O Estado de S.Paulo
O deputado Eduardo Azeredo (PSDB-MG), denunciado pela
Procuradoria-Geral da República por peculato e lavagem de dinheiro,
reivindica tratamento igual ao do ex-presidente Luiz Inácio da Silva no
tocante ao processo do mensalão. Defende Lula e diz ser tão inocente quanto ele. O PT, por sua vez, diz que não deseja o mal para o tucano e clama pelo amplo direito de defesa ao adversário político.
Pura encenação. Tudo o que o PT mais deseja é que o infortúnio se abata sobre o PSDB. Fala em "direito de defesa" só para dar a impressão de que os seus não tiveram essa prerrogativa.
Quanto à reivindicação de Azeredo, ele não pode ser tratado como Lula, pois o ex-presidente não foi incluído na denúncia do mensalão. Em boa medida porque o PSDB, partido do acusado ora em tela, concordou em tirar o pé de acelerador nas investigações quando o publicitário Duda Mendonça confessou ter recebido dinheiro "por fora" para fazer a campanha presidencial de 2002.
Os tucanos não resolveram aliviar por acreditar que Lula nada tivesse a ver com o esquema de financiamento de partidos de sua base de sustentação, mas por imaginar que fosse estrategicamente mais eficaz deixá-lo "sangrar".
Na ocasião, aliás, já tinham perdido a moral para tratar do assunto, porque resolveram firmar fileiras em defesa de Azeredo (à época presidente do PSDB) com argumentos semelhantes aos usados pelo PT.
Ou seja, eram infundadas as acusações de que a campanha do então governador de Minas Gerais havia se valido dos préstimos de Marcos Valério de Souza para desviar recursos públicos e maquiá-los mediante empréstimos fraudulentos.
Para o Ministério Público, nos dois casos as denúncias têm fundamento. O primeiro já foi julgado e o segundo começa a andar. Há que se estabelecer diferenças entre os dois. No do PT houve amplitude nacional e envolvimento da direção do partido, bem como da Presidência da República no processo representada pelo titular da Casa Civil.
No do PSDB, o alcance foi local e limitou-se à campanha. Azeredo foi derrotado naquela eleição (1998). Mas, guardadas as proporções, o crime na essência foi o mesmo: o uso do Estado para fins partidários.
Saudação trabalhista. "Partido, é dos Trabalhadores!". É assim que o PT gosta de se autodefinir em palavra de ordem bastante usada em encontros do partido para reiterar a posição de origem. A defesa dos interesses trabalhistas, contudo, não encontra ressonância no programa Mais Médicos, uma das joias da coroa para a reeleição da presidente Dilma Rousseff.
Pelas regras impostas aos trabalhadores da área de saúde vindos de Cuba, o PT como partido do governo patrocinador, na realidade está na contramão dessa rota.
Os médicos cubanos são mantidos longe da família, são vigiados e obrigados a trabalhar por menos de R$ 900 mensais.
Morte anunciada. O cinegrafista Santiago Ilídio Andrade não foi vítima de um acidente. Morreu assassinado pelas mãos do mascarado que atirou um rojão a esmo incentivado pela glamourização dos atos de vandalismo, cuja repressão vem sendo sistematicamente condenada por uma parte da sociedade que enxerga na violência uma forma legítima de protesto e não reconhece que o uso da força é dever do Estado quando em risco está a ordem pública.
Se esse é um raciocínio tido como conservador, queira o bom senso que a banalização da vida não seja vista como um pensamento progressista.
Na escalada de depredações, incêndios, barbárie a torto a direito que assistimos como se fosse uma decorrência natural da tensão nas grandes cidades, um homicídio era inevitável.