Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, abril 03, 2008

NÃO VAI INTERESSAR NADINHA À CASA CIVIL QUE SEJA REVELADA A IDENTIDADE DE QUEM PRODUZIU O DOSSIÊ

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Nem Ricardo Noblat nem outro jornalista qualquer são repórteres dos repórteres de VEJA ou da Folha, embora tenham, felizmente, o direito de publicar o que acharem melhor. Se consideram que identificar fontes de reportagem é parte do seu mister, ok. Cada um na sua. Não tenho nada com isso. Se Álvaro Dias sabia ou não do dossiê, é irrelevante. Uma coisa posso afirmar: ele não é “a” fonte da VEJA.

Até porque uma apuração tem múltiplas fontes. A questão está, obviamente, malparada: cumpre ao jornalismo, acho eu, descobrir quem fez o dossiê ilegal e vazou a documentação aos parlamentares petistas — que, confirmou o senador paranaense, chegou às suas mãos. Mas será que só ele recebeu o papelório? NÃO!!!

O governo tenta desviar o foco. O que interessa é quem fez o dossiê e tentou utilizá-lo como instrumento de intimidação, não quem vazou o documento para a VEJA e para a Folha. Criminosas eram aquelas plantações que tentavam enredar o governo FHC com base num dossiê também feito na base do crime. O outro “vazamento” (que é, na verdade, apuração jornalística), que fez chegar a notícia do dossiê fajuto à imprensa, protege o estado de direito, uma vez que expõe a prática ilegal de funcionários do governo.

Na VEJA desta semana, na seção de frases, há reproduzida uma que publiquei neste blog no dia 25 de março:
“Houve um tempo em que a imprensa vigiava o governo. Hoje, parte da imprensa vigia a VEJA para que a VEJA pare de vigiar o governo.”

Ora, ainda que tivesse sido Álvaro Dias a ter passado à VEJA o dossiê feito pela Casa Civil, que mal haveria nisso? Então um senador da oposição fica sabendo de uma tramóia para tentar desmoralizar o seu partido e deve silenciar? Passar adiante tais informações constituiria um crime? Tenham a santa paciência!

- CRIME É FAZER DOSSIÊ.
- CRIME É TENTAR INTIMIDAR COM DOSSIÊ.
- QUANDO UM DOSSIÊ É REVELADO, ELE PERDE SEU PODER DE INTIMIDAR. PORTANTO, REVELAR A EXISTÊNCIA DE UM DOSSIÊ EQUIVALE A NEUTRALIZÁ-LO...

Se havia algo parecido com chantagem, as vítimas eram as oposições.

Quanto tempo vai demorar para que setores do próprio jornalismo comecem a questionar o princípio do sigilo da fonte? Reitero: neste caso em particular, talvez nem a Casa Civil pretenda que se vá tão longe. Ademais, imaginem isso em espiral, não é? Cumpriria agora tentar saber, então, quem foi a fonte de Ricardo Noblat? E depois a fonte da fonte? Enquanto isso, o crime original, QUEM FEZ O DOSSIÊ E QUEM O USAVA PARA A INTIMIDAÇÃO, vai ficando para as calendas?

O caso teve uma evolução interessante. Se bem se lembram, o governo começou negando que existisse dossiê. De resto, fiquem tranqüilos: das fontes de VEJA, cuida a VEJA. Ainda que Álvaro Dias estivesse entre elas, E NÃO ESTÁ, não padeceria de solidão.

EM RESUMO: NÃO VAI INTERESSAR NADINHA À CASA CIVIL QUE SEJA REVELADA A IDENTIDADE DE QUEM PRODUZIU O DOSSIÊ – NEM QUE O AUTOR REVELE AS INSTRUÇÕES QUE RECEBEU... E DE QUEM AS RECEBEU!

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