O GLOBO - 13/04
Nicolás Maduro e seus estrategistas fizeram de tudo para manter o comandante Hugo Chávez, morto a 5 de março, presente em cada comício da campanha para as eleições de amanhã na Venezuela. Além das sucessivas menções de Maduro, seu rosto estava em milhares de cartazes e sua voz, gravada, iniciava cada comício com o Hino Nacional. Maduro é o continuador do chavismo, segundo o próprio Chávez, e o líder morto é seu maior trunfo eleitoral.
A campanha do oposicionista Henrique Capriles veio ganhando força ao longo dos dez dias de campanha e, na última pesquisa, a vantagem de Maduro caíra para 9,7 pontos percentuais, abaixo dos dez pontos com os quais Chávez derrotou Capriles em outubro de 2012. Apesar da reação oposicionista, o ex-motorista de ônibus, ex-sindicalista, ex-chanceler e atual presidente é o favorito para obter amanhã o mandato até 2017.
As eleições são mais um capítulo do drama venezuelano. Seja qual for o vencedor, herdará um fardo pesado — economia em frangalhos, devido à estatização galopante, sucateamento da indústria, descontrole dos gastos públicos, falta de investimentos em infraestrutura, desabastecimento, inflação e corrupção. O consumo foi impulsionado pelos gastos assistencialistas, mas a inflação se manteve acima dos 20% e fechou 2012 a 26,3%, segundo o FMI. A violência se tornou um flagelo no país, e Caracas, uma das capitais mais perigosas do mundo. O organismo de combate às drogas dos EUA denunciou que um poderoso esquema de tráfico de drogas prosperou na Venezuela durante o chavismo.
Nos 14 anos de Chávez no poder, o país se tornou ainda mais dependente do petróleo, que responde por 50% das receitas do Estado, 90% das exportações e 30% do PIB. E a petrolífera PDVSA, a "galinha dos ovos de ouro", foi destroçada. Tornou-se o grande caixa do governo em todos os seus inúmeros programas assistencialistas, e também do grande projeto de poder do líder da revolução bolivariana, que fornece petróleo a Cuba a preços especiais e faz agrados também aos demais seguidores — Bolívia, Equador, Nicarágua e, em alguns momentos, a Argentina kirchnerista. O país produz hoje menos de 3 milhões de barris por dia — a metade do que a PDVSA pretendia, segundo seu plano de investimentos de 2007.
O grande desafio para Maduro é que a "presença" de Chávez tenderá a diminuir, com o tempo. O comandante pairava acima dos problemas e dava ordens, parecia agir. Seu herdeiro precisará agir de verdade, mostrar liderança. No caso de vitória de Capriles, são muitas as interrogações. Por exemplo, como reagirá o Exército, esteio do chavismo? Capriles demonstrará bom senso se formar um governo de união nacional com os chavistas. Fortalecer a PDVSA, restaurando sua produção e produtividade, parecem o melhor começo para o vencedor do pleito de amanhã.