O presidente Lula tem revelado a amigos e correligionários nas conversas de fim de ano uma especial alegria pelos resultados obtidos pelo Brasil neste ano que se encerra. De fato, 2007 terá sido um bom ano para a história do país, com crescimento econômico de 5,3%, melhor distribuição de renda, recorde de contratações, aumento do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), colocando o país no nível de “alto desenvolvimento”, e a classificação como a sexta economia do mundo pelo Banco Mundial, ao lado de países como França e Reino Unido.
Lula está no lugar certo no momento certo, sendo beneficiário não apenas da performance excepcional da economia mundial como de processos de resgate de nossa dívida social em curso a partir da Constituinte de 1988, que se consolidaram com a implantação do Plano Real, em 1994, e foram acelerados pelos programas sociais que ele aprofundou desde que chegou ao governo em 2003, unificando e ampliando a rede de proteção social implantada nos governos de Fernando Henrique Cardoso.
Mas nem todos os números são bons, se comparados com os demais países.
Somente este ano, o Brasil conseguiu crescer na mesma média do mundo. Nosso hiato de crescimento em relação ao mundo no primeiro governo Lula, é de -1,5%, pois a média do crescimento mundial foi de 4,9% e a média do crescimento do nosso PIB no período foi de 3,34%.
Uma visão mais otimista pode dizer que de 2004 a 2007 estamos crescendo a uma média de 4,4%, e manteremos essa tendência.
Mas o crescimento de 5,7% do PIB brasileiro no terceiro trimestre deste ano ficou aquém do ritmo verificado na China (11,5%), Índia (8,9%) e Rússia (7,6%), em comparação com o mesmo período de 2006.
Desde 1995, no segundo ano do Plano Real, a pobreza não caía tanto no Brasil, e 2004 foi o menos desigual dos últimos 20 anos. Mas o índice de Gini, que mede a concentração de renda nos países, vem mostrando uma tendência permanente de melhoria nos últimos anos.
A redução da miséria brasileira, que começou com o Plano Real, se acentuou em 2001, com expressiva distribuição de renda, resultado da permanência da políticas econômicas e sociais.
Pesquisa do instituto Datafolha mostrou que, de outubro de 2002 a novembro deste ano, cerca de 20 milhões de brasileiros saíram das classes D e E, aumentando a classe C, que tem hoje 49% da população.
Mesmo com todas as melhoras, no entanto, ainda estamos abaixo da média latinoamericana. No Relatório de Desenvolvimento Humano 2006, elaborado pelo Pnud, o Brasil aparece com índice de 0,58, quase no final da lista de 127 países, sendo que apenas dez deles apresentam maior concentração de renda. O índice Gini da América Latina é de 0,52. Esse mesmo índice nos Estados Unidos é de 0,46 e o da Europa, 0,35.
Estudo da Cepal realizado em 12 países da América Latina mostra que a tendência de redução da pobreza e da indigência se registrou em todos os países, mas o melhor resultado dos últimos quatro anos foi o da Argentina, onde a pobreza caiu 24,4 pontos percentuais e a indigência diminuiu outros 13,7 pontos porcentuais.
Também se destacaram nesse período Venezuela, Peru, Chile, Equador, Honduras e México, todos com diminuição de mais de cinco pontos percentuais nos índices de pobreza e indigência. O Brasil, segundo a Cepal, teve redução de 4,2 pontos percentuais em ambos os indicadores entre 2001 e 2006.
Mais importante do que o valor do PIB, que nos coloca como sexta economia do mundo, ou décima, numa conta mais apurada, sem arredondamentos, é o PIB per capita, que mede a renda por habitante. Com um crescimento de 2,6% entre 2004 e 2005, conseguimos melhorar nossa posição.
Estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) revela que, nos últimos dez anos, de 1996 a 2005, a renda per capita do Brasil aumentou apenas 0,7% ao ano, ante a média mundial de 2,6%. O PIB per capita do Brasil teve um dos piores desempenhos do mundo, e cresceu menos que o de outros países da América Latina na última década.
Na educação, nosso grande avanço ocorreu com a universalização do ensino fundamental, ocorrida na gestão do Ministro Paulo Renato de Souza. De lá para cá, ainda não conseguimos superar os obstáculos da melhoria da qualidade do ensino. O desempenho de nossos estudantes em exames nacionais e internacionais, como o Pisa, nos coloca nos piores níveis. O Brasil está entre os piores do mundo em matemática, leitura e ciências, as três áreas avaliadas.
A deficiência em nosso sistema educacional aliada a fatores conhecidos como corrupção, falta de segurança, alta carga tributária, o excesso de burocracia e uma taxa básica de juros de dois dígitos fazem com que o Brasil não progrida como os outros emergentes e, pior, perca competitividade. Segundo o IMD, um respeitado instituto de economia que mede a competitividade internacional, 40 economias estão conseguindo evoluir, diminuindo a diferença para os Estados Unidos, o primeiro país em competitividade.
Entre eles, China, Rússia, Índia, nossos companheiros de Brics, os países emergentes que teoricamente estarão à frente da economia mundial nos próximos 30 anos. Apenas 15 países estão perdendo terreno, entre eles o Brasil, Argentina, Itália, México e França. Por outro método, entre 131 países, o Brasil caiu do 66º para o 72º lugar no Ranking de Competitividade Global elaborado pelo Fórum Econômico Mundial, uma das referências internacionais para avaliar as condições de investimentos de cada país.
Portanto, estamos bem em relação ao que éramos, mas perdendo terreno em relação ao que podemos ser.
Bom Natal e Feliz 2008 a todos. A coluna volta a ser publicada em 2 de janeiro.
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