o Globo
A Europa crescerá este ano e o déficit público da zona do euro voltou a 3% do PIB, a meta original do Tratado de Maastricht. Chegou a ser de 6,4%, em 2009. Mas a Europa que sai da crise é mais desigual e com muito mais desempregados. A taxa de pessoas sem trabalho continuará muito mais alta do que antes da crise. A deflação, em estilo japonês, ronda essa recuperação.Depois de dois anos de recessão, na segunda queda da crise em W, os europeus saíram do furacão, mas a recuperação ainda será árdua. Esta semana, a Eurostat divulgou que o déficit público na zona do euro caiu à metade, mas os alemães tiveram déficit zero, e os gregos ficaram no vermelho em 12,7%, por causa da retração do PIB. O governo irlandês teve um rombo de 7,2%, e o espanhol, de 7,1%. Os portugueses estão em torno dos 4,9%.
O consumo vai melhorar, mas com diferenças de ritmo, como se pode ver no gráfico abaixo. As projeções apontam para aumento de gastos dos consumidores em países como Espanha, Itália e Portugal, distante, no entanto, do nível de antes da crise. Na outra ponta, a Alemanha mostra o vigor do consumo, com a França logo atrás.
A economista-chefe da Coface, empresa francesa de análise de risco, Patrícia Krause, estima crescimento de 1% para o PIB da zona do euro este ano. As exportações estão subindo, apesar do fortalecimento da moeda. O desemprego em países como Espanha, Portugal e Grécia reduziu o custo do trabalho e aumentou um pouco a competitividade das empresas. As exportações gregas para fora da Europa saltaram de 56% para 68% do total exportado, entre 2007 e 2013. Dos italianos, de 53% para 59%, e dos espanhóis, de 42% para 48%.
O grande drama continua sendo a falta de emprego. O problema apenas parou de piorar. O desemprego na Grécia e na Espanha continua acima de 25%. Em Portugal, mantém-se em 15%, enquanto Itália e Irlanda estão com taxas acima de 10%.
De acordo com a economista Monica de Bolle, da Galanto Consultoria, a região enfrenta agora um novo temor: o risco de deflação. Essa ameaça coloca a Europa no mesmo caminho do Japão, ou seja, com risco de ficar um longo tempo com baixo crescimento e retração nos preços.
— O risco de ruptura do euro ficou para trás, mas o problema da competitividade continua, mesmo com o aumento do desemprego, que diminuiu o custo do trabalho. A pergunta é: o que os europeus vão oferecer ao mundo para crescer mais forte? — diz.
Essa também é a visão do economista-chefe da Acrefi, Nicola Tingas. Segundo ele, o modelo de bem-estar social europeu entrou em colapso e a região precisará se reinventar.
— A Europa vai precisar de uma revolução tecnológica e inovação. Ou de uma nova onda de crescimento mundial. Se isso não ocorrer, serão anos de baixo crescimento e queda lenta do desemprego — afirmou.
De todo modo, é impressionante o caminho já percorrido pela região, que balançava no abismo há dois anos.