O Estado de S. Paulo - 18/05/2011 |
Tem sido lugar-comum na recente história congressual brasileira que um projeto de lei, no curso de sua análise e efetivação como lei, sofra a inclusão de artigos (enxertos) que não necessariamente estão ligados ao tema que demandou na origem a sua edição. Esse fato gerou, na legislação afeta ao setor elétrico, um emaranhado de regras esparsamente localizadas e muitas vezes sem nenhuma inter-relação entre elas, de sorte que é necessário aos interessados consultar diferentes leis, decretos, regulamentos e resoluções para se assegurarem das assertivas a defender. Um dos juristas que conhece bem a matéria costuma dizer que a legislação do setor elétrico brasileiro não é nem uma colcha de retalhos, porque neste caso eles costumam estar costurados uns aos outros. Na legislação do setor, diferentes leis, decretos, regulamentos e resoluções podem ser considerados retalhos soltos e dispersos. E, por paradoxal que seja, existe uma lei, criada há mais de dez anos, que define quais regramentos as leis devem atender para serem proclamadas. Nesses casuísmos do setor elétrico e na pressa de configurar "uma solução", vieram a considerar a energia a ser comercializada pela usina nuclear como energia de reserva. Ora, o conceito de energia de reserva e sua estruturação comercial na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) são advindos do fato de as energias eólica e de biomassa terem características muito próprias de sazonalidade ou intermitência (falta de ventos). No caso da energia nuclear, essa fonte funciona, na base, sem interrupções - salvo as programadas - e, portanto, não há nem sazonalidade nem calmarias. O fato de a comercialização da energia considerada como de reserva ser feita na CCEE a obriga, e a seus associados, a suportar os riscos financeiros advindos desta operação de compra e venda. No caso das atuais nucleares, "a coisa está passando aparentemente sem maiores problemas". Mas os riscos são enormes para seus associados. Cabe lembrar que, se a tendência for as empresas privadas assumirem o papel de concessionárias de usinas nucleares a ser construídas - e mesmo as novas nucleares em análise de implantação -, que elevarão o montante de energia a ser produzida por essa fonte, seria lógico que fossem implantados desde já leilões específicos e que fosse abandonada a ideia de mais um casuísmo representado pela consideração da energia produzida como de reserva. Na defesa disso poderíamos também considerar que as empresas privadas que irão explorar a concessão de nucleares não poderão ter como garantidora da operação uma CCEE, que é uma câmara de comercialização, e sim o conjunto das distribuidoras que nos leilões se constituem nos compradores da energia, oferecendo assim uma garantia de fluxo de pagamentos que o histórico dos registros da CCEE, até pouco tempo, indicava uma adimplência desses contratos de compra e venda superior a 95%, o que se constitui numa garantia superior àquela que a energia de reserva poderia oferecer, na forma que hoje está estruturada. O tsunami no Japão, que causou grandes estragos em usinas nucleares, trouxe de volta a discussão da necessidade de construção de mais usinas. O fato é que o mundo e o Brasil precisarão cada vez mais de energia elétrica e não poderão abrir mão de nenhuma fonte. Certamente, muitas novas exigências serão feitas para tais construções, o que é correto. Mas a qualidade de uma fonte como a nuclear, que não gera CO2 nem metano (CH4), terá de ser levada em conta. No Brasil, segundo o próprio governo, a energia oriunda de hidrelétricas terá só mais 20 anos pela frente. Portanto, é dever de casa diversificar a matriz elétrica brasileira, e neste caso não dá para abrir mão da nuclear. Não propomos o tout nucléaire, como os franceses, mas um pouco mais de nuclear é fundamental para garantir o abastecimento do mercado brasileiro. E, para que isso ocorra com a presença de capital privado, é preciso estabelecer uma regulação com conceitos claros e apropriados para a energia nuclear, sem casuísmos. |
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
quarta-feira, maio 18, 2011
Coisas do Brasil Adriano Pires e Abel Holtz
Arquivo do blog
-
▼
2011
(2527)
-
▼
maio
(328)
- Novos rumos MERVAL PEREIRA
- O Fundo, no fundo MIRIAM LEITÃO
- À moda da tucanagem Dora Kramer
- Gato e rato - Celso Ming
- Ele voltou Marco Antonio Villa
- Contrapartidas ao bom-mocismo Adriano Pires e Abel...
- MEC não quer ensinar CARLOS ALBERTO DI FRANCO
- O FMI do homem branco Marcelo de Paiva Abreu
- Nau sem rumo José A. Guilhon Albuquerque
- Brasil - a desordem do progresso Antonio Corrêa De...
- A lista de Palocci Carlos Alberto Sardenberg
- Os donos do poder Daniel Piza
- Strauss-Kahn e as teorias da conspiração Gilles La...
- Clientes e patronos de Palocci VINICIUS TORRES FREIRE
- Chama Lula! Alberto Dines
- Resistindo à chantagem Suely Caldas
- Esse Palocci é um gênio CLÓVIS ROSSI
- Educação para o debate SERGIO FAUSTO
- O criador contra a criatura JANIO DE FREITAS
- Verdade e preconceito FERREIRA GULLAR
- Turbulência no voo MIRIAM LEITÃO
- Política e democracia DORA KRAMER
- Um amigo leve DANUZA LEÃO
- Furando as teias mafiosas GAUDÊNCIO TORQUATO
- Observações de um usuário JOÃO UBALDO RIBEIRO
- Acorda, Congresso! Otávio Leite
- Confronto não ajuda Dilma - Alberto Dines
- Jangada de pedra CESAR MAIA
- Da casa do lobby ao apartamento da empresa MIGUEL ...
- Os estragos da tormenta EDITORIAL O Estado de S.Paulo
- Lula e Dilma EDITORIAL FOLHA DE SÃO PAULO
- A presidente ''ultrapassada'' Editorial de O Estad...
- ANTONIO PALOCCI E MARCOS VALÉRIO: UM ESQUEMA ANÁLO...
- Melhor que roubar bancos VINICIUS TORRES FREIRE
- O fino da grossura NELSON MOTTA
- Fissura profunda - Dora Kramer
- Devagar demais Celso Ming
- Palocci e o jogo do futuro Fernando Gabeira
- O terreno difícil dos agrotóxicos Washington Novaes
- Não esquecer Rogério L.F. Werneck
- Strauss-Kahnikov
- Lula sobe, Dilma desce ELIANE CANTANHÊDE
- Dilma, cadê você? CLÓVIS ROSSI
- Lula assume o comando EDITORIAL O Estado de S. Paulo
- Caso Pimenta e o pior da Justiça brasileira EDITOR...
- Melhor do que o esperado - Celso Ming
- Fratura exposta Dora Kramer
- Palocci e a hidra de duas cabeças Demétrio Magnoli
- As hidrelétricas já foram pagas? Vilson D. Christo...
- A indústria faz a diferença José Serra
- Palocci Fiction FERNANDO DE BARROS E SILVA
- Na corda bamba MIRIAM LEITÃO
- Fale, Palocci JOSÉ CARLOS DIAS
- Gabinete de Palocci violou sigilo de caseiro, diz ...
- Assim era Palocci VINICIUS TORRES FREIRE
- Cara presidente DANIEL PIZA
- Combustível no pasto ALEXANDRE SCHWARTSMAN
- Reis e dentes podres ROBERTO DaMATTA
- Remédio pior que a doença Celso Ming
- Mera maquiagem Dora Kramer
- Modelando a macroeconomia - Rubem Novaes
- Leis demais: nenhuma lei José Nêumanne
- Europa não deveria controlar o FMI Martin Wolf
- Aldo Rebelo também escreve carta aberta à presiden...
- Palavras forjadas, crise ao vento ELIANE CANTANHÊDE
- O mérito, as cotas e o racismo DEMÓSTENES TORRES
- O Brasil e o churrasquinho grego VINÍCIUS TORRES F...
- A novela vai longe ALON FEUERWERKER
- Sim à agropecuária e sim também ao meio ambiente K...
- Primeira crise Míriam Leitão
- Duvidoso, e daí? Dora Kramer
- Continua ruim Celso Ming
- Domésticas - profissão em extinção? José Pastore
- Controle de capital ou protecionismo Hector R. Torres
- Traduzindo Palocci RICARDO NOBLAT
- O estrategista tupiniquim MARCO ANTONIO VILLA
- " Se pelo menos ensinassem Português" CARLOS ALBER...
- Após revisão em Itaipu, cabe conta ao Paraguai- Se...
- O PT vai encarar a corrupção? Renato Janine Ribeiro
- Pelo Brasil Denis Lerrer Rosenfield
- Notícias argentinas Fabio Giambiagi
- Dos efeitos do priapismo na economia mundial Marco...
- A ponta do iceberg - Sérgio Abreu e Lima Florencio
- Augusto Nunes Vale replay
- ENTREVISTA LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
- Caso reaberto-o uso de dinheiro público no Mensalã...
- Quem comprou Palocci? Clóvis Rossi
- Ente que mente Mary Zaidan
- Sangria desatada Dora Kramer
- Poder fragilizado Merval Pereira
- A 'PEC do Peluso' EDITORIAL O Estado de S.Paulo
- Quanto vale o show de consultoria? VINICIUS TORRES...
- A ''espertocracia'' educacional GAUDÊNCIO TORQUATO
- Presidente, diga a que veio SUELY CALDAS
- Saia justa FERREIRA GULLAR
- Palocci explica Palocci JANIO DE FREITAS
- Responda, se tiver coragem DANUZA LEÃO
- A era do bedelho universal JOÃO UBALDO RIBEIRO
- Sobre a vida após a morte MARCELO GLEISER
- Onda azul CESAR MAIA
-
▼
maio
(328)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA