o filme estava velado.

Em 1993, gravamos o programa de estreia do “Manhattan Connection” em um estúdio high-tech de Nova York, com uma equipe técnica toda de americanos. Quando terminamos a gravação, depois de uma hora de debates acalorados, o diretor disse pelo interfone que lamentava muito, mas alguém errara de botão e nada fora gravado. Pensamos que era um daqueles “practical jokes” sem graça que americanos adoram. Mas era verdade. Como gravar de novo um programa de debates? Fomos salvos por Paulo Francis, que, com dureza germânica, mandou recomeçar imediatamente. E, por incrível que pareça, talvez porque já estávamos aquecidos, foi até mais animado do que o perdido.

No ano passado, num superestúdio da TV Globo, com treze câmeras digitais rodando simultaneamente, gravamos uma hora de entrevista com Roberto Carlos e Caetano Veloso, tudo muito informal, cantarolando músicas, como uma reunião de velhos amigos. Mas, surpresa: só uma câmera havia gravado. O diretor Roberto Talma manteve a calma, Caetano e Roberto, em silêncio, voltaram para os camarins, meia hora depois recomeçamos. E saiu melhor do que a primeira.

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