Entrevista:O Estado inteligente

domingo, abril 27, 2008

Alberto Tamer Brasil agrícola incomoda o mundo

Enquanto o Brasil desponta como o principal candidato à liderança agrícola mundial - neste momento em que o mundo, estarrecido, se vê assomado pelo fantasma da fome, principal tema desta coluna -, reina a tranqüilidade no sistema financeiro internacional.

Para desagrado dos profetas do apocalipse, foi a segunda semana de paz. O mercado nem ligou para o prejuízo ainda anunciado por alguns bancos que conseguiram recursos no Federal Reserve (o banco central americano). Isso provou que o sistema financeiro internacional está sólido, desmentindo radicalmente os que decretavam o fim do "capitalismo financeiro", ou seja lá como queiram chamar o sistema que aí está. Ele funciona, em meio a mortos e feridos, os mais fortes absorvendo os mais fracos.

E A RECESSÃO CHEGOU

Outros, desiludidos com a calmaria, recantam a canção fúnebre da recessão, como retrata muito bem matéria da correspondente do Estado em Washington, Patrícia Campos Mello. Diz ela que, para muitos economistas, a questão já não é mais saber se haverá ou não recessão, mas quanto tempo ela vai durar.

Ora, ora, senhores professores no plantão da tragédia, mas não foram vocês mesmos que caracterizaram recessão como dois trimestres sucessivos de Produto Interno Bruto negativo? E até agora, não ocorreu nenhum. As economias americana e mundial desaceleraram neste semestre, mas ainda não afundaram "tecnicamente" na recessão que vocês apregoam.

O mercado financeiro está ferido, mas continua inteiro. Basta ver a série dos grandes negócios entre empresas que estão sendo feitos no exterior e no Brasil, envolvendo bilhões de dólares. Aqui, é o etanol de cana-de-açúcar. Lá é a sucessão de fusões e aquisições bilionárias e a absorção de empresas que nem queriam ser compradas. Poucas vezes se viu tal dinamismo empresarial.

É a prematura recessão dos acadêmicos distantes da realidade, dramática, sim, mas resistente e firme.

ESTÃO COM MEDO DO BRASIL!


Os leitores sabem muito bem que esta coluna jamais pode ser acusada de ufanista. Ao contrário, temos sido acusados de pessimistas por sermos críticos, muitas vezes irritantes, quase ranzinzas. Até agressivos com a insensatez que só Brasília não via. Exemplo, a indiferença com o comércio exterior e a aceitação pusilânime do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada e dos ministros da inflação.

Por isso, nos sentimos à vontade para fazer em alta voz a seguinte afirmação: com a magnífica expansão da nossa agricultura, das fontes de energia como o petróleo e o etanol, estamos incomodando o mundo,nos transformamos em fortes competidores dos mais ricos e poderosos, e eles não estão gostando... pois que não gostem!

Não acreditamos na galhofa do "Brasil potência", do tempo dos militares, não somos uma potência, mas graças a uma série de fatores favoráveis e alguma dose de bom senso em Brasília, estamos roubando espaço de outros países: Europa e Estados Unidos. Estamos passando a liderar na área de commodities agrícolas, minerais e energia. Vejam o etanol e os painéis na Organização Mundial do Comércio. Temos de viver com isso, sem irritação nem soberba, pois ainda somos pequenos num Produto Interno Bruto mundial de US$ 50 trilhões.

FOI A AGRICULTURA, SIM


E tudo isso se iniciou com o magnífico milagre da agricultura e da agroindústria brasileiras, que hoje sustentam a economia. Exagero?

Pedro Camargo Neto, um dos mais respeitados líderes do setor o prova à coluna.

1 - O Brasil é o primeiro exportador de café, açúcar, etanol, suco de laranja, tabaco, complexo soja, carne bovina, carne de frango. O suco de laranja representa 82% do mercado mundial e o açúcar, 41%. A fonte é o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. Insuspeita.

2 - O Brasil é o maior produtor mundial de açúcar, café, suco de laranja e o segundo de álcool, tabaco, complexo de soja, carnes bovina e de frango e o terceiro de milho e carne suína.

SAFRA DOBROU

"Nos últimos dez anos, a safra agrícola simplesmente dobrou para 140,7 milhões de toneladas de grãos, principalmente graças ao aumento da produtividade de 2,18 para 3 kg por hectare. O agronegócio representa 27,85% do Produto Interno Bruto nacional. O saldo comercial do setor no ano passado foi de quase US$ 50 bilhões!, acrescenta Camargo Neto.

Sem ele, estaríamos imersos num déficit, delicadíssimo na atual crise financeira que exige grandes reservas cambiais e independência financeira do exterior.

TEM MAIS

Pedro Camargo Neto alinhava mais dados para mostrar nova imagem da agricultura brasileira no mundo: em 1997, o Brasil representava apenas 0,01% das exportações mundiais de milho, hoje somos 9,40%. Em carne suína, que sua associação representa, a participação saltou de 2,82% para 14,17%!

"O Brasil tem tudo, absolutamente tudo, para duplicar de novo, triplicar a produção agrícola, abastecer tranqüilamente o mercado interno - fato importantíssimo, no momento - e atender ao crescimento da demanda mundial. Na verdade, é um país único no mundo. A nossa evolução tecnológica está impressionando os outros, que buscam aqui lições da nossa experiência."

NA AGRICULTURA, LIDERANÇA

Mas vai dar para seguir assim? "Sim, mas isso exige uma política ativa e não passiva, como aconteceu no caso do etanol. Temos tudo para nos transformar, em alguns anos, numa grande potência agrícola, mesmo porque temos o que eles não têm: terra farta e ociosa, água abundante, sol, fotossíntese, enormes áreas planas agricultáveis em grande parte por plantar. Nesse momento, que considero oportuno e decisivo, cabe ao Brasil liderar a luta contra a crise de abastecimento mundial de alimentos, plantando mais, produzindo mais e exportando mais. Essa liderança é nossa."

E Pedro Camargo Neto conclui: "O presidente Lula precisa ser o líder mundial na luta contra a crise agrícola. Resta sua assessoria acreditar no setor rural, eliminando um ranço antiagrícola que ainda existe. O mundo já nos vê como potência agrícola".

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