O GLOBO - 03/04
A queda forte da indústria em fevereiro altera o quadro para o ano porque ameaça a previsão de crescimento de 3% do PIB. A alta de juros, que muitos davam como certa, pode ser adiada. O BC fica mais pressionado entre dois fogos: a atividade fraca e a inflação que em março deve ter superado o teto da meta. As sondagens com empresários e consumidores mostram que os termômetros de confiança não esquentaram.
Já se esperava queda na indústria em fevereiro, mas a redução de 2,5% foi mais forte que o previsto e significou o maior tombo mensal desde dezembro de 2008. O número praticamente anulou o crescimento de janeiro, de 2,6%. A produção encolheu em 15 das 27 atividades pesquisadas e a taxa é livre de influências sazonais, não se pode culpar os feriados do carnaval. A maior retração aconteceu no setor automobilístico, que, depois de subir 6,2% em janeiro, caiu 9,2%. Não foi à toa que o governo decidiu esta semana cancelar o aumento gradual do IPI para veículos, que estava previsto para o ano.
A única boa notícia está nos bens de capital, que subiram 1,6%, pelo segundo mês seguido. Mas houve uma forte desaceleração em comparação aos 9,6% de janeiro, e isso mostra que os investimentos no primeiro mês do ano estavam mesmo concentrados na produção de caminhões. O crescimento em fevereiro foi puxado pelas máquinas agrícolas, que cresceram 12%, e tem relação com a supersafra de grãos. Ou seja, as maiores altas têm explicações específicas.
Neste início de ano, os principais termômetros que medem a confiança na nossa economia estão frios. Isso preocupa. A bolsa terminou o primeiro trimestre com a maior queda em 18 anos. As sondagens feitas pela FGV com empresários e consumidores mostram que o ano ainda não engrenou. O Índice de Confiança da Indústria caiu pelo segundo mês seguido em março e voltou ao patamar de setembro. A confiança do setor de construção civil recuou 7,9% no primeiro trimestre, em relação ao quarto. A confiança dos empresários do setor de serviços teve um pequeno aumento em março, mas continua abaixo da média dos últimos cinco anos. Já a confiança dos consumidores está em queda há seis meses seguidos. Tudo isso contradiz a expectativa de alta forte do PIB.
O economista Aloisio Campelo, coordenador de Sondagens Conjunturais da FGV, explica que a queda da confiança dos consumidores tem relação com o mercado de trabalho, que tem gerado menos vagas. Também há influência negativa do endividamento das famílias e da inflação alta, que tira renda. Olhando para a indústria, Campelo ainda enxerga ociosidade dos meios de produção. Por isso, é preciso mesmo cautela ao olhar para as taxas de investimento.
- A alta do investimento no início do ano não está sendo puxada pelo esgotamento da capacidade instalada, porque ainda há ociosidade. O Nível de Utilização da Capacidade Instalada não chegou a um patamar alto. Podemos dizer que está neutro. Os investimentos também não estão crescendo pela confiança, porque nossas sondagens mostram queda - disse.
Para que aconteça um crescimento do PIB de 3% ou mais, como espera o governo, o país tem que crescer forte em todos os trimestres. No primeiro tri, o baixo desempenho da indústria em fevereiro compromete o resultado e foi reforçado pela queda da confiança dos empresários em março.
O problema básico da economia é que o governo tem um diagnóstico errado. Com isso, preocupa-se em incentivar a demanda, quando deveria estar atuando na oferta, principalmente no investimento. O ambiente de negócios permanece ruim por inúmeros problemas, alguns regulatórios, e outros de incerteza. Movimentos de manutenção da demanda, como a renúncia fiscal de R$ 2,2 bilhões para não elevar o IPI dos carros, não produzem efeitos sustentados, apenas provocam antecipação de compras.
A queda forte da indústria em fevereiro altera o quadro para o ano porque ameaça a previsão de crescimento de 3% do PIB. A alta de juros, que muitos davam como certa, pode ser adiada. O BC fica mais pressionado entre dois fogos: a atividade fraca e a inflação que em março deve ter superado o teto da meta. As sondagens com empresários e consumidores mostram que os termômetros de confiança não esquentaram.
Já se esperava queda na indústria em fevereiro, mas a redução de 2,5% foi mais forte que o previsto e significou o maior tombo mensal desde dezembro de 2008. O número praticamente anulou o crescimento de janeiro, de 2,6%. A produção encolheu em 15 das 27 atividades pesquisadas e a taxa é livre de influências sazonais, não se pode culpar os feriados do carnaval. A maior retração aconteceu no setor automobilístico, que, depois de subir 6,2% em janeiro, caiu 9,2%. Não foi à toa que o governo decidiu esta semana cancelar o aumento gradual do IPI para veículos, que estava previsto para o ano.
A única boa notícia está nos bens de capital, que subiram 1,6%, pelo segundo mês seguido. Mas houve uma forte desaceleração em comparação aos 9,6% de janeiro, e isso mostra que os investimentos no primeiro mês do ano estavam mesmo concentrados na produção de caminhões. O crescimento em fevereiro foi puxado pelas máquinas agrícolas, que cresceram 12%, e tem relação com a supersafra de grãos. Ou seja, as maiores altas têm explicações específicas.
Neste início de ano, os principais termômetros que medem a confiança na nossa economia estão frios. Isso preocupa. A bolsa terminou o primeiro trimestre com a maior queda em 18 anos. As sondagens feitas pela FGV com empresários e consumidores mostram que o ano ainda não engrenou. O Índice de Confiança da Indústria caiu pelo segundo mês seguido em março e voltou ao patamar de setembro. A confiança do setor de construção civil recuou 7,9% no primeiro trimestre, em relação ao quarto. A confiança dos empresários do setor de serviços teve um pequeno aumento em março, mas continua abaixo da média dos últimos cinco anos. Já a confiança dos consumidores está em queda há seis meses seguidos. Tudo isso contradiz a expectativa de alta forte do PIB.
O economista Aloisio Campelo, coordenador de Sondagens Conjunturais da FGV, explica que a queda da confiança dos consumidores tem relação com o mercado de trabalho, que tem gerado menos vagas. Também há influência negativa do endividamento das famílias e da inflação alta, que tira renda. Olhando para a indústria, Campelo ainda enxerga ociosidade dos meios de produção. Por isso, é preciso mesmo cautela ao olhar para as taxas de investimento.
- A alta do investimento no início do ano não está sendo puxada pelo esgotamento da capacidade instalada, porque ainda há ociosidade. O Nível de Utilização da Capacidade Instalada não chegou a um patamar alto. Podemos dizer que está neutro. Os investimentos também não estão crescendo pela confiança, porque nossas sondagens mostram queda - disse.
Para que aconteça um crescimento do PIB de 3% ou mais, como espera o governo, o país tem que crescer forte em todos os trimestres. No primeiro tri, o baixo desempenho da indústria em fevereiro compromete o resultado e foi reforçado pela queda da confiança dos empresários em março.
O problema básico da economia é que o governo tem um diagnóstico errado. Com isso, preocupa-se em incentivar a demanda, quando deveria estar atuando na oferta, principalmente no investimento. O ambiente de negócios permanece ruim por inúmeros problemas, alguns regulatórios, e outros de incerteza. Movimentos de manutenção da demanda, como a renúncia fiscal de R$ 2,2 bilhões para não elevar o IPI dos carros, não produzem efeitos sustentados, apenas provocam antecipação de compras.