Veja - 02/05/2011 |
Mas há boas chances de que um acidente topográfico (submarino) venha a aprumar o estado. Na economia moderna, um navio enorme substituiu vários pequenos. E, é óbvio, quanto maior o navio, mais profundo tem de ser o porto. No Nordeste, onde aportariam os petroleiros gigantes? Aí, Deus fez um favorzinho aos pernambucanos: só em Suape há um porto natural de 20 metros de profundidade. Como se gastou uma fortuna para construir o terminal petroleiro, o investimento atrai outros. Pululam de operários as obras de uma das maiores refinarias do país. Um enorme estaleiro já está operando. Breve virão dois outros estaleiros. Avançam as obras de duas petroquímicas. A fábrica de turbinas eólicas está produzindo a pleno vapor. A Bunge tem uma moagem. A Fiat decidiu construir uma fábrica em Suape. E por aí afora. Inevitavelmente, algumas dessas indústrias criam mercados gigantescos para as fábricas locais. Tudo resolvido? Nem pensar! Fazer açúcar em usinas arcaicas é diferente de suprir uma indústria moderna, com exigências de qualidade, especificações rígidas nos produtos, certificação ISO e prazos de entrega sagrados. Para inaugurar o primeiro estaleiro, mais de 10000 cortadores de cana foram atraídos. Três mil, minimamente qualificados, receberam formação em soldagem. Mas a cultura fabril vive em outro mundo. Colidem os valores e hábitos de trabalho, faltam os conhecimentos de leitura e matemática, mercê de uma educação péssima. Boa parte da indústria local, nem tão moderna assim, se ressente de uma longa hibernação. Falta gente qualificada. Os bons cursos profissionais são poucos. Sobra o velho cacoete de mamar na teta do estado. Falta agressividade para buscar os mercados. Por exemplo, importam-se de São Paulo os aventais de solda, parecidos com os jalecos de boiadeiro. Passa-se o mesmo com os uniformes, cuja tecnologia produtiva é a máquina de costura, inventada no século XIX. Teme-se a invasão de empresas de fora, sejam estrangeiras, sejam do Sul. Elas trazem sua mão de obra e seus hábitos de operar em uma economia agressivamente competitiva e moderna. Muitos empresários locais vão levar uma rasteira? Talvez. Mas, no fundo, uma empresa eficiente é uma escola, mesmo sem ter uma só sala de aula. É lá que se podem forjar os hábitos, as práticas e os valores da indústria moderna. Que venham os coreanos e os paulistas! Não terão outras origens as sementes da nova Revolução Industrial do estado. Os 20 metros garantem alguma coisa, mas não tudo. Praias maravilhosas foram sacrificadas e pecou-se contra o meio ambiente. Valeu a pena? Um cenário possível é a cadeia de suprimentos aproveitar a eficiência do porto, a fim de manter suas fábricas em São Paulo ou em Xangai. Podemos também imaginar cenários em que uma indústria parece local mas é satélite de suas matrizes alhures. Ou, quem sabe, renasce uma indústria local, passada a limpo e agressiva? Qual cenário faz mais sentido? O maior risco é deixar o bairrismo prevalecer e tentar proteger a indústria local, sem sucesso, pois a maioria vive em um círculo vicioso de atraso. O mais seguro é investir maciçamente em educação e formação profissional, pois esse é o grande gargalo, qualquer que seja o dono da fábrica. De fato, apesar dos esforços, os resultados do treinamento não parecem à altura de enfrentar o tsunami da demanda. Em que pese a dedicação do Senai, mal e mal, só deu para oferecer os rudimentos de soldagem. Falta todo o andar do meio, com suas dezenas de ocupações técnicas complexas. O futuro está nas mãos dos pernambucanos. Haverá outra chance de mesmo tamanho? |
Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, maio 03, 2011
Vinte metros de profundidade - Claudio de Moura Castro
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