Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, novembro 01, 2011

Jogo de xadrez REGINA ALVAREZ

O GLOBO - 01/11/11

Que a crise na zona do euro dominará a agenda da cúpula de líderes do G-20 ninguém duvida. Todos os demais assuntos da pauta, embora relevantes, ficarão em segundo plano diante da urgência do primeiro tema. Falta muita amarração no pacote anunciado semana passada pelos líderes europeus e, por isso mesmo, aumentaram as expectativas em relação ao encontro de líderes esta semana em Cannes.

Não se sabe exatamente como será a participação do Fundo Monetário Internacional (FMI) e dos emergentes no esforço para recuperar o bloco europeu. E essa definição, mesmo que não seja apresentada em detalhes. pode sair da cúpula do G-20, já que todas as peças desse jogo de xadrez estarão presentes no encontro.

A expressão “jogo de xadrez” foi usada pelo economista Paulo Nogueira Batista Jr., que representa o Brasil no FMI, em artigo onde alerta para as “cascas de banana” e “risco de facadas nas costas” que envolvem essa negociação. Batista Jr. diz que esta é uma oportunidade que o G-20 não deveria desperdiçar, pois “será um fiasco se os líderes se reunirem para aprovar trivialidades, reiterar boas intenções e repetir generalidades, saindo de Cannes sem oferecer uma resposta à crise”.

O economista Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central e atual sócio da Consultoria Tendências, considera que uma sinalização importante que o G-20 daria para mercados nesse momento seria reforçar o papel do FMI, com mudança na governança para uma maior participação dos emergentes:

— O mercado vai olhar com lupa o comunicado do G-20. Qualquer sinal de avanço vai ser bem recebido.

Os representantes do governo brasileiro na cúpula trabalham para que isso aconteça. Mas os países europeus demonstram pouco entusiasmo em reforçar a posição dos emergentes no Fundo, embora neste momento estejam com o pires na mão em busca de recursos da China, do Brasil e de outros catalogados nessa categoria. Assim, fechar a equação não será simples.

Já em relação a outros pontos da agenda, como algum tipo de regulação no fluxo de capitais, por exemplo, Loyola não espera avanços.

— Não vejo possibilidade de sair nada concreto na área de regulação de fluxo de capitais. Os países não irão assumir esse ônus neste momento de crise, reduzindo as possibilidades de se defenderem — afirma.

Efeito perverso
Enfrentar o desemprego elevado é um dos muitos desafios que a Europa tem pela frente. A taxa de desocupação média na zona do euro bateu recorde em setembro, atingindo mais de 16 milhões de pessoas, 10,2% da população economicamente ativa, segundo dados divulgados ontem pela Eurostat. O gráfico abaixo mostra que o problema é ainda mais grave entre os jovens com menos de 25 anos, para os quais a taxa chegou a 48% no caso da combalida Espanha. Entre agosto e setembro, o desemprego nessa faixa etária aumentou em todos os países encrencados da região, com exceção da Irlanda, que registrou pequena redução.

Professor do IE Business School, o economista espanhol Fernando Fernández destaca que recuperar a confiança e o acesso ao mercado são os grandes desafios da Espanha, o que exigirá uma reforma laboral profunda. Fernández considera que o euro ainda corre riscos, apesar do pacote de medidas anunciadas pelo bloco europeu, na semana passada, para atacar a crise local.

— Haverá riscos enquanto não se chegar a uma integração fiscal, financeira e política. Mas digamos que nos afastamos consideravelmente do precipício.

CUSTO ATENUADO: A desvalorização cambial nos últimos dois meses reduziu drasticamente o chamado custo fiscal de manutenção das reservas internacionais. Entre julho e setembro, esse custo despencou de 2,5% do PIB para 0,1%. Se o dólar sobe, o governo ganha, porque tem mais créditos a receber do que dívidas em moeda estrangeira.

LADEIRA ABAIXO: Se os números do IBGE confirmarem hoje nova queda da produção industrial, como preveem alguns analistas, será o terceiro recuo em quatro meses. O Itaú Unibanco estima queda de 1,4%; o Bradesco, de 1,3%.

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