Ninguém contava com tudo isso. O desempenho muito melhor do mercado de ações obrigou os especialistas a constantes revisões de suas estimativas. A maioria fez suas reprojeções na moita. Poucos tiveram o fair-play de reconhecer os erros de previsão como aconteceu com a estrategista da Fator Corretora, Lika Takahashi, que vinha insistindo na marca dos 51 mil pontos, mas no início de outubro rendeu-se às evidências. Evocou o poeta Schiller, perpetuado no final da 9ª Sinfonia de Beethoven: "Mudemos de tom..." E reviu para o fim deste ano um Ibovespa entre 58 mil e 60 mil pontos, também largamente ultrapassado.
Como tudo em investimentos, não dá para contentar-se com a imagem do retrovisor. O que importa é o que vem aí.
O que dá para dizer é que, apesar da crise ainda não absorvida, o mercado internacional vai continuar inundado de dinheiro, com juros baixos e poucas opções firmes de aplicação. Isso tende a puxar para o risco. E risco por risco, aí estão, outra vez, os emergentes, Brasil entre eles, cada vez mais sob foco, porque ostentam saúde fiscal e bom crescimento.
Em 2008 pode sair o grau de investimento para os títulos de dívida do Brasil. Se isso se confirmar, milhares de fundos de pensão, fundos de investimento, administradores de fundos conservadores de patrimônio e até mesmo bancos centrais estarão autorizados a incorporar títulos da dívida brasileira no seu patrimônio. Quer dizer, capitais baratos deverão desembarcar por aqui. Para um mercado sedento de rentabilidade com segurança, é sopa no mel.
Baseados no que aconteceu em anos anteriores com outros países emergentes que obtiveram grau de investimento, os observadores apostam que a Bolsa pega carona nesse fluxo. Mas, ao contrário do que acontece com outros setores do mercado financeiro, tende a antecipá-lo, para logo em seguida partir para uma rápida desova de realização de lucros.
A Bolsa deverá refletir três pontos de tensão. O primeiro deles é fiscal. É preciso ver se o governo Lula vai repor as perdas com a CPMF e em que proporção. Além disso, as eleições de outubro tendem a levar o governo a afrouxar os controles nas despesas públicas. Se a gastança passar dos limites, a desconfiança pode vir e refletir-se no comportamento do mercado de ações.
O segundo tem a ver com a trajetória do Ibovespa. Quanto mais rapidamente ocorrer nova valorização dos papéis, tanto mais rápido poderá vir o ajuste. A partir do momento em que o mercado perceber que ficaram caros demais, tenderá a desfazer-se deles.
O terceiro está relacionado com os desdobramentos da crise do dólar lá fora. Em princípio, a economia brasileira está melhor preparada para enfrentar movimentos irracionais globais. Mas não está imunizada, especialmente se o governo Lula vacilar na condução das contas públicas.
Mas o ano de 2008 começa promissor.
Confira
A aposta deles - Na amostra acima, as instituições mais pessimistas prevêem para o fim de 2008 uma valorização de 12,7% para o Índice Bovespa. E a mais otimista, de 28,4%. A renda fixa não promete mais do que 11%.