Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, abril 04, 2008

Dilma enrolou, enrolou e... enrolou

por Ricardo Noblat -
4.4.2008
| 18h18m
Comentário

Dilma enrolou, enrolou e... enrolou

Foi uma entrevista que nada esclareceu, essa da ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, a propósito de reportagem publicada, hoje, pela Folha de São Paulo (leia notas a respeito mais abaixo). Ela estava visivelmente nervosa. E não conseguiu disfarçar o tom arrogante que costuma imprimir ao que diz.

Registre-se também que foi pífio o desempenho dos jornalistas reunidos para entrevistá-la. Perguntaram pouco. E poucas foram as perguntas de fato pertinentes e destinadas a jogar luz sobre determinados aspectos do episódio.

Dilma insistiu em negar que tenha sido montado um dossiê sobre despesas do período de governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. E negou que tal dossiê (ela evita pronunciar esse nome) se destinasse a constranger ou chantagear quem quer que fosse. Insinuou que ele serve aos propósitos de quem não se conforma com a boa performance do governo e com a situação favorável da economia.

Admitiu, com base no que ouviu de assessores, que 90% dos casos de vazamentos de informações se devem à ação de quem tem acesso às informações. Ou seja: indiretamente quis dizer que é forte a possibilidade de algum funcionário da Casa Civil ter fornecido as informações ou montado o que nós, os idiotas, insistimos em chamar de dossiê.

Mas não revelou quantos funcionários da Casa Civil têm acesso ao banco de dados de onde foram extraídas as informações reunidas no dossiê. Muito menos, é claro, citou o nome de qualquer um deles.

Para Dilma, o dossiê (perdão: documento montado com informações vazadas de dentro da Casa Civil) não passa da "escandalização do nada". A expressão "escandalização do nada" foi cunhada pelo ministro Jorge Hage, da Controladoria Geral da União. Caiu no gosto dos colegas dele. Já, já, vai acabar rivalizando com outras expressões originais como "Nunca antes na história deste países" e "Eu não sabia".

É claro que a ministra prometeu investigar "com rigor" o que de fato aconteceu. (Imaginei que isso já estivesse sendo feito.) E até se dispos a conversar com Tarso Genro, ministro da Justiça, "para avaliar" o que fazer daqui por diante. Tarso disse mais cedo que a Polícia Federal entrará no caso "se alguma autoridade solicitar". Dilma é autoridade, por suposto.

A eventual entrada em cena da Polícia Federal não significará grande coisa. Ela foi acionada pelo governo para apurar no segundo semestre de 2006 o caso do "Dossiê dos Aloprados" - a tentativa de se prejudicar a campanha de José Serra (PSDB) ao governo de São Paulo e de Geraldo Alckmin (PSDB) à presidência da República por meio da divulgação de falsas informações contra eles.

Os "aloprados", assim chamados por Lula, eram funcionários do comitê de campanha dele. O coordenador da campanha era o atual presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini. O caso teve mala de dinheiro, encontros secretos em Cuiabá e em São Paulo, prisão de bagrinhos flagrados em ação - mas ao fim e ao cabo ficou por isso mesmo. A Polícia Federal não conseguiu desvendar a autoria do crime.

Se o que hoje foi publicado pela Folha não contribuir para garantir uma sobrevida à CPI Mista do Cartão Corporativo formada por senadores e deputados, é possível que sirva para desentocar a proposta de criação de uma CPI similar restrita ao Senado. Ali a maioria de votos do governo é escassa.

Arquivo do blog