Ameaça não eliminada
A última grande hidrelétrica a ser construída no Brasil foi a de Xingó, cujas obras foram concluídas em 1994. A Usina Santo Antônio terá 3.150 MW de potência e vai gerar energia a R$ 78,87 por MWh (preço bem abaixo do que o inicialmente previsto, de R$ 122 por MWh, e do que a média obtida nos últimos leilões de energia, de R$ 131 por MWh).
Mas, se não houver atraso, as obras só ficarão prontas em 2012. Até lá, o País terá de conviver com certa insegurança sobre a oferta de energia.
O risco de apagão vem do fato de que existe menos energia sendo gerada hoje do que o projetado anteriormente, em um quadro de crescimento econômico também mais rápido. As perspectivas são de que, nos dois próximos anos, o PIB brasileiro estará crescendo acima de 5%, o dobro do que crescia há cinco anos.
As estimativas do Planejamento de Operação Energética (PEN), elaboradas pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), ligado ao Ministério de Minas e Energia, são de que, com um crescimento médio do PIB de 4% até 2011, a probabilidade de que em 2011 haja déficit de energia no Sudeste/Centro-Oeste é algo superior a 5%. No Nordeste, o risco é maior: 8,6% já em 2009.
"A esperança era a de que o suprimento de gás para as termoelétricas compensasse a falta de energia hidrelétrica. Mas isso não vem ocorrendo como planejado", observa a consultora Tereza Fernandez, da MB Associados.
A Bolívia, que está comprometida a fornecer 30 milhões de m³ diários, não está despachando mais do que 25 milhões de m³. E, a despeito dos novos acordos entre Brasil e Bolívia, esse fornecimento não deverá ser rapidamente regularizado.
Uma das providências que podem ser tomadas para evitar falta de energia nos próximos três anos é conter o consumo por meio de um tarifão, primeiro para a indústria, depois para o comércio e, em último caso, para os consumidores.
A dificuldade mais urgente a ser enfrentada é a escassez de gás. O Plangás, programa que incentiva investimentos em produção de gás, prevê o aumento da oferta no Sudeste dos atuais 16 milhões de m³ diários para 40 milhões de m³ até o fim de 2008.
Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), admite o risco de apagão, mas pondera que é desprezível. "Há dois leilões de energia previstos para o ano que vem, em abril e em junho, que devem garantir produção para os próximos anos."
Para o presidente da Associação Brasileira de Infra-estrutura e Indústrias de Base (Abdib), Paulo Godoy, tudo depende da execução dos projetos listados no PAC. "Estamos no limite. Tudo o que está programado para entrar em operação não pode atrasar." Entre esses projetos estão usinas termoelétricas, pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), usinas de biomassa e até a unidade de Angra 3.
De qualquer forma, se vier, essa energia adicional não estará disponível antes de cinco anos. Até lá, o País terá de fazer bem mais do que vem fazendo até agora para livrar-se da ameaça de apagão.