O ESTADO DE SÃO PAULO - 14/05/11
A França registrou uma taxa de crescimento considerável no primeiro trimestre de 2011: o Produto Interno Bruto (PIB) subiu 1%. A cifra seria excessivamente modesta para países como o Brasil ou a China, mas para um país europeu, é notável. Principalmente, contrasta com os resultados dos anos anteriores. Em 2010, o crescimento francês não ultrapassou 0,2% ou 0,5% por trimestre. O ano pior foi o da crise dos empréstimos subprimes. O PIB francês ficou negativo em 1,6% no quarto trimestre de 2008. E no primeiro trimestre de 2009 foi ainda, caiu 1,4%.O governo francês dá muita publicidade a esses resultados, e com razão. A ministra das Finanças, Christine Lagarde, anuncia que a França saiu da crise. Para a maior parte dos economistas, entretanto, esses gritos de vitória são prematuros. De fato, se o PIB cresceu no início do ano, foi graças a um aumento do consumo das famílias maior do que o esperado. Mas tudo deixa crer que essa bulimia de consumo não se prolongará nos próximos meses.
O poder aquisitivo dos franceses estagnou e, provavelmente, declinará no segundo trimestre. Os institutos de economia calculam que o consumo deverá diminuir nos próximos trimestres.
Mais uma vez, está confirmado que o único país da Europa que saiu da crise é a Alemanha. No primeiro trimestre de 2011, o crescimento alemão chegou a 1,5%, ou seja, em um ano, a progressão foi de 4,8%. Ao contrário da França, a indústria além do Reno está eufórica. O país cria empregos e em grande número, e a indústria Audi anuncia a contratação de 2 mil assalariados para 2011, 1.200 dos quais são especialistas em motores elétricos para automóveis. Somente esse grupo automotivo alemão, que já emprega 60 mil pessoas, prevê dez mil empregos a mais até 2020.
A discrepância entre a zona alemã e a zona francesa, longe de diminuir ou de se reverter, aumenta cada vez mais. E o que dizer se incluirmos no quadro comparativo os outros países europeus? Embora esteja tão distante do desempenho da Alemanha, a França continua se mostrando uma ótima aluna do continente europeu. Suas taxas de crescimento estão mais ou menos próximas às da zona do euro.
Por outro lado, vários países continuam no fundo do fosso. Para este início do ano de 2011, se a França apresentou um crescimento de 1%, a Irlanda não ultrapassou a metade dessa cifra. Portugal, por sua vez, recuou 0.5% e prevê que em 2012 chegará a -1,5%. Finalmente, o campeão do declínio é a Grécia, esgotada pelo tratamento de austeridade que ela se impôs, que deverá ver sua riqueza baixar 3% em 2012.
Essas cifras confirmam o veredito que os dramas de Portugal, da Irlanda e da Grécia sugeriam: o verdadeiro "câncer" que esgota o corpo da Europa e, portanto, a União Europeia, é a enorme discrepância que existe entre as diferentes peças do quebra-cabeças europeu. / TRADUÇÃO ANNA CAPOVILLA