Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, abril 22, 2008

A vitória de Lugo

Folha de S.Paulo EDITORIAL
ESBOROOU-SE no pleito presidencial de domingo, após seis décadas, a hegemonia do Partido Colorado no Paraguai. O ambiente de normalidade democrática em que se deu a vitória do ex-bispo católico Fernando Lugo -logo reconhecida por seus principais adversários- é um fato a ser louvado, levando em conta o turbulento histórico do país vizinho.
Endossado por um arquipélago de partidos de variadas tendências, o oposicionista Lugo foi o depositário das frustrações e do desgaste acumulados ao longo do mando colorado, cujas marcas foram a corrupção, a instabilidade, a violência política e a ineficiência administrativa.
Com cerca de 6 milhões de habitantes, o Paraguai tem os piores indicadores de qualidade de vida da América do Sul depois da Bolívia. Segundo a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), 60% dos paraguaios estavam abaixo da linha da pobreza em 2005. Mais da metade desse contingente vivia em situação de pobreza extrema, com dificuldades de adquirir o suficiente para a subsistência.
Todo esse mal-estar social foi, obviamente, capitalizado pela campanha de Fernando Lugo, mas não foi lançado apenas na conta dos 61 anos de governo colorado. Sobrou para o Brasil, acusado de espoliar o Paraguai, principalmente pelo do Tratado de Itaipu, de 1973, que assegura a venda ao Brasil, a preço de custo, de toda a energia não consumida pelo Paraguai -cada país tem direito a metade da eletricidade gerada pela binacional.
O presidente eleito quer quintuplicar os US$ 375 milhões anuais que o Brasil envia ao vizinho, a título de royalties e remuneração pela energia excedente do Paraguai, que só usa 10% de sua cota em Itaipu. "El que pide al cielo y pide poco, es un loco", afirma o ditado. Lugo pode pedir o que quiser, mas sabe que as chances de o Brasil modificar o tratado são ínfimas.
A energia a preço de custo, cláusula que vigorará até 2023, é um modo de o Paraguai compensar o Brasil, que bancou 100% do investimento para a construção de Itaipu. A despeito disso, Brasília pode cooperar com Assunção -até no âmbito do Mercosul- num plano para levar investimentos ao país vizinho, a fim de que os paraguaios tirem mais proveito da energia que hoje deixam de consumir.

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