Ao tomar posse em 2011, a presidente Dilma Rousseff prometeu entregar aos brasileiros uma economia próspera e dinâmica, com obras de infraestrutura e novas plantas industriais espalhadas por todo o País, que elevariam a taxa de investimento de 18% para 24% do Produto Interno Bruto (PIB) até o final de seu mandato. Não conseguiu. Em dezembro deste ano ela vai entregar aos brasileiros um país com planos mirabolantes e grandiosos para o futuro e um presente medíocre e sem esperança, com uma média de crescimento de 1,9% em quatro anos e taxa de investimento estacionada entre 18% e 19%.
Na quinta-feira, o Fundo Monetário Internacional divulgou relatório sobre expectativas de desempenho econômico em países da América Latina (AL) para 2014. O resultado é decepcionante. Em média, a região deve crescer 2,5%, abaixo da taxa de 2,7% do ano passado, metade dos 4,9% do conjunto de países emergentes, inferior aos 3,6% dos desenvolvidos e até dos 2,8% esperados para os EUA, que apenas começaram a sair da crise. O investimento privado vai seguir fraco na região, com raras exceções e por força de fatores externos, como é o caso do México, que pega carona na retomada econômica dos EUA e cresce 3% em 2014.
Três dos mais importantes países da AL concentram os piores resultados econômicos: a Venezuela deve encolher 0,5%, a Argentina cresce só 0,5% e o Brasil patina em 1,9%. Não é coincidência. Entre eles há semelhanças e diferenças. O populismo político-econômico é a semelhança mais visível, embora no Brasil não assuma formas tão escancaradas e dimensões tão destruidoras como nos outros. Rica em petróleo, a Venezuela reúne condições que todo investidor busca para aportar seu capital, levar progresso, renda e emprego para o país. Mas em pouco mais de um ano o governo Nicolás Maduro nada construiu, pelo contrário, destruiu: afastou investidores, gerou desemprego, matou opositores e, como o antecessor Hugo Chávez, distribuiu dinheiro aos pobres para atrair apoio político e se manter no poder. Nos últimos três anos Cristina Kirchner iniciou a descida da Argentina para o abismo. Meteu os pés pelas mãos, gerou desinvestimentos, empresas pararam de produzir e tentam sair do país, falsificou índices de inflação, de desemprego e a taxa anual do PIB, o ambiente de incertezas, restrições cambiais e as improvisações do governo afugentam quem lá está e desencorajam quem pretendia lá ancorar. Inclusive empresas brasileiras, como a Vale e a Petrobrás.
A falta de confiança do capital privado no país, exacerbada na Venezuela e Argentina, contaminou o Brasil a partir do governo Dilma, tantos foram os experimentos de intervenção do governo em negócios privados, e que deram errado. A política inicial de estímulo ao consumo e desprezo pelo investimento em infraestrutura custou caro ao País. Motivado pelo anacrônico (e burro) preconceito ideológico contra a privatização, o governo do PT perdeu quase três anos sem gerar investimentos em infraestrutura. Quando acordou, fez tudo errado; tentava tabelar o lucro e as licitações fracassavam. Em seguida ao marasmo, Dilma passou a produzir planos grandiosos que têm contrastado com o fiasco em resultados. Se antes o investimento em aeroportos, portos e estradas era nulo, de repente surgiram projetos para construir 270 aeroportos regionais e licitar 45 portos ao capital privado. Até agora, nada.
Na área social, o governo Dilma acertou ao ampliar o programa Bolsa Família, manter o desemprego em baixa e tirar milhares de pessoas da miséria, mas o bem-estar da população pobre continua inalcançável diante de precários serviços de saúde, educação e saneamento. Sua fama de gerente competente, propagada pelo ex-presidente Lula, infelizmente não foi confirmada quando ela chegou ao Palácio do Planalto. Justamente porque faltou a ela entender que, sem uma economia próspera e forte, não há como garantir continuidade aos resultados dos programas de distribuição de renda, que são temporários e transitórios.
JORNALISTA E PROFESSORA DA PUC-RIO
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