Folha de S.Paulo
As regras de leilões de 3G e os altos ágios foram os mesmos de há dez anos, só que desta vez não houve denúncias |
A exploração do serviço celular nos moldes mais avançados da tecnologia disponível -chamada de 3G- abre um período de significativos investimentos na área das telecomunicações. A criação de novos serviços e o desenvolvimento de produtos mais sofisticados abrem um novo espaço para que o governo arrecade mais impostos e para que os brasileiros encontrem novas possibilidades de emprego em setores de altos salários. A sociedade como um todo vai ganhar com essa nova fronteira econômica e tecnológica que se abre diante de nós.
As regras dos leilões dos celulares 3G seguiram os padrões estabelecidos em 1997 e 1998 pelo governo Fernando Henrique Cardoso e seu ministro Sérgio Motta. Exploração privada de freqüências de telecomunicações, obedecendo as cláusulas pétreas da concorrência e da universalização dos serviços. Nenhuma mudança em relação ao roteiro que presidiu a privatização do monopólio estatal da antiga Telebrás. Inclusive o mecanismo de colocar em uma mesma licença regiões mais pobres e mais ricas é o mesmo usado dez anos antes.
A única diferença de agora é que não ocorreram as denúncias de entrega de serviços públicos à sanha dos interesses privados. Também estiveram ausentes as milhares de ações populares e civis, patrocinadas por sindicatos e líderes de movimentos sociais ligados ao PT, contra a "entrega do patrimônio público".
Até a grande mentira que ainda é repetida hoje sobre os preços de banana está embutida nos valores pagos pelas concessionárias privadas agora. Os ágios elevados seriam -na linguagem de uma década atrás- uma prova de que os preços mínimos estabelecidos eram baixos demais.
Uma observação que precisa ser lembrada aqui é que nos leilões de agora o Brasil já tem um mercado de celulares conhecido e representado por mais de 135 milhões de terminais em operação. Em 1997 e 1998, quando a privatização foi realizada, os celulares eram apenas símbolos caríssimos de status e o potencial desse mercado ainda era uma grande incógnita. Com a passagem de um monopólio estatal para um sistema com intensa competição e regras draconianas de universalização forçada, introduzia-se uma incerteza muito grande para que os interessados pudessem avaliar os preços a serem pagos nos leilões. Mesmo assim, ocorreram ágios expressivos e intensa disputa pelas 12 empresas privatizadas.
A privatização da Telebrás, demonizada até hoje na oratória petista, foi a origem do sucesso desse grande programa de modernização do nosso setor de telecomunicações de massa. A entrada em serviço, agora no governo Lula, de um novo padrão tecnológico, é apenas mais uma etapa dessa caminhada corajosa iniciada dez anos atrás.