A Argentina não escapa da recessão, segundo previsão da consultoria do país Abeceb.com. Na Venezuela, recessão é o de menos diante do tumulto social e político. Os dois estão em pleno descontrole inflacionário. O Chile tem as contas em ordem, economia estabilizada e cresce, mas, há pouco mais de um mês no cargo, Michelle Bachelet já enfrentou um terremoto e um incêndio de grandes proporções.
A previsão do FMI para o PIB da Argentina em 2014 é de 0,5%, ou seja, na linha d'água. Mas a do economista Dante Sica, diretor da consultoria Abeced.com e ex-vice-ministro de Indústria do país, é pior. Estima um número vermelho: -1,5% para o PIB e uma inflação de 34,8% este ano. Para 2015, prevê crescimento de 1% e inflação ainda alta, de 26,4%.
— O governo fez algumas correções, com um corte nos subsídios ao gás e à água, e um ajuste monetário e cambial, mas não fez um plano integral. A economia entrará em contração em 2014, com uma taxa de inflação em alta. Como os desequilíbrios continuarão — principalmente a inflação —, o investimento permanecerá fraco. Esperamos apenas uma leve melhora da atividade, só no ano que vem — diz Dante.
O PIB argentino cresceu em torno de 3% em 2013, puxado pela boa colheita agrícola e a recuperação das exportações automotivas para o Brasil. No terceiro trimestre, segundo o economista, houve aumento de gastos por motivos eleitorais. Depois, a economia perdeu ritmo. Ele estima que o PIB tenha caído 0,3% no primeiro trimestre de 2014 em relação ao quarto.
— Por enquanto, a desaceleração foi sentida mais pela indústria e, em particular, nos segmentos como o setor automotivo e o de metal-mecânica. Entretanto, o consumo também pode começar a mostrar maior fraqueza nos próximos meses, à medida em que se confirme uma queda do salário real e a estagnação do mercado de trabalho — prevê.
Os empresários argentinos estão preocupados. Há incerteza sobre a economia, volatilidade das regras do jogo, debilidade do mercado interno e aumento dos custos por conta da inflação elevada.
No Chile, que tem ótima nota de crédito e contas públicas equilibradas, o problema não está na economia. O país deve crescer 3,6% este ano, segundo o FMI, mas revive o pesadelo das tragédias. Michelle Bachelet já enfrentou dois momentos extremos: um terremoto de 8,2 graus e um incêndio "de dimensões nunca vistas", como ela mesma afirmou, em Valparaíso. As perdas humanas e os prejuízos ainda estão sendo contabilizados. No primeiro mandato de Bachelet, o Chile chorou a morte de 525 pessoas, provocadas por um terremoto de 8,8 graus. Esses eventos adiam um pouco os planos da presidente, que se elegeu com a promessa de aumentar os gastos sociais.
A Venezuela entrou em um beco sem saída. Na economia, o país não deve escapar da recessão este ano. O FMI estima que o PIB terá queda de 0,5% em 2014 e um tombo ainda maior, de 1%, em 2015. A economia vai mal, mas é apenas um ingrediente da crise.
Debaixo de sol forte, consumidores fazem filas para comprar produtos da cesta básica em tendas do lado de fora dos supermercados, como mostrou o "El Nacional". Foi a estratégia das redes para tentar "manter a ordem". É que estavam ocorrendo brigas dentro dos estabelecimentos por produtos, roubos, e "alguns comiam o alimento enquanto faziam fila". Com o índice de escassez batendo recorde, os venezuelanos têm dificuldades para comprar produtos básicos, como farinha, leite em pó, óleo e açúcar. A venda é racionada.
A inflação fechou 2013 em 56,3%. Apesar de ser grande produtora de petróleo, a Venezuela vive uma crise cambial e tem reservas baixas. Maduro comemora um ano no poder, os protestos não param, e o saldo é terrível: mais de 40 mortos, muitos feridos, e o número de presos passa de 2 mil. Nas reuniões entre governo e oposição, não houve clima de diálogo.
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