O ESTADÃO - 02/02
É de admirar, realmente. Tanto a solidariedade quanto a prodigalidade dos companheiros que prontamente atenderam aos apelos de José Genoino e Delúbio Soares e, no conjunto, doaram quase R$ 2 milhões para saldar as dívidas de multas dos dois petistas com a Justiça. Dinheiro arrecadado em menos de três semanas. Aos números precisos: foram 19 dias durante os quais os sites destinados às doações receberam R$ 1.775.619 (ignorados os centavos). Deu e sobrou. Com folga.
A família de Genoino tomou a iniciativa. A imediata adesão de gente disposta a doar foi atribuída à especificidade da situação do ex-deputado: homem de posses medianas e vida desprovida de ostentação. Em dez dias arrecadou-se mais que o necessário: R$ 761.962 para pagar a multa de R$ 667.514. Do excedente, R$ 30 mil foram transferidos para a conta do ex-tesoureiro do PT. Nem teria sido necessário, pois, como se constatou logo a seguir, a solidariedade não era restrita a Genoino. Delúbio Soares conseguiu, em nove dias, arrecadar R$ 1,013 milhão para saldar um débito de R$ 466.888.
A diferença entre os dois é que Genoino recebeu menos de mais gente (cerca de dois mil colaboradores) e Delúbio ganhou mais de menos doadores, 1.095, de acordo com os números apresentados pelo coordenador jurídico do PT, Marco Aurélio Carvalho. Tudo certinho e contabilizado. “Todos os colaboradores estão identificados”, garantiu. Um sucesso. Tanto que a corrente será usada em prol do ainda deputado João Paulo Cunha (multa de R$ 370 mil) e de José Dirceu (R$ 960 mil) para quem vai a sobra da arrecadação originalmente destinada a Delúbio. Na avaliação de Carvalho, não haverá dificuldade para conseguir o necessário à quitação da dívida financeira dos petistas com a Justiça. Pelo que se viu até agora não há razão para duvidar.
É de se perguntar, porém, se um partido com essa capacidade de mobilizar recursos individuais não teria meios para fazer o mesmo em relação às campanhas eleitorais. Daria um bom exemplo às demais legendas de como é possível se sustentar sem recorrer a recursos públicos nem ao caixa “não contabilizado”, do qual o PT alega ter sido uma vítima, em sua versão de que o mensalão não existiu.
A partir de sua própria mobilização, o partido demonstrou que o financiamento por meio do orçamento da União forçosamente não seria a solução (muito menos a única) mais adequada às questões que envolvem a tão complicada vida financeira das agremiações partidárias. Claro, as campanhas teriam de ser mais baratas, sem tanta produção nem alegorias. Com foco mais no conteúdo e menos na forma. Mas seria um caminho, ainda mais se às doações de pessoas físicas fossem somadas as contribuições lícitas de empresas. Com doadores identificados, tudo registrado e devidamente divulgado.
Transparência, assim, não é “burrice”, contrariamente à tese defendida pelo então tesoureiro Delúbio Soares para derrubar a proposta do então petista Chico Alencar, feita em 2004, de divulgação dos gastos de campanha do PT na internet.
Modos da Corte. Das trocas de ministros divulgadas na quinta-feira, a única não oficial e até então desconhecida foi a substituição de Helena Chagas por Thomas Traumann na Secretaria de Comunicação da Presidência, publicada na Folha de S.Paulo. Helena soube que o jornal traria a notícia no fim da noite de quarta. Telefonou para a presidente Dilma Rousseff que a chamou para conversar na manhã do dia seguinte. Negou que tivesse autorizado qualquer “vazamento” e propôs que a demitida desmentisse a demissão, mas deixasse o cargo no domingo. Hoje, portanto. Proposta recusada, o posto foi entregue de imediato. Ficou nas adjacências do Planalto a forte impressão de que o anúncio pelo jornal antes do comunicado à interessada foi um toque de crueldade dado por quem tem carta branca para tal.