Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, maio 13, 2011

Geléia geral Nelson Motta

O Globo - 13/05/2011

Num baile de carnaval carioca, Regina Casé foi entrevistada por um
repórter de TV e reclamou: "Pô, aqui todo mundo é
atriz-modelo-manequim? E as piranhas, onde estão as piranhas?"

O baile político está parecido. Todo mundo quer dançar com o governo,
a esquerda, a direita e o centro, invertendo a clássica piada dos anos
60 em que o anarquista dizia "Hay gobierno? Soy contra!"

Agora todo mundo quer ser a favor, principalmente de si mesmo.
Oficialmente será sempre pela governabilidade, um eufemismo nacional
para custo-benefício político. Será que o Brasil vai surpreender o
mundo com a novidade da democracia sem oposição?

Quem não quer desenvolvimento econômico com justiça social e
sustentabilidade ecológica? Quem pode ser contra o combate à fome, à
criminalidade e à inflação? A valorização do funcionalismo público,
dos professores e dos policiais? Os investimentos em educação, saúde e
infraestrutura, a harmonização entre capital e trabalho?

O óbvio ululante de Nelson Rodrigues é o que une todos os grandes
partidos e seus programas. É só uma questão de estilo. Parece que, no
fundo, a grande diferença é que uns querem mais poder para o Estado e
outros menos. E todos acham que só a sua turma sabe governar.

Na Itália civilizada e democrática, a razzia que a Operação Mãos
Limpas fez na cena política devastou o quadro partidário e abriu um
vazio de poder para Berlusconi e sua gangue, que desmoralizaram ou
cooptaram os adversários. O devasso Berlusca está caindo de podre, mas
não há alternativas políticas viáveis a ele, por falta de líderes da
oposição.

No Brasil hiperpresidencialista e sub-republicano, prefeitos dizem que
ser oposição é quase um suicídio administrativo, um atentado contra os
interesses da população. Tanto serve de justificativa cínica para os
picaretas como expressão das reais dificuldades dos honestos. O que
une os melhores e os piores é a expectativa de poder para o seu grupo.

Mais um pouco e podemos chegar a uma versão 2.0 do PRI mexicano, que
ficou 71 anos no poder e era o modelo político que a ditadura sonhava
para a Arena que Sarney presidia.

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