Entrevista:O Estado inteligente
A crise segue... lá fora - PAULO GUEDES
O GLOBO - 28/11/11
É visível o agravamento da crise europeia. Estão bloqueadas as três rotas de fuga convencionais. Dinheiro farto como pratica o Federal Reserve americano, nem pensar, pois são os alemães que controlam o Banco Central Europeu. Desvalorizar moedas nacionais, não há como, pois não mais existem. E recorrer a uma expansão contracíclica de gastos públicos é impossível, pois a irresponsabilidade financeira da social-democracia europeia literalmente quebrou seus governos.
A piora do ambiente externo aumenta as incertezas quanto ao futuro desempenho da economia brasileira. Mas não somos uma folha ao vento da globalização. Temos um mercado interno de dimensões continentais, que sempre nos permitiu uma dinâmica própria de crescimento. Temos recursos naturais abundantes, do minério ao pré-sal; muita terra e água sobrando, que nos dão comida barata e energia limpa; uma demografia extraordinariamente favorável para as próximas três décadas; e o mundo nos oferece dinheiro barato e novas tecnologias acessíveis enquanto parou para conserto.
Uma importante questão é nossa vulnerabilidade à deterioração do macroambiente externo. Na dimensão financeira, em que medida a persistência da crise bancária europeia em torno da dívida soberana poderá atingir os canais de crédito para o Brasil, como ocorreu em 2008-2009? É fato que a rápida desalavancagem de bancos americanos e europeus e o colapso dos títulos de dívidas soberanas ameaçam seriamente as finanças ocidentais. Mas o Brasil já desalavancou seu sistema financeiro quando saiu do turbilhão inflacionário. E tivemos também de controlar os níveis de endividamento do setor público. Por isso têm resistido ao contágio os canais de crédito internacional ao Brasil. A menos que ocorra uma completa implosão do sistema financeiro europeu, devem permanecer moderados os efeitos da crise sobre a economia brasileira.
E quanto aos receios de queda dos preços de commodities pela desaceleração da China? A verdade é que o afundamento do preço do dólar se tornara um fator de desindustrialização. Uma queda moderada nos preços de matérias-primas - e o consequente aumento da taxa de câmbio - desagradaria aos turistas brasileiros, esfriando nossas compras de imóveis em Miami. Mas devolveria alguma competitividade às indústrias brasileiras de automóveis, aço, calçados, têxteis, móveis, manufaturados, turismo. A crise segue lá fora.
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