Entrevista:O Estado inteligente

sábado, abril 26, 2008

Pós-Guerra, de Tony Judt

O continente do século XXI

No admirável Pós-Guerra, o inglês Tony Judt
traça um amplo painel da história recente,
do início da Guerra Fria à União Européia


Rinaldo Gama

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Trecho do livro

Ser contemporâneo dos fatos que pretende estudar pode representar uma perigosa armadilha para o historiador. Apesar de saber disso, muitas vezes ele não resiste ao empuxo de certos episódios do presente, que saltam da condição de meros acontecimentos para se alojar no patamar da história. Foi o que ocorreu em 1989 com o inglês Tony Judt – um intelectual londrino formado no King’s College e na École Normale Supérieure, e hoje professor titular de estudos europeus na New York University. Enquanto fazia uma baldeação no movimentado terminal ferroviário de Viena, proveniente de Praga, Judt teve a idéia de escrever um livro que sintetizasse a história européia entre 1945, quando as forças aliadas venceram o embate contra as potências do Eixo, e os tumultuados dias que estava vivendo. A inspiração não era gratuita – na capital checa, ele acabara de presenciar a derrocada do regime comunista. A resposta de Judt ao seu próprio desafio veio à tona em 2005 sob a forma do extraordinário Pós-Guerra – Uma História da Europa desde 1945 (tradução de José Roberto O’Shea; 880 páginas; Objetiva; 79,90 reais), que chega agora às livrarias brasileiras.

O historiador reconstitui um período complexo e decisivo – sessenta anos de história, da derrota do nazi-fascismo à consolidação da União Européia, passando pelos anos da Guerra Fria – em um texto fluente e esclarecedor. Didático, ele se demora nos capítulos referentes aos projetos de reconstrução da Europa, uma terra devastada em 1945, com recursos do bem urdido Plano Marshall (1948-1951). Segundo Judt, para os europeus, o maior impacto do programa difundido pelo ex-secretário de estado americano George Marshall foi psicológico – a confiança na idéia de que era possível recomeçar –, embora os gastos tenham chegado a 13 bilhões de dólares (hoje, calcula o historiador, seriam 200 bilhões). Nesse vasto painel histórico, o ponto forte é o relato da desintegração do comunismo na Europa, que culminou com o desaparecimento da União Soviética. Ao contrário de historiadores como o americano John Lewis Gaddis, notável estudioso da Guerra Fria, Judt não atribui a Ronald Reagan nem ao papa João Paulo II o lugar de atores-chave da debacle comunista. Para o autor de Pós-Guerra, a figura central do processo foi o ex-líder soviético Mikhail Gorbachev. "Ele não planejou os eventos e apenas vagamente entendia a importância dos fatos a longo prazo. Mas permitiu e precipitou os acontecimentos", enfatiza Judt, convencido de que os Estados Unidos não derrubaram o comunismo – ele "implodiu sozinho".

Pós-Guerra, adverte modestamente o autor, não traz nenhuma "grande teoria" a respeito da Europa atual. Mas mostra como o continente outrora imperialista forjou um novo modelo político, econômico e social que, consubstanciado na instituição da União Européia, pretende servir de parâmetro para o resto do planeta. Esse "modelo europeu" contempla mecanismos para regular as relações (muitas vezes complicadas) entre os diferentes estados-membros e, sobretudo, tenta conciliar o poder do estado e a liberdade econômica, numa alternativa ao liberalismo mais ortodoxo do "modelo americano" – assim como o estilo de vida à moda européia rivaliza com o american way of life. Se tal fórmula for bem-sucedida, é possível que "o século XXI seja o da Europa", diz Judt. Otimista em relação à força da história, o autor faz uma profissão de fé na ciência a que se dedica: "Se em anos vindouros quisermos nos lembrar por que nos pareceu tão importante construir um determinado tipo de Europa a partir dos crematórios de Auschwitz, somente a história poderá nos ajudar. A União Européia pode ser uma resposta à história, mas jamais poderá ser uma substituta", ensina.

Três faces da Europa

Avaliações do historiador Tony Judt sobre líderes
que marcaram a segunda metade do século XX

Charles de Gaulle, presidente da França de 1958 a 1969
"Tinha um estilo tradicional e um declarado descaso pelos detalhes do planejamento econômico. Os adversários atacaram a maneira pela qual o general exercera o poder, mas os recursos e ornamentos de um poder presidencial irrestrito agradaram aos sucessores do general, de todas as inclinações políticas."

Hulton Archive/Getty Images
Margaret Thatcher, primeira-ministra da Inglaterra de 1979 a 1990
"Seu fascínio era inegável. Uma surpreendente variedade de estadistas durões confessava, extra-oficialmente, achá-la sensual. François Mitterrand, bem versado no assunto, a descreveu como tendo ‘olhos de Calígula e boca de Marilyn Monroe’."
Mikhail Gorbachev, o último secretário-geral do partido comunista soviético, de 1985 a 1991
"O feito de Gorbachev foi inusitado. Nenhum outro império registrado pela história abandonou seus domínios de maneira tão súbita. A Gorbachev, diretamente, não pode ser atribuído o crédito pelo que ocorreu em 1989. Mas ele precipitou os acontecimentos. Foi a revolução de Gorbachev."
François Lochon/Time Life Pictures/Getty Images

LIVROS

Trecho Pós-Guerra,
de Tony Judt

I
O Legado da Guerra

"Não foi uma decadência lenta que se abateu sobre o mundo europeu — outras civilizações tombaram e ruíram, a civilização européia foi, por assim dizer, explodida."
H. G. Wells, A Guerra no Ar (1908)

"O problema humano que a guerra vai deixar atrás de si ainda não foi sequer imaginado, muito menos enfrentado por quem quer que seja. Jamais houve tamanha destruição, tamanha desintegração da estrutura da vida."
Anne O’Hare McCormick

"Por toda parte existe uma ânsia por milagres e curas. A guerra empurrou os napolitanos de volta para a Idade Média."
Norman Lewis, Nápoles ’44

Na seqüência da Segunda Guerra Mundial, a perspectiva da Europa era de miséria e desolação total. Fotografias e documentários da época mostram fluxos patéticos de civis impotentes atravessando paisagens arrasadas, com cidades destruídas e campos áridos. Crianças órfãs perambulam melancólicas, passando por grupos de mulheres exaustas que reviram montes de entulho. Deportados e prisioneiros de campos de concentração, com as cabeças raspadas e vestindo pijamas listrados, fitam a câmera, com indiferença, famintos e doentes. Até os bondes parecem traumatizados — impulsionados por corrente elétrica intermitente, aos trancos, ao longo de trilhos danificados. Tudo e todos — exceto as bem nutridas forças aliadas de ocupação — parecem surrados, desprovidos de recursos, exauridos.

Essa imagem precisa ser matizada, se pretendermos entender como o continente arrasado foi capaz de se recuperar tão rapidamente nos anos seguintes. Mas a imagem expressa uma verdade essencial sobre a condição da Europa após a derrota da Alemanha. Os europeus sentiam-se, de fato, desesperançados, e estavam exaustos — e tinham motivos para tal. A guerra européia que teve início com a invasão da Polônia por Hitler, em setembro de 1939, e terminou com a rendição incondicional da Alemanha, em maio de 1945, foi uma guerra total. Envolveu civis e militares.

Na verdade, nos países ocupados pela Alemanha nazista, da França à Ucrânia, da Noruega à Grécia, a Segunda Guerra Mundial constituiu uma experiência primordialmente civil. O combate militar formal ficou restrito ao início e ao final do conflito. Entre esses dois momentos, a guerra foi caracterizada pela ocupação, repressão, exploração e pelo extermínio, em que soldados, tropas de assalto e policiais dispunham das rotinas e das vidas de milhões de prisioneiros. Em alguns países a ocupação durou quase todo o período da guerra; em todos onde se fez presente espalhou medo e privação.

À diferença da Primeira Guerra, então, a Segunda — a guerra de Hitler — foi uma experiência quase universal. E durou muito tempo — perto de seis anos, para os países que nela se engajaram do começo ao fim (Grã-Bretanha e Alemanha). Na Tchecoslováquia começou ainda antes, com a ocupação nazista da região dos Sudetos, em outubro de 1938. No Leste Europeu e nos Bálcãs, o conflito não terminou com a derrota de Hitler, pois a ocupação (pelo exército soviético) e a guerra civil continuaram até muito tempo depois do desmembramento da Alemanha.

Evidentemente, guerras de ocupação não eram desconhecidas na Europa. Longe disso. Lembranças da Guerra dos Trinta Anos, na Alemanha seiscentista, quando exércitos de mercenários estrangeiros sobreviveram à custa da terra e aterrorizaram a população local, sobreviviam, três séculos mais tarde, em mitos regionais e contos de fadas. Na década de 1930, na Espanha, avós ainda ralhavam com crianças travessas invocando a ameaça de Napoleão. Mas a experiência de ocupação durante a Segunda Guerra Mundial se caracterizou por uma intensidade própria. Em parte, isso ocorreu devido à peculiar atitude nazista diante das populações dominadas.

Anteriormente, exércitos de ocupação — suecos, na Alemanha no século XVII; prussianos, na França, depois de 1815 — viviam da terra e atacavam e matavam civis ocasional e aleatoriamente. Mas os povos submetidos ao comando germânico depois de 1939 ou foram obrigados a servir ao Reich ou então foram marcados para o extermínio. Para os europeus, tratava-se de uma nova experiência. Nas colônias ultramarinas, os Estados europeus tiveram por hábito contratar ou escravizar as populações nativas, para o benefício da metrópole. Não se abstiveram de recorrer à tortura, mutilação ou chacinas, a fim de coagir as vítimas a obedecer. Contudo, desde o século XVIII, tais práticas eram, de modo geral, desconhecidas dos europeus, ao menos a oeste dos rios Bug e Prut.

Foi, portanto, na Segunda Guerra Mundial que, pela primeira vez, foi mobilizado todo o poderio do Estado europeu moderno, e com o objetivo principal de conquistar e explorar outros europeus. Para lutar e vencer a guerra, os britânicos exploraram e pilharam seus próprios recursos: no final do conflito, a Grã-Bretanha gastava mais da metade do seu Produto Interno Bruto no esforço de guerra. A Alemanha nazista, entretanto, guerreou — especialmente nos anos finais — com o auxílio decisivo das economias saqueadas das vítimas (assim como procedera Napoleão, depois de 1805, embora com uma eficiência incomparavelmente maior). Noruega, Holanda, Bélgica, Boêmia-Morávia e, de modo especial, França fizeram grandes contribuições involuntárias ao esforço de guerra alemão. Minas, fábricas, fazendas e estradas de ferro desses países foram destinadas a atender às exigências da Alemanha, e as respectivas populações viram-se obrigadas a trabalhar em prol da produção bélica germânica: inicialmente, em seus próprios países; mais tarde, em solo alemão. Em setembro de 1944, havia na Alemanha 7.487.000 estrangeiros, a maioria dos quais forçada a permanecer no país, e o referido contingente constituía 21% da força total de trabalho.

Os nazistas viveram o máximo que puderam à custa da riqueza das vítimas — e foram tão bem-sucedidos que somente em 1944 a população civil alemã começou a sentir o impacto de restrições e da escassez típicas de épocas de guerra. Àquela altura, todavia, o conflito militar fechava o cerco em torno da mencionada população civil, primeiramente pela ação dos bombardeios e, em seguida, pelo avanço simultâneo dos exércitos Aliados, a partir do leste e do oeste. E foi naquele último ano do conflito, durante o período relativamente breve da campanha realizada a oeste da União Soviética, que o pior da destruição física aconteceu.

Sob o ponto de vista dos contemporâneos, o impacto da guerra não foi aferido em termos de lucros e perdas da indústria ou valor líquido do patrimônio nacional em 1945 em comparação com o de 1938, mas em termos dos prejuízos visíveis ao meio ambiente e às comunidades. É com essas questões que devemos começar, se quisermos compreender o trauma que estava por trás das imagens de desolação e desesperança que atraíram a atenção dos observadores em 1945.

Poucas aldeias e cidades européias, a despeito do seu tamanho, conseguiram escapar ilesas da guerra. Por um acordo informal, ou por sorte, os centros clássicos, medievais e renascentistas de algumas célebres cidades européias — Roma, Veneza, Praga, Paris, Oxford — jamais foram alvejados. Mas, no primeiro ano da guerra, bombardeiros alemães arrasaram Roterdã e destruíram Coventry, cidade industrial inglesa. A Wehrmacht riscou do mapa muitos vilarejos nas rotas de invasão através da Polônia e, mais tarde, também da Iugoslávia e da União Soviética. Bairros inteiros no centro de Londres, sobretudo nas áreas pobres em torno das docas do East End, foram vítimas da blitzkrieg da Luftwaffe no decorrer da guerra. Mas o maior dano material foi causado pelos bombardeios sem precedentes realizados pelos Aliados ocidentais em 1944 e 1945 e pelo avanço implacável do Exército Vermelho, desde Stalingrado até Praga. As cidades litorâneas francesas de Royan, Le Havre e Caen foram estripadas pela Força Aérea Norte-Americana. Hamburgo, Colônia, Dusseldorf, Dresden e dezenas de outras cidades alemãs foram arrasadas pelas bombas múltiplas lançadas de aviões britânicos e norte-americanos. No Leste Europeu, 80% da cidade de Minsk, na Bielo-Rússia, estavam destruídos ao final da guerra; Kiev, na Ucrânia, era uma grande ruína ardendo a fogo lento; e, no outono de 1944, Varsóvia, a capital polonesa, foi incendiada e dinamitada, casa por casa, rua por rua, pelo Exército alemão em retirada. Quando a guerra na Europa acabou — quando Berlim caiu nas mãos do Exército Vermelho, em maio de 1945, depois de agüentar 40 mil toneladas de bombas nos 14 dias finais —, grande parte da capital alemã estava reduzida a montes de escombros e metal retorcido soltando fumaça. Dos prédios da cidade, 75% estavam inabitáveis.

As cidades em ruínas eram a prova mais evidente — e captada em fotografias — da devastação, e passaram a servir de uma espécie de emblema que expressava a tristeza da guerra. Uma vez que a maior parte da destruição fora imposta a casas e prédios residenciais e que, conseqüentemente, era imenso o número de sem-teto (estimativas apontavam 25 milhões na União Soviética; 20 milhões na Alemanha, dos quais 500 mil só em Hamburgo), a paisagem urbana coberta de escombros constituía a lembrança mais imediata da guerra recém-acabada. Mas não era a única. No Oeste Europeu, os sistemas de transportes e comunicação estavam seriamente avariados: das 12 mil locomotivas existentes na França antes da guerra, apenas 2.800 funcionavam quando da rendição alemã. Muitas rodovias, ferrovias e pontes tinham sido explodidas — fosse pelos alemães em retirada, pelo avanço dos Aliados ou, ainda, por ações da Resistência Francesa. Dois terços da frota mercante francesa tinham sido afundados. Somente em 1944 e 1945 a França perdeu 500 mil residências.

Mas os franceses — tanto quanto os britânicos, belgas, holandeses (que perderam 219 mil hectares de terras inundadas pelos alemães e que, se levarmos em conta a situação do país antes da guerra, viram, em 1945, sua rede de transportes ferroviários, rodoviários e aquáticos por meio de canais reduzida a 40% do que era), dinamarqueses, noruegueses (que no decurso da ocupação alemã perderam 14% do capital do país antes da guerra) e até italianos — tiveram sorte, embora não soubessem disso. Os verdadeiros horrores da guerra ocorreram mais a leste. Os nazistas trataram os europeus ocidentais com certo respeito, ainda que para melhor poder explorá-los, e os europeus ocidentais retribuíram a deferência fazendo relativamente pouco para atrapalhar o esforço de guerra alemão. No Leste e Sudeste Europeu, as forças de ocupação alemãs foram impiedosas, e não apenas porque a resistência local — na Grécia, na Iugoslávia e na Ucrânia, especialmente — travava contra elas uma batalha tão incansável quanto inútil.

No Leste Europeu, as conseqüências materiais da ocupação alemã, do avanço soviético e da ação da resistência foram, portanto, de ordem bastante diversa em relação à experiência da guerra no Ocidente. Na União Soviética, 70 mil vilarejos e 1.700 cidades de pequeno porte foram destruídos durante a guerra, além de 32 mil fábricas e 64 mil quilômetros de ferrovias. Na Grécia, dois terços da frota da Marinha Mercante, vital para o país, foram perdidos, um terço das florestas foi arrasado e milhares de vilarejos foram riscados do mapa. Entrementes, a política alemã de fixar o custo da ocupação de acordo com as necessidades germânicas e não com a capacidade de desembolso dos gregos provocou hiperinflação.

A Iugoslávia perdeu 25% dos seus vinhedos, 50% do gado, 60% das estradas, 75% das terras cultivadas e das pontes em vias férreas, uma em cada cinco residências, bem como a terça parte do limitado potencial da indústria do país — além de 10% da população que existia antes da guerra. Na Polônia, três quartos das ferrovias de bitola padrão ficaram imprestáveis, e uma fazenda em cada seis faliu. A maioria dos vilarejos e cidades do país mal podia funcionar (ainda que somente Varsóvia estivesse totalmente destruída).

No entanto, esses números, por mais dramáticos que sejam, exprimem apenas parte do cenário: o lúgubre pano de fundo "físico". As perdas materiais sofridas pelos europeus durante a guerra, por mais terrível que tenha sido o conflito, foram insignificantes, comparadas às perdas humanas. Estima-se que cerca de 36,5 milhões de europeus sucumbiram, entre 1939 e 1945, de causas relacionadas com a guerra (o que equivale à totalidade da população da França quando o conflito eclodiu) — número que não inclui mortes naturais nos anos em questão, tampouco qualquer estimativa da quantidade de crianças não-concebidas ou que deixaram de nascer, à época e mais tarde, em conseqüência do confronto.

O número total de mortos é assombroso (os cálculos aqui apresentados não incluem baixas de japoneses, norte-americanos, nem de povos não-europeus). Essa estatística torna pequeno o índice de mortandade registrado na Grande Guerra de 1914-1918, já absolutamente vergonhoso. Conflito algum registrado pela História matou tanta gente em tão pouco tempo. Porém, o mais impactante é o número de mortos entre os civis não-combatentes: ao menos 19 milhões, ou seja, mais da metade do total. O número de mortos entre a população civil superou as baixas militares na União Soviética, Hungria, Polônia, Iugoslávia, Grécia, França, Holanda, Bélgica e Noruega. Somente no Reino Unido e na Alemanha as baixas militares superaram significativamente as baixas entre civis.

As estimativas de perda de vidas civis no território da União Soviética variam muito, embora o número mais provável exceda 16 milhões (aproximadamente o dobro do total de baixas militares, sendo que estas, somente na batalha por Berlim, somaram 78 mil). O total de mortes de civis no território que antes da guerra pertencia à Polônia chegou perto de 5 milhões; na Iugoslávia o número total foi de 1,4 milhão; na Grécia, 430 mil; na França, 350 mil; na Hungria, 270 mil; na Holanda, 204 mil; na Romênia, 200 mil. Entre esses civis, e sobretudo nas estatísticas relativas à Polônia, Holanda e Hungria, estão incluídos 5,7 milhões de judeus, aos quais devem ser somados 221 mil ciganos.

As causas das mortes de civis incluíam massacres em campos de extermínio e campos de batalha, desde Odessa até o Báltico; doenças, subnutrição e fome (induzidas ou não); fuzilamento ou incineração de reféns — pela Wehrmacht, pelo Exército Vermelho e por integrantes de diversas resistências; represálias; conseqüências de explosões, bombardeios e batalhas travadas pela infantaria, em campos e cidades, na frente oriental durante toda a guerra, e na frente ocidental desde o desembarque na Normandia (em junho de 1944) até a derrota de Hitler, em maio do ano seguinte; fuzilamento de filas de refugiados e o sacrifício de indivíduos submetidos a trabalho forçado em indústrias e campos de prisioneiros de guerra.

As maiores baixas militares foram registradas pela União Soviética, que, segundo consta, perdeu 8,6 milhões de homens e mulheres nas Forças Armadas; pela Alemanha, com 4 milhões de mortes; pela Itália, que perdeu 400 mil soldados, marinheiros e aeronautas; e pela Romênia, que perdeu cerca de 300 mil militares, a maioria lutando ao lado dos exércitos do Eixo, na frente russa. Contudo, em proporção às respectivas populações, austríacos, húngaros, albaneses e iugoslavos tiveram as maiores perdas militares. Somando-se todas as mortes — de civis e militares —, Polônia, Iugoslávia, União Soviética e Grécia foram os países mais afetados. A Polônia perdeu, aproximadamente, um em cada cinco cidadãos (levando-se em conta a população antes da guerra), incluindo um elevado percentual da população culta, que foi alvo premeditado de execução por parte dos nazistas.1 A Iugoslávia, um em cada sete; a União Soviética, um em cada 11; a Grécia, um em cada 14. Para assinalar o contraste, note-se que a Alemanha sofreu perdas na ordem de 1/15; a França, de 1/77; a Grã-Bretanha, de 1/125.


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