Este é um foco de pressão adicional contra a aquisição de participações acionárias importantes no Ocidente por fundos soberanos administrados por países potencialmente hostis.
No início deste ano, a resistência de um grupo de parlamentares americanos impediu que o fundo soberano de Abu Dabi comprasse um terminal portuário nos Estados Unidos. O argumento era o de que colocaria em risco a segurança nacional.
A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, chegou a manifestar a preocupação de que a Rússia passasse a manipular seu poderio energético para impor condições geopolíticas no Norte da Europa.
Em outubro, na reunião do Grupo dos Sete realizada em Washington, os ministros de Finanças manifestaram preocupações de que fundos da Rússia, da China e de exportadores de petróleo comprassem empresas, bancos e imóveis no Oeste. E divulgaram comunicado instando o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial a preparar um conjunto de regras de conduta a serem impostas a esses fundos.
Aí veio o estouro da bolha hipotecária de alto risco e os ventos pareciam ter mudado. Antes de junho, ninguém imaginava que grandes bancos americanos e europeus estivessem tão atolados nesse negócio.
Quando os investidores passaram a desconfiar de que suas aplicações em fundos hipotecários tinham seu retorno ameaçado, os bancos foram obrigados a suspender os resgates e, a partir daí, não conseguiram mais esconder o rombo em suas carteiras.
Na falta de opção de socorro, esses bancos passaram a aceitar a injeção de capitais externos. O Citigroup recebeu em novembro uma transfusão de US$ 7,5 bilhões do fundo soberano de Abu Dabi, o mesmo que foi impedido de comprar o terminal portuário. Na semana passada, o fundo da China repassou US$ 5 bilhões para o Morgan Stanley.
E agora a alta direção da União de Banco Suíços aceitou uma dose de US$ 9,7 bilhões em vitaminas do fundo soberano de Cingapura mais US$ 1,73 bilhão da Arábia Saudita. Os acionistas minoritários vêem nessas operações, que consideram suspeitas, prejuízos irreparáveis a uma instituição tida até agora como segura e ilibada. Querem a reversão do negócio.
O problema talvez não esteja na procedência do socorro, mas na má governança que deixou as finanças do banco suíço na situação em que está.
Nos Estados Unidos, a hora é de esquecer por enquanto velhos preconceitos, já que os capitais vêm para resolver problemas. Sexta-feira, o presidente americano George Bush tapou o nariz, mas deu as boas-vindas à dinheirama: "Estou de acordo com a chegada desses capitais que vêm para fortalecer nossas instituições financeiras. Problema haveria se não aceitássemos capital estrangeiro, se nos opuséssemos ao mercado aberto e nos tivéssemos tornado protecionistas."
Desta vez, a necessidade falou mais alto. Falta saber até quando as autoridades de países ricos permitirão que essas compras sigam em frente.