Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, maio 09, 2011

Mais inflação, menos crescimento Carlos Alberto Sardenberg

O Estado de S. Paulo - 09/05/2011
 

 

"Eu não vou permitir que a inflação volte no Brasil. Não permitirei que a inflação, sob qualquer circunstância, volte. Também não acredito nas regras que falam (em março) que o Brasil não crescerá este ano. Tenho certeza de que o Brasil vai crescer entre 4,5% e 5% este ano."

Assim a presidente Dilma Rousseff definiu seus objetivos econômicos em entrevista à jornalista Claudia Safatle, ainda em março. A presidente também garantia: "E também não acho que a inflação no Brasil seja de demanda".

Juntando isso com as manifestações de membros da equipe econômica, o novo governo passava o seguinte recado: certo, vamos ter de novo inflação acima da meta - em torno dos 5% -, mas menor do que a do ano passado. E, sobretudo, não vamos derrubar o crescimento econômico nem cortar investimentos importantes.

Na sexta-feira passada saiu o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de abril, que jogou a inflação acumulada nos últimos 12 meses para 6,51%, no limite do teto de tolerância.

Qual o cenário hoje?

O governo não confessa oficialmente, mas já se sabe que vai lutar para que a inflação chegue ao final do ano abaixo dos 6,5%. Algo como 6,45% já será considerado uma vitória.

E o crescimento econômico? Se der 4%, será sensacional. Mas o governo espera mesmo que não seja inferior a 3,5%.

Resumo da ópera: o governo topava um pouco mais de inflação para garantir um pouco mais de crescimento.

Está colhendo mais inflação e menos crescimento - como diziam os assim chamados "ortodoxos" tão criticados pela presidente Dilma e por alguns de seus ministros.

Em tempo: deem uma olhada nos documentos do Banco Central. Procurem por "inflação de demanda". Vão encontrar.

Governança. A Vale anunciou um baita lucro no primeiro trimestre deste ano. Verdade que os preços do minério de ferro estiveram no pico em janeiro e fevereiro. Mas é verdade, também, que a Vale é uma companhia bem administrada, capaz de aproveitar as oportunidades do mercado.

Entretanto, suas ações em bolsa se têm valorizado menos do que as das concorrentes multinacionais. A causa? Governança. Ou seja, séria desconfiança em relação aos futuros resultados da empresa, dada a ostensiva interferência do governo Dilma no comando da companhia.

Demitiram os frentistas... Antes da operação que apanhou Osama bin Laden, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, estava com a popularidade em baixa. Uma das causas era o preço da gasolina, que passava dos US$ 4 o galão, algo em torno de R$ 2 o litro. Mais barato do que no Brasil ou na Europa, por exemplo, porém mais alto do que as médias históricas norte-americanas.

Gasolina nos Estados Unidos paga pouco imposto, o preço é livre e responde direta e imediatamente às flutuações do mercado mundial.

Se o galão passar dos US$ 5 e ficar nisso - diziam então os analistas -, a reeleição de Obama estará seriamente comprometida. E, se chegar a US$ 6, completavam, estará perdida.

Gasolina é um preço político em qualquer país. Mas sempre pareceu que, nos Estados Unidos, o impacto eleitoral é muito maior.

Qual seria a causa disso? Uma explicação óbvia: os americanos adoram automóvel e usam mais o carro particular do que, por exemplo, os europeus - estes mais propensos ao transporte público.

Mas há uma outra explicação, comportamental. O problema é que nos Estados Unidos não há mais frentistas nos postos de gasolina.

Isso mesmo. Em nome da eficiência e da redução de custos, a profissão do frentista foi sendo eliminada. Como ocorreu no caso dos bancos - você mesmo faz os depósitos e pagamentos no seu computador -, o serviço de encher o tanque foi transferido para o consumidor.

O motorista para o carro ao lado da bomba, desce, passa seu cartão de crédito, o que destrava a mangueira, e faz a operação. Em certos postos, o motorista precisa entrar no escritório do posto e passar o cartão de crédito lá dentro. Depois volta e opera a bomba.

Em qualquer caso, eis a diferença: o consumidor fica ali, vendo a maquininha rodar o preço. Ele quer colocar dez galões (quase 38 litros) e é obrigado a ver o mostrador registrar: US$ 1, US$ 5, US$ 10... US$ 40 e tantos.

Diferentemente, por exemplo, do motorista brasileiro, que encosta o carro no posto, pede 30 paus da comum e fica ali, ouvindo música ou checando e-mails.

Pode ser? Pode. Estudos mostraram que o consumidor americano fica nervoso diante do avanço dos números na bomba. E se deprime em seguida.

A morte de Osama bin Laden dominou os noticiários e jogou para cima a popularidade do presidente Obama. Mas os americanos não esqueceram o dia a dia.

Vi na revista eletrônica Slate uma charge significativa. O carro está parado ao lado da bomba, na qual se lê o preço, US$ 4,31 o galão. O motorista comenta com o carona, que agita uma bandeira americana pela janela: "Não vamos mais à manifestação pela morte de Bin Laden, não temos grana para a gasolina".

Para sorte de Barack Obama, os preços do petróleo estão em queda, depois de semanas de alta. Mas esse mercado continua muito instável, na política e na economia.

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