Fatores regionais
Merval Pereira
O Globo - 22/06/2010
Os dez últimos dias para a montagem das coligações regionais serão de muita tensão nos bastidores, onde se desenrolam as últimas negociações.
O governo está saindo delas menor do que entrou, mas ainda assim maior do que a oposição, com uma campanha presidencial bastante organizada e fortes palanques estaduais
O maior perigo nesse período para o PSDB, com o crescimento da candidatura de Dilma Rousseff, era ser abandonado por parceiros políticos que abandonaram a base governista por questões regionais.
No entanto, André Puccinelli do PMDB do Mato Grosso do Sul aderiu; Osmar Dias do PDT do Paraná aderiu. E o PP nacional pode ficar neutro, o que ajuda.
O governo usa seus últimos cartuchos para pressionar os parlamentares do PP dilmistas a convocarem uma convenção até o fim do mês, mas a parte que prefere apoiar a candidatura tucana tem força para impedir a convocação, criando uma situação de fato que levará à neutralidade.
O fato é que o país dividiu-se geograficamente, e grupos políticos que normalmente estariam com Lula ficaram na oposição, especialmente os que representam o agronegócio.
Estados produtores com o câmbio baixo, dificuldades de exportação, estradas intransitáveis, portos sem capacidade de escoamento e ainda por cima a ameaça de o MST ganhar mais força em um eventual governo Dilma levaram o Sul a fechar com o candidato do PSDB.
No Rio Grande do Sul, o PSDB tem a governadora Yeda Crusius, apesar de todos os problemas que enfrentou, um grande pedaço do PMDB, e uma aliança DEM-PTB, além do PP e do PPS. Contra o PT e o PDT com o ex-ministro Tarso Genro.
Beto Richa é o candidato favorito ao governo, ainda mais depois que o senador Osmar Dias decidiu se candidatar à reeleição.
Em Santa Catarina, há três forças políticas que apoiam Serra indiscutivelmente: o ex-governador Luiz Henrique do PMDB, que é o favorito para o Senado; Raimundo Colombo, ligado aos Bornhausen, que deve ser o candidato a governador, e o Leonel Pavan que está no governo com o PSDB. A senadora Ideli Salvatti é a candidata ao governo pelo PT.
A definição do Sudeste, onde Serra vence nas pesquisas, terá o peso fundamental de São Paulo e Minas, onde os tucanos esperam tirar uma vantagem expressiva.
No Rio de Janeiro, o palanque é com o PV do candidato Fernando Gabeira. A soma de Marina Silva com José Serra supera Dilma Rousseff, que ganha individualmente no Estado, com o apoio do governador Sérgio Cabral, favorito na disputa para governador.
Em São Paulo, o tucano Geraldo Alckmin é o favorito para ganhar no primeiro turno, e o PSDB espera que Serra vença com uma diferença entre 4 e 6 milhões de votos.
Há quem tema, porém, que Alckmin não se esforce tanto quanto seria necessário, ainda uma sequela da disputa pela prefeitura em que Serra apoiou Kassab.
Em Minas Gerais, o PSDB também depende do empenho do ex-governador Aécio Neves.
A disputa pela Presidência está empatada, mas o crescimento da candidatura de Antonio Anastasia pode ajudar Serra num estado em que Lula ganhou as duas últimas eleições com diferença entre 1 e 1,5 milhão de votos.
No Espírito Santo, o candidato do PSB Renato Casagrande é o grande favorito, e o PSDB tem Luiz Paulo Vellozo Lucas, ex-prefeito de Vitória, como candidato, com o apoio do PTB e DEM, e Rita Camata como candidata ao Senado. Serra está na frente no estado.
No Nordeste, o PSDB só pode tentar “reduzir os danos”.
Na Bahia, Paulo Souto é candidato ao governo com PSDB e DEM, com Geddel Vieira Lima pelo PMDB e Jacques Wagner pelo PT.
Em Sergipe, João Alves é muito competitivo contra o Marcelo Déda do PT, e José Serra é mais forte do que Dilma.
Em Alagoas, o governador tucano Teotônio Vilela concorre à reeleição e foi lá o único estado em que Serra ganhou em 2002. Mas os favoritos são o senador Fernando Collor, da base do governo, e o ex-governador Ronaldo Lessa do PDT.
Em Pernambuco, Jarbas Vasconcellos reuniu forças consistentes no estado: Marco Maciel e Sérgio Guerra. Mas o governador Eduardo Campos é o franco favorito.
Na Paraíba, José Maranhão do PMDB é o favorito, e a maior força do PSDB era o Cássio Cunha Lima, que está às voltas com a Lei da Ficha Limpa.
No Maranhão, o ex-governador Jackson Lago também está teoricamente atingido pela nova lei, mas em situação mais favorável, porque já cumpriu a pena, mas a única perspectiva da oposição é tentar perder de menos.
No Piauí, há a candidatura tucana de Silvio Mendes, que é muito competitivo, contra dois candidatos governistas: Wilson Martins e João Vicente Claudino.
No Rio Grande do Norte, a candidata do DEM Rosalba Ciarlini é favoritíssima. No Ceará, o senador Tasso Jereissatti está fazendo uma pesquisa para tomar a decisão se deve ser candidato a senador ou a governador.
Foi uma absoluta surpresa o comportamento dos Gomes, pressionados pelo enviado especial José Dirceu, que lhes avisou que teriam sérios problemas se não apoiassem o exministro José Pimentel para o Senado.
No Norte, onde o governo também tem vantagem, há Tocantins, onde o Siqueira Campos do PSDB é favorito, principalmente agora que o Marcelo Miranda se tornou inelegível.
No Pará deve ter segundo turno com Simão Jatene do PSDB disputando com José Prianti do PMDB e a governadora petista Ana Júlia.
O deputado Jader Barbalho tem um problema igual ao do Joaquim Roriz do PSC de Brasília: ambos renunciaram para não perder o mandato e estão inelegíveis pela Lei da Ficha Limpa.
Em Goiás, o franco favorito é o senador Marconi Perillo, apesar da intenção do presidente Lula de derrotá-lo.
O pior problema dos tucanos é o Amazonas, onde o senador Arthur Virgílio não conseguiu montar um palanque local, a não ser o dele, sem chapa de governador. O maior problema do governo é o Paraná.
Entrevista:O Estado inteligente
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