O Estado de S. Paulo,
No campo da economia há o que comemorar:
Finalmente o País saiu da posição de lanterninha na América Latina e cresceu próximo de 5% em 2007, o desemprego caiu, aumentaram empregos com carteira assinada, as contas externas continuam superavitárias, o mercado de capitais expandiu-se e se consolidou como financiador de investimentos das empresas.
A crise de crédito dos EUA pegou o Brasil com reservas cambiais de quase US$ 200 bilhões e nossa economia resistiu bravamente.
Em 2007 o Brasil ficou mais próximo da classificação de "grau de investimento". Incertezas com o desequilíbrio fiscal e a inflação podem adiar, mas é provável que consiga ainda em 2008.
Finalmente o governo capitulou diante da realidade, engavetou as Parcerias Público Privadas (PPPs) e fez as primeiras licitações de serviços públicos de rodovias e geração de energia elétrica para empresas privadas.
Para ser justo Lula deveria dividir este sucesso entre o Banco Central, que soube monitorar a economia; o setor privado, que acreditou, investiu na expansão da produção e sustentou o crescimento econômico; e o fator sorte, que fez coincidir os cinco anos de gestão Lula com um raro e longo período de prosperidade econômica no planeta. Já os Ministérios setoriais ligados à produção continuaram em 2007 tão perdidos como no primeiro mandato - o que explica a lentidão do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e a paralisia de investimentos em infra-estrutura.
Na área social há avanços, mas também reparos:
O programa Bolsa-Família já distribui renda a 11 milhões de famílias, mas não avançou em descobrir uma porta de saída que leve as famílias a buscar autonomia financeira.
Finalmente a educação melhorou, sob o comando do ministro Fernando Haddad, com a criação de novas escolas técnicas e investimento em qualificação do ensino fundamental e universitário. Mas a segurança não saiu do lugar, a violência cresce, abarrota as prisões, verdadeiras fábricas de delinqüentes, e é pífio o investimento na construção de mais penitenciárias.
Os R$ 40 bilhões da CPMF em 2007 não tiraram a saúde da situação de calamidade. Os hospitais públicos continuam desaparelhados e o Sistema Único de Saúde (SUS), sem verbas e sem estrutura para atender milhões de doentes pobres que só conseguem uma consulta em prazos de três, quatro meses e uma cirurgia em um ou dois anos.
Já na área política, o presidente Lula omitiu comentários no discurso, por motivos óbvios: não há o que comemorar, mas muito a se envergonhar.
Veio do Poder Judiciário, jamais do Executivo, o único sinal de expectativa de punição para mensaleiros, sanguessugas, vampiros e aloprados, flagrados em 2005 desviando dinheiro público para políticos do PT e da base aliada. O monopólio da ética e da honestidade, reivindicado pelo PT por anos, foi destruído, desmascarado.
O comportamento de Lula em relação à corrupção continuou patético em 2007: nunca soube, não viu, nem ouviu. E quando se manifesta publicamente é para perdoar, afagar e desculpar o corrupto. Desde a célebre frase "assino um cheque em branco em favor do companheiro Jefferson", dita em defesa do deputado cassado Roberto Jefferson, que até hoje não explicou o destino de R$ 4 milhões desviados pelo valerioduto.
O exemplo de Lula provoca reações diferentes nos jovens com a cabeça em formação, ambas péssimas para a democracia. "Se os políticos são assim, eu vou é me dar bem também", dizem uns. Outros respondem à decepção do exemplo com apatia, indiferença e desprezo pela política.
Virou corriqueiro o toma-lá-dá-cá entre o Executivo e o Congresso e a chantagem prosperou solta em decisões políticas.
Em suma, foram seis anos de desconstrução da democracia.
Feliz e próspero 2008 para todos!