Entrevista:O Estado inteligente

domingo, maio 03, 2009

Ficou para depois Celso Ming

O anúncio dos resultados dos testes de estresse a que estão submetidos 19 bancos americanos deve ser adiado, o que reflete os novos conflitos de interesses com que o governo Obama tem de lidar.



Para entender do que se trata é preciso voltar ao início de fevereiro, quando o secretário do Tesouro americano, Tim Geithner, avisou que a capitalização com dinheiro público dos bancos americanos, epicentro da enorme crise financeira que varre o mundo, só seria feita depois que fossem submetidos a testes de estresse para saber de quanto capital de fato necessitam.



Para quem não está habituado com essas técnicas de administração, teste de estresse é uma simulação que avalia quanto calote uma instituição pode suportar. Primeiro, definem-se os cenários macroeconômicos que devem determinar o nível de inadimplência a que um estoque de dívidas vai ser submetido: recessão, desemprego, evolução dos preços dos ativos (imóveis, ações, títulos). Em seguida, avalia-se, segmento por segmento, o risco de calote propriamente dito. E, finalmente, vê-se qual é o nível de exposição de cada banco a esse risco.



Bancos sem condições de aguentar o repuxo deverão repassar para o setor privado suas aplicações (ativos) que encontrarem comprador. Se essa liquidação não for suficiente para garantir a saúde patrimonial, o banco receberá capital do Tesouro, o que implica alguma estatização.



Os 19 bancos submetidos ao teste sob supervisão do banco central americano, o Fed, correspondem a quase 70% dos ativos bancários e a mais de 50% do crédito nos Estados Unidos.



O secretário Geithner disse há 10 dias que os resultados preliminares mostram que a maioria deles não vai precisar de mais capital. Mas isso não chegou a tranquilizar o mercado porque na minoria necessitada de transfusão de sangue novo podem estar alguns bancões que pesam mais como símbolo do que como fatia de mercado - que seriam os casos do Citigroup, do Bank of America e do Goldman Sachs. Na semana passada, informações não oficiais sinalizaram que seis bancos precisarão de injeção de capital.



O adiamento da divulgação mostra que o governo americano ainda não sabe como tratar o problema. De um lado, as autoridades têm de garantir transparência numa operação que causou muito atrito político. De outro, não podem deixar que informações delicadas criem mais desconfiança sobre a situação dos bancos, derrubem preços das ações e, eventualmente, promovam uma corrida aos depósitos.



Os administradores dos bancos apresentam outro tipo de objeção: o de que seria um despropósito mudar a estrutura acionária de bancos com base em pressupostos (cenários) com pouca probabilidade de acontecer.



Por aí se vê que os bancos estão manobrando para evitar a intervenção. No entanto, as pressões contra eles são enormes. Estão sendo apontados como os causadores da maior crise financeira desde os anos 30. Os políticos são diariamente questionados sobre as razões que os levam a salvar, com enorme sacrifício do contribuinte, instituições irresponsáveis. A solução do problema pode esperar um pouco mais, mas não pode ser indefinidamente adiada. O presidente Obama vai precisar arbitrar rapidamente sobre o que tem de ser feito.

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