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terça-feira, fevereiro 25, 2014

Sobre a fragilidade - Economia - Versão Impressa - Estadão Mobile


Sobre a fragilidade

Celso Ming - O Estado de S.Paulo

O governo Dilma nem sempre é coerente nos seus diagnósticos e, até mesmo nas justificativas, às vezes, se enreda em contradições.

Depois de passar meses avisando que a ação dos grandes bancos centrais vinha produzindo estragos na economia - o argumento da guerra cambial provinha disso -, o ministro Guido Mantega tenta convencer o público e as autoridades estrangeiras de que o Brasil não está vulnerável aos vaivéns da política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos).

A percepção corrente no exterior é a de que os países emergentes estão fazendo água. O Brasil, que encabeçava a sigla Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), dos países mais promissores, passou a integrar a lista dos "cinco mais frágeis" (Brasil, Índia, África do Sul, Indonésia e Turquia).

Há 11 dias, foi a vez de o Fed repassar documento oficial ao Congresso dos Estados Unidos em que ficou dito que o Brasil é, entre as economias emergentes, a segunda mais vulnerável. O Fundo Monetário Internacional (FMI) advertiu quarta-feira que os emergentes estão mesmo a perigo.

E este é um dos temas centrais nos debates no Grupo dos 20 (G-20) que termina hoje em Sydney, na Austrália. Os países emergentes querem que o impacto sobre a economia deles seja levado em conta pelos grandes bancos centrais quando despejam ou retiram moeda do mercado. Ontem, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Jacob Lew, foi além e avisou que os emergentes estão vulneráveis não por culpa nem do Fed nem do governo dos Estados Unidos, mas por imprevidência e má condução da política econômica dos próprios emergentes. Que ponham ordem na casa e executem as reformas para melhorar o funcionamento dos seus sistemas imunológicos e deixar de afugentar os investidores. O secretário-geral da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Angel Guria, fez intervenções na mesma direção.

O ministro Mantega agora tenta reverter essa impressão de que o Brasil não aguenta o tranco. Tem repetido que a economia está preparada porque tem reservas de US$ 376 bilhões e dívida pública sob controle, começou a puxar os juros para cima antes dos outros emergentes, em abril de 2013, e está apertando a política fiscal.

No entanto, nas explicações que dá para o baixo crescimento econômico, para a inflação de quase 6% ao ano e para o rombo nas contas externas (veja, a propósito, o Confira), Mantega insiste em que é a resposta à crise dos países ricos que provoca volatilidades demais e prejudica os emergentes.

O que conta é que nem os Estados Unidos, nem a União Europeia, nem mesmo a China mudarão o curso de suas políticas apenas porque os emergentes não gostam de bombear água para fora dos porões dos seus navios.

A única opção é fortalecer os navios, procedimento de que a presidente Dilma não parece convencida, seja porque não gosta de reformas e de austeridade, seja porque continua aferrada à ideia de que a economia brasileira não tem fragilidades.





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