A velocidade das notícias
5 de novembro de 2011 | 10h28
Ethevaldo Siqueira
Coluna do Estadão de domingo, dia 6 de novembro de 2011
Um lance dado por investidores norte-americanos na bolsa eletrônica Nasdaq dá a volta do mundo em 2,5 segundos. Esse é apenas um exemplo da rapidez das comunicações no mundo atual. Centenas de milhões de pessoas têm sido testemunhas oculares de eventos históricos como a queda das torres gêmeas de Nova York, as Olimpíadas, a Copa do Mundo de futebol, a entrega do Oscar em Hollywood, a crise do euro ou as reuniões do G-20.
Mas nem sempre foi assim. As informações circulavam lentamente na Antiguidade. Todos conhecem o caso do atleta grego Fidípedes que, segundo a lenda, correu 42 quilômetros, para dar a notícia da vitória da Grécia, na batalha de Maratona, em 490 a.C., na primeira guerra contra os persas. Ao chegar a Atenas, exaurido pelo esforço, ele só teve forças para dizer: "Alegrai-vos, atenienses, nós vencemos." E caiu morto.
Outro caso emblemático é o da carta-reportagem de Pero Vaz de Caminha, levada por uma das caravelas destacadas por Cabral para a missão de dar a D. Manuel I a notícia da descoberta do Brasil. Ela só chega às mãos do rei quase dois meses depois.
No século 19, a notícia da morte de Abraham Lincoln, em 1865, só chegou a Londres 12 dias depois do assassinato, pelos jornais americanos transportados pelo primeiro navio que deixou o porto de Baltimore em direção à Inglaterra. No ano seguinte, 1866, com a inauguração do primeiro cabo submarino telegráfico transatlântico, as notícias dos Estados Unidos podem fazer o mesmo percurso em poucos segundos. Mas a comunicação ainda é ponto-a-ponto.
O salto da web
Tomemos o caso da internet em nossos tempos. A primeira interligação entre dois computadores ocorreu no dia 21 de novembro de 1961. Uma das máquinas estava na Universidade da Califórnia em Los Angeles. A outra, na Universidade de Stanford, em Palo Alto. Nenhum jornal registrou o fato histórico.
Anos depois, com o nascimento da Arpanet, a rede antecessora da internet, em 1969, o mundo da comunicação dá uma espécie de salto quântico. Nos anos seguintes, duas inovações extraordinárias: o protocolo IP, criado pelos engenheiros americanos Vinton Cerf e Robert Kahn em 1973, e a teia mundial (worldwide web ou WWW), concebida pelo físico inglês, Tim Berners-Lee, em 1990.
Vejam o que ocorreu a partir de 1991, ano em que não havia mais do que alguns milhares de usuários da web no mundo, a maioria dos quais era de acadêmicos e militares. A barreira do primeiro bilhão de usuários é quebrada em 2004. O segundo bilhão é ultrapassado em 2010.
O crescimento futuro dessa rede mundial deve ser ainda mais surpreendente. Segundo as previsões da União Internacional de Telecomunicações (UIT), quando a Copa do Mundo estiver sendo inaugurada no Brasil, em 2014, o número de internautas no planeta estará superando os 3 bilhões. E, em 2025, a internet deverá estar sendo usada por mais de 80% dos habitantes da Terra.
A explosão do celular
No mundo das comunicações, o recorde mais impressionante, entretanto, tem sido o do celular. Lançado comercialmente no início da década de 1980, ele alcançou o primeiro bilhão em 2001. O segundo bilhão, em 2004. O terceiro, em 2006. O quarto, em 2008. O quinto, em 2010. E, no final deste ano, serão 6 bilhões. Em 2018, o mundo deverá ter mais celulares do que habitantes.
Nenhum bem durável está mais difundido no mundo do que o telefone móvel. Seu número supera o de televisores, de rádios, de computadores, de automóveis, de fogões e refrigeradores. É triste lembrar, contudo, que 1 bilhão de usuários do celular ainda não usam escova de dentes, segundo as Nações Unidas.
Pessoalmente, tenho testemunhado a impressionante aceleração da velocidade de circulação das notícias ao longo dos 44 anos de minha vida jornalística. Nunca me esquecerei das imagens cheias de chuvisco, às 23 horas e 56 minutos (hora de Brasília) de 20 de julho de 1969, quando mais de 600 milhões de seres humanos puderam testemunhar pela televisão o momento em que um ser humano, o astronauta Neil Armstrong, pisou pela primeira vez o solo da Lua. E pronunciou a frase histórica: "Um pequeno passo para o homem; um grande salto para a humanidade."
Trabalho da imprensa
No mesmo ano, entretanto, nossas coberturas internacionais ainda enfrentavam a precariedade dos serviços de telecomunicações. Numa reportagem feita em Paris, eu tinha que sair correndo às três horas da tarde para uma agência estatal de telex e digitar minha própria matéria, em fita perfurada, para transmiti-la lentamente para o jornal. Em seguida, corria para o aeroporto de Orly e implorava a um piloto da velha Varig que me levasse as cópias do texto e os filmes preto-e-branco para São Paulo. A reportagem só seria publicada 36 horas depois.
Na metade dos anos 1990, tive uma experiência surpreendente, ao transmitir pela internet, em alguns segundos, de Tóquio para a redação do Estadão, uma longa matéria ilustrada com fotos digitalizadas. Era a primeira vez que sentia o prazer de uma transmissão tão rápida via web. Cético, apanhei o telefone e liguei para o jornal para me certificar se o material havia chegado bem. Hoje tudo isso é coisa rotineira.
E no futuro nossas reportagens terão imagens holográficas, em cores, tridimensionais e odoríferas. Não duvidem.
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
sábado, novembro 05, 2011
A velocidade das notícias Ethevaldo Siqueira
Arquivo do blog
-
▼
2011
(2527)
-
▼
novembro
(124)
- Quanto maior, pior - EDITORIAL O GLOBO
- A saúde dos jornais - CARLOS ALBERTO DI FRANCO
- Ninguém sabe, ninguém viu - EDITORIAL O ESTADÃO
- De volta a 1937 - RUBENS RICUPERO
- Carros inseguros - EDITORIAL FOLHA DE SP
- Ar mais respirável - GEORGE VIDOR
- A crise segue... lá fora - PAULO GUEDES
- Mazelas - próprias e adquiridas por contágio - MAR...
- No mais cruel dos dias, VEJA revela outra sujeira ...
- De herege a profeta Merval Pereira
- HOSPITAL DE GRIFE? LOUIS VUITTON -ELIO GASPARI
- Além da dose - EDITORIAL FOLHA DE SP
- FUNDAMENTALISMO ATEU - IVES GANDRA DA SILVA MARTINS
- Sonho adiado - MERVAL PEREIRA
- República - de volta para o futuro - JOSÉ SERRA
- A Batalha da França - DEMÉTRIO MAGNOLI
- Alerta Brasil, tudo piorou... - ALBERTO TAMER
- Na zona do euro, avanço ou ruína - MARTIN WOLF
- A tortuosa sobrevida de um ministro EDITORIAL O Globo
- O PAC continua devagar - EDITORIAL O ESTADÃO
- Sol com peneira - DORA KRAMER
- Visão interna - MIRIAM LEITÃO
- Outubro, fundo do poço? - VINICIUS TORRES FREIRE
- Domingo na Rocinha - CONTARDO CALLIGARIS
- A prova dos 9 e dos 4,5% - VINICIUS TORRES FREIRE
- Amarração com a China - CELSO MING
- As consequências - MERVAL PEREIRA
- Erros e lições - MIRIAM LEITÃO
- Outros quinhentos Dora Kramer
- A seleção dos piores Rolf Kuntz
- A USP e a corrosão do caráter- Roberto Romano
- Afinal, quem tem medo da mentira? José Nêumanne
- Mentira & politicagem -:Roberto DaMatta
- Sob nova direção - Celso Ming
- República das Bananas Rodrigo Constantino
- Qual é essa de “eu teamo”? - João Ubaldo Ribeiro
- Governos concentram, não distribuem renda-SUELY CA...
- Um corpo que cai Dora Kramer
- Desacelerou Celso Ming
- Por que Dilma faz sucesso? João Mellão Neto
- A insustentável leveza de Lupi Guilherme Fiúza
- Apagão de mão de obra Claudio de Moura Castro
- Olá, passado; cuidado, futuro - Maílson da Nóbrega
- Trapaça do tempo Roberto Pompeu de Toledo
- Arthur Virgílio -Falar sério
- [INDICE DE ARTIGOS ETC] 14/11/2011
- La conspiración que encubre los problemas Por Joaq...
- Cristina oscila entre dar la mano y retener el puñ...
- Meu reino por uma causa-Sandro Vaia
- É a política DORA KRAMER
- Couro duro MERVAL PEREIRA
- A agonia de Berlusconi CELSO MING
- Livros, leitores e antileitores ROBERTO DaMATTA
- Avanço à vista ANTONIO DELFIM NETTO
- Lupi, o republicano ROLF KUNTZ
- Peru MARTHA MEDEIROS
- Morrer como bebês PAULO SANT’ANA
- De mal e benfeitores ZUENIR VENTURA
- A revolução dos "bichos grilos" mimados da USP JOS...
- Soberania atropelada CELSO MING
- Está quente MIRIAM LEITÃO
- Prazo apertado RUBENS BARBOSA
- O respeitável público MERVAL PEREIRA
- Visões distintas DORA KRAMER
- Terceirização - quem é o responsável? JOSÉ PASTORE
- Libertação animal HÉLIO SCHWARTSMAN
- Novo Banco Central Europeu ANTONIO DELFIM NETO
- Um pouco de tumulto, por favor VINICIUS TORRES FREIRE
- PAULO GUEDES - A faxina continua
- EVERARDO MACIEL - As batalhas pela simplificação t...
- RENATO JANINE RIBEIRO - De cargo em cargo
- SIMON SCHWARTZMAN - O teto de vidro da educação br...
- RICARDO NOBLAT- Mau cheiro
- LUIZ FELIPE PONDÉ - Geração Capitão Planeta
- RUBEM AZEVEDO LIMA - Lula e seu câncer
- MELCHIADES FILHO- Rock Brasília
- DENIS LERRER ROSENFIELD - Há algo novo em curso
- GUSTAVO IOSCHPE - Só mais dinheiro não resolve
- EDITORIAL ZERO HORA - Manobra pró-mensaleiros
- VINICIUS MOTA - Os bebês da USP
- ENTREVISTA - REVISTA VEJA ENTREVISTA Roger Noriega
- A rebelião dos mimados - REVISTA VEJA
- Dilma, a gerente omissa-estadao- Rolf Kuntz
- Sem controle EDITORIAL FOLHA DE SP
- Felizes, desiguais e pouco democratas GAUDÊNCIO T...
- A degradação da UNE EDITORIAL O Estado de S.Paulo
- O exame da OAB HÉLIO SCHWARTSMAN
- Quem perde, quem ganha ELIANE CANTANHÊDE
- A improbidade protegida JANIO DE FREITAS
- Ainda Lula DANUZA LEÃO
- Exercício de adivinhação FERREIRA GULLAR
- Tempos difíceis AFFONSO CELSO PASTORE
- O dono do livro MARTHA MEDEIROS
- AMIR KHAIR - Meta de inflação
- Fernando Henrique Cardoso -Corrupção e poder
- CELSO MING - Não emplacou
- ALBERTO TAMER -Brasil e G-20, dinheiro não
- João Ubaldo Ribeiro -À casa torno
- Gilles Lapouge -Monarquia reformada
- DORA KRAMER Impávido colosso
-
▼
novembro
(124)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA