Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, maio 03, 2011

Um país só - LUIZ GARCIA


O GLOBO - 03/05/11
Pergunte-se a qualquer cidadão - pobre ou idoso, rico ou jovem - onde prefere que o poder público gaste o rico dinheirinho dos impostos pagos por ele.
O número um da lista pode variar um bocado. Depende muito daquilo que mais falta faz ao interrogado - o que, obviamente, varia segundo o nível de renda de cada um. Mas dá para apostar que a segurança pública aparecerá sempre entre os itens mais votados.
É certo que os mais pobres quase sempre têm a violência como vizinha - e o medo, em grau maior ou menor, como companheiro permanente. Mas quem precisa sair de casa todo dia sabe como é tristemente verdadeiro o chavão que fala na selva das cidades. Aqui e quase no mundo todo.
Não é por acaso que a mídia, em quase todos os seus veículos, dedica muito tempo e vasto espaço para fazer o balanço periódico dessa guerra triste. Que não deixa de incluir vitórias para o nosso lado - como aconteceu, não faz muito tempo, no Complexo do Alemão. A repercussão do episódio foi uma merecida vitória política para as autoridades estaduais. Se alguém não soubesse ainda, uma campanha bem-sucedida contra o crime organizado produz merecidos dividendos.
Em suma, investir em segurança pública não é apenas algo obviamente indispensável: também ajuda a carreira de quem vai por esse caminho. Não há cinismo algum em reconhecê-lo.
É pena que essa combinação de fatores não parece ser percebida em Brasília. Como O GLOBO contou no domingo, o governo Rousseff fez um festival de tesoura nas suas promessas de campanha a propósito da segurança pública. A participação do governo federal nessa área foi abatida a canetadas.
Exemplos: o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania - uma beleza de nome, não? - perdeu 47% das verbas previstas. Não foi episódio isolado. Um projeto de implantação de postos de polícia comunitária e outro de modernização de cadeias não receberão um único centavo este ano. Convênios assinados com estados como Rio de Janeiro, Minas e Espírito Santo tiveram cortes violentos. Todos se queixam. E na Polícia Federal, que obviamente não pode reclamar abertamente, não faltam protestos. Segundo um de seus superintendentes ouvidos pelo GLOBO, "não tem dinheiro para nada".
O governo Dilma tem lá suas prioridades. Mas comete erro grave - tanto do ponto de vista administrativo como politicamente - quando trata com essa leviandade toda a área de segurança pública. Brasília, tanto quanto se sabe, não tem exércitos de traficantes como os que existem no Rio e em diversos outros estados. Mas é erro grave imaginar que um estado de coisas geograficamente distante do Planalto Central não acabará tendo graves repercussões, políticas e sociais, na capital.
Desculpem o chavão: o país é grande, mas é um só.

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