O Estado de S.Paulo - 02/11/11
A decisão do primeiro-ministro da Grécia, George Papandreou, de convocar referendo popular para validar (ou não) o pacote de salvação aprovado na cúpula da área do euro, dia 27, mostra como são precárias as condições políticas do bloco. O que foi arduamente negociado pode não servir para nada.
Há o tempo da política, o tempo da economia e o tempo dos mercados. Mesmo quando tudo vai bem, nem sempre são sincronizados. Mas na crise são sempre desencontrados e produzem um tranco após o outro.
Papandreou precisa de apoio para governar, porque 60% da população rejeita o programa de austeridade negociado em troca do socorro. Mas, se for mesmo convocado, o referendo suspenderá a vigência do principal que, agora, pode não acontecer. Nem todas as decisões tomadas na cúpula do euro diziam respeito à Grécia. A necessidade de elevar o alcance do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (EFSF), por exemplo, fica ainda mais reforçada.
A realização do referendo não é certa. Há indicações de que o Congresso da Grécia pode rejeitá-lo. Nesse caso, as condições de sobrevivência política de Papandreou diminuirão e novas eleições poderão ser marcadas. Mesmo assim, ficaria a incógnita do tratamento político que um novo governo daria ao pacote de socorro.
Se o referendo for mantido e os eleitores não aceitarem o arranjo proposto, não obrigatoriamente a Grécia teria de sair da zona do euro. Essa posição seria entendida como recusa do plano de austeridade e imposição de novas condições (mais transferências) pela Grécia aos sócios da União Monetária. E seria preciso saber se os outros 16 países-membros do bloco se disporiam a bancar mais ajuda aos gregos e a troco de quê.
Independentemente disso, seria improvável que essa votação acontecesse antes de janeiro e, enquanto isso, mergulhada em mais incerteza, a economia europeia poderá encolher ainda mais.
Alguns analistas têm argumentado que o abandono da área do euro pela Grécia sairia caro para os gregos mas, ainda assim, ficaria mais barato do que continuar nas atuais condições.
Essa é uma conta difícil de fazer. O problema é que um calote maior do que 50%, como o acertado na semana passada, deixaria credores em situação ainda mais complicada e exigiria mais reforço de capital dos bancos. Além disso, fora do clube a Grécia não poderia mais esperar por ajuda externa.
A reintrodução da dracma, por sua vez, exigiria forte desvalorização em relação ao euro, para que salários de trabalhadores gregos se desvalorizassem em euros e custos de produção caíssem e facilitassem a recuperação da atividade econômica e do emprego. Uma das consequências seria o aumento da inflação na Grécia.
Do ponto de vista da área do euro, mais essa surpresa dos gregos demonstra como é frágil a sustentação da União Monetária, sem união fiscal e sem um mínimo de coesão política.
Caso se mantenha a convocação do referendo, a provável deterioração da economia pelo aumento do tempo de espera aumentaria o risco de que ocorra uma série desordenada de suspensão de pagamentos (defaults) por parte de Portugal, Irlanda, Itália e Espanha. O acordo do dia 27 mostrou que, em havendo vontade política, é possível agilizar respostas. Mas fica cada vez mais inevitável que o Banco Central Europeu seja chamado para apagar incêndios com emissão de moeda.
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Arquivo do blog
-
▼
2011
(2527)
-
▼
novembro
(124)
- Quanto maior, pior - EDITORIAL O GLOBO
- A saúde dos jornais - CARLOS ALBERTO DI FRANCO
- Ninguém sabe, ninguém viu - EDITORIAL O ESTADÃO
- De volta a 1937 - RUBENS RICUPERO
- Carros inseguros - EDITORIAL FOLHA DE SP
- Ar mais respirável - GEORGE VIDOR
- A crise segue... lá fora - PAULO GUEDES
- Mazelas - próprias e adquiridas por contágio - MAR...
- No mais cruel dos dias, VEJA revela outra sujeira ...
- De herege a profeta Merval Pereira
- HOSPITAL DE GRIFE? LOUIS VUITTON -ELIO GASPARI
- Além da dose - EDITORIAL FOLHA DE SP
- FUNDAMENTALISMO ATEU - IVES GANDRA DA SILVA MARTINS
- Sonho adiado - MERVAL PEREIRA
- República - de volta para o futuro - JOSÉ SERRA
- A Batalha da França - DEMÉTRIO MAGNOLI
- Alerta Brasil, tudo piorou... - ALBERTO TAMER
- Na zona do euro, avanço ou ruína - MARTIN WOLF
- A tortuosa sobrevida de um ministro EDITORIAL O Globo
- O PAC continua devagar - EDITORIAL O ESTADÃO
- Sol com peneira - DORA KRAMER
- Visão interna - MIRIAM LEITÃO
- Outubro, fundo do poço? - VINICIUS TORRES FREIRE
- Domingo na Rocinha - CONTARDO CALLIGARIS
- A prova dos 9 e dos 4,5% - VINICIUS TORRES FREIRE
- Amarração com a China - CELSO MING
- As consequências - MERVAL PEREIRA
- Erros e lições - MIRIAM LEITÃO
- Outros quinhentos Dora Kramer
- A seleção dos piores Rolf Kuntz
- A USP e a corrosão do caráter- Roberto Romano
- Afinal, quem tem medo da mentira? José Nêumanne
- Mentira & politicagem -:Roberto DaMatta
- Sob nova direção - Celso Ming
- República das Bananas Rodrigo Constantino
- Qual é essa de “eu teamo”? - João Ubaldo Ribeiro
- Governos concentram, não distribuem renda-SUELY CA...
- Um corpo que cai Dora Kramer
- Desacelerou Celso Ming
- Por que Dilma faz sucesso? João Mellão Neto
- A insustentável leveza de Lupi Guilherme Fiúza
- Apagão de mão de obra Claudio de Moura Castro
- Olá, passado; cuidado, futuro - Maílson da Nóbrega
- Trapaça do tempo Roberto Pompeu de Toledo
- Arthur Virgílio -Falar sério
- [INDICE DE ARTIGOS ETC] 14/11/2011
- La conspiración que encubre los problemas Por Joaq...
- Cristina oscila entre dar la mano y retener el puñ...
- Meu reino por uma causa-Sandro Vaia
- É a política DORA KRAMER
- Couro duro MERVAL PEREIRA
- A agonia de Berlusconi CELSO MING
- Livros, leitores e antileitores ROBERTO DaMATTA
- Avanço à vista ANTONIO DELFIM NETTO
- Lupi, o republicano ROLF KUNTZ
- Peru MARTHA MEDEIROS
- Morrer como bebês PAULO SANT’ANA
- De mal e benfeitores ZUENIR VENTURA
- A revolução dos "bichos grilos" mimados da USP JOS...
- Soberania atropelada CELSO MING
- Está quente MIRIAM LEITÃO
- Prazo apertado RUBENS BARBOSA
- O respeitável público MERVAL PEREIRA
- Visões distintas DORA KRAMER
- Terceirização - quem é o responsável? JOSÉ PASTORE
- Libertação animal HÉLIO SCHWARTSMAN
- Novo Banco Central Europeu ANTONIO DELFIM NETO
- Um pouco de tumulto, por favor VINICIUS TORRES FREIRE
- PAULO GUEDES - A faxina continua
- EVERARDO MACIEL - As batalhas pela simplificação t...
- RENATO JANINE RIBEIRO - De cargo em cargo
- SIMON SCHWARTZMAN - O teto de vidro da educação br...
- RICARDO NOBLAT- Mau cheiro
- LUIZ FELIPE PONDÉ - Geração Capitão Planeta
- RUBEM AZEVEDO LIMA - Lula e seu câncer
- MELCHIADES FILHO- Rock Brasília
- DENIS LERRER ROSENFIELD - Há algo novo em curso
- GUSTAVO IOSCHPE - Só mais dinheiro não resolve
- EDITORIAL ZERO HORA - Manobra pró-mensaleiros
- VINICIUS MOTA - Os bebês da USP
- ENTREVISTA - REVISTA VEJA ENTREVISTA Roger Noriega
- A rebelião dos mimados - REVISTA VEJA
- Dilma, a gerente omissa-estadao- Rolf Kuntz
- Sem controle EDITORIAL FOLHA DE SP
- Felizes, desiguais e pouco democratas GAUDÊNCIO T...
- A degradação da UNE EDITORIAL O Estado de S.Paulo
- O exame da OAB HÉLIO SCHWARTSMAN
- Quem perde, quem ganha ELIANE CANTANHÊDE
- A improbidade protegida JANIO DE FREITAS
- Ainda Lula DANUZA LEÃO
- Exercício de adivinhação FERREIRA GULLAR
- Tempos difíceis AFFONSO CELSO PASTORE
- O dono do livro MARTHA MEDEIROS
- AMIR KHAIR - Meta de inflação
- Fernando Henrique Cardoso -Corrupção e poder
- CELSO MING - Não emplacou
- ALBERTO TAMER -Brasil e G-20, dinheiro não
- João Ubaldo Ribeiro -À casa torno
- Gilles Lapouge -Monarquia reformada
- DORA KRAMER Impávido colosso
-
▼
novembro
(124)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA