Menor que o Brasil
Os resultados da política externa, nos últimos anos, não correspondem à importância que o Brasil tem na região e no mundo. Deve-se reconhecer que houve avanços e alguns êxitos, que ocorreram quando o Itamaraty pôde atuar como principal formulador da política externa. Os retrocessos ocorreram nas áreas em que as políticas tradicionais foram alteradas por influência ideológica e partidária, como ocorreu com Mercosul, integração regional, relações comerciais com a África e com o Oriente Médio, estratégia de negociações comerciais, sumiço do Brasil no cenário internacional e a perda, interna e externa, de credibilidade do Itamaraty.
Alguns resultados mostram como o interesse nacional foi deixado em segundo plano nos últimos anos:
— O financiamento ao porto de Mariel em Cuba pelo BNDES subiu a US$ 950 milhões, de acordo com informações publicadas em Havana. Segundo as mesmas fontes, o Brasil está negociando novos empréstimos do BNDES, de US$ 170 milhões, para melhoria dos aeroportos comerciais naquele país.
— Durante visita da presidente Dilma à União Africana de Nações, o governo brasileiro anunciou o perdão de US$ 900 milhões de dívidas de 12 países africanos. Só o autoritário Congo livrou-se de US$ 352 milhões.
— A decisão de pagar agora US$ 434 milhões adicionais ao governo boliviano pelo gás fornecido ao Brasil. Para ajudar generosamente a Bolívia, o Brasil passou a pagar um adicional por seu conteúdo, contra a opinião da Petrobras.
— O governo brasileiro, no atual conflito Israel-Hamas, em um dos comunicados, esqueceu a posição de equilíbrio entre os dois lados e condenou apenas a desproporção da força usada por Israel, deixando de mencionar os ataques ao território israelense por foguetes do Hamas. A reação do governo de Tel Aviv atingiu tanto o governo como nosso pais ao definir a ação do Itamaraty como a de um "anão diplomático" e o Brasil de "irrelevante" no contexto do conflito do Oriente Médio.
— Na Argentina, principal parceiro do Brasil, a paciência estratégica com a presidente Cristina Kirchner está aceitando que as crescentes barreiras protecionistas contra produtos importados afetem as exportações brasileiras.
— O tratamento dado ao governo brasileiro pelo boliviano, no caso do asilo do senador Roger Molina, talvez seja um dos exemplos mais simbólicos da fraqueza de nossa política externa imolada no altar das afinidades ideológicas. O governo cedeu a pressões e demitiu o ministro do Exterior pela fuga do exilado para dar satisfação a Evo Morales.
Tudo isso, sem mencionar o arranhão em nossa soberania quando da nacionalização das refinarias da Petrobras na Bolívia, o desrespeito aos direitos humanos com a devolução a Havana dos pugilistas cubanos que pediram para ficar no Brasil e a suspensão, por motivos ideológicos, do Paraguai no Mercosul. O Brasil sumiu do cenário e o Itamaraty está à deriva. Busca-se uma politica externa pragmática e de resultados.
Rubens Barbosa é presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp
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