O Brasil não vai quebrar, por certo. A inflação não está tão descontrolada quanto dizem; os juros estão longe de ser os mais altos do mundo; a administração das finanças públicas não é tão ruim como a de tantos outros governos; o crescimento econômico é essa merreca que todo o mundo já viu, mas, pelo menos, há crescimento, num mundo que segue devagar-quase-parando. E, afinal, o Brasil não é nem a Argentina nem a Venezuela.
Mas a sensação de desconforto e de aumento de problemas em cada vez mais segmentos da vida econômica parece crescer com esse calorão. As manifestações cada vez mais violentas, mais que desencanto, refletem insegurança e aumentam a percepção de que, no Brasil, muita corda está esticada demais.
Na semana passada, por exemplo, o apagão que atingiu 13 Estados mostrou que o sistema elétrico está em curto-circuito. Pouco importa se as causas do sucedido foram poderosas descargas atmosféricas, sobrecarga de demanda ou falha humana, como pareceram indicar as manifestações da presidente Dilma. O fato é que o sistema está vulnerável.
Além disso, sabemos que 227 de 448 obras de construção, ampliação e melhorias de linhas, subestações e 71% das obras das novas redes de transmissão estão atrasadas, conforme reconhece o Ministério de Minas e Energia. A maior demanda de energia, num momento em que os reservatórios acusam níveis excessivamente baixos para a temporada, obrigou o Operador Nacional do Sistema Elétrico a acionar as usinas termoelétricas que encarecem o quilowatt/hora.
Apelos tardios para que a população poupe água e as críticas à baixa eficiência operacional das redes de saneamento também puseram em evidência a precariedade dos serviços de água e esgoto.
A mesma sensação de tudo trabalhando no limite pode-se ver, também, nas operações dos portos, aeroportos e rodovias. Em todo o País, os transportes urbanos estão sob estresse. São linhas de metrô paralisadas quase diariamente, ônibus incendiados nas principais capitais, uma greve infernal em Porto Alegre, protestos contra aumento de tarifas em toda parte. E, com a volta às aulas, há os engarrafamentos exasperantes de trânsito nas grandes e até mesmo nas médias cidades, que engaiolam o cidadão durante horas a fio.
A Petrobrás enfrenta anos seguidos de quebra de produção, mostra deterioração em todos os indicadores operacionais e, mesmo com dinheiro farto do BNDES, não vem dando conta dos programas de investimento.
E há as tão frequentes quedas de sinais nas redes de comunicação e internet, cuja extensão não são nunca admitidas, mas são sempre sentidas. Mostram o emperramento de coisas que deveriam fluir.
Semana após semana, as estatísticas que acusam o desempenho do setor produtivo revelam baixa capacidade competitiva da indústria, especialmente o subsetor de transformação.
Os programas de desoneração tributária deram o que tinham de dar e mais não podem porque o Tesouro está esgotado. Enquanto isso, o impulso recorrente das autoridades é sempre dar um jeito de aumentar a arrecadação.
Vai ver, tudo isso e tanta coisa mais não passam de um sonho mau ou de um momento de falta de objetividade... Vai ver.