No simpático Três Vezes Amor, um pai tenta explicar
à filha que, às vezes, há mais de uma pessoa certa
Isabela Boscov
Divulgação |
Abigail e Reynolds: um bom roteiro, entregue a um bom elenco |
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Às vésperas de se divorciar, um pai tem de explicar à filha o que é incompreensível para uma criança: que amor e paixão nem sempre são permanentes – e, o mais difícil, podem acontecer de maneira igualmente verdadeira com uma, duas ou muitas pessoas no decorrer da vida. Na tentativa de dizer algo que parece tão duro com alguma delicadeza, Will (Ryan Reynolds) conta então a Maya (Abigail Breslin, de Pequena Miss Sunshine) a história das três namoradas mais sérias que teve – com nomes trocados, para que ela não saiba qual delas terminou por se tornar sua mãe. Eis aí algo de novo: uma comédia romântica que parte do princípio de que o amor tem mais a ver com circunstâncias do que com predestinação. Escrito e dirigido por Adam Brooks, autor do também muito espirituoso roteiro de Wimbledon, Três Vezes Amor (Definitely, Maybe, Estados Unidos/Inglaterra, 2008), que estréia nesta sexta-feira no país, vai ainda mais longe na sua defesa do realismo romântico. Esse é o raro filme em que os personagens saem para trabalhar todos os dias, pensam em várias outras coisas que não suas fantasias amorosas e tomam decisões de natureza prática que alteram o curso de sua vida pessoal. Aquilo que esse gênero costuma tratar como pano de fundo – carreira, ambições ou a falta delas –, aqui é a razão pela qual os relacionamentos acontecem como acontecem.
Will começa sua narrativa em 1992, quando vai para Nova York trabalhar como voluntário na primeira campanha presidencial de Bill Clinton. Democrata apaixonado, ele deixa para trás Emily (Elizabeth Banks), a namorada com quem pretende se casar, a qual vai experimentar alguma dificuldade em se manter fiel. No trabalho, conhece April (Isla Fisher), que é inteligente e despachada mas também indecisa, e desperdiça seus talentos em subempregos. E encontra ainda Summer (Rachel Weisz), uma pós-graduanda em jornalismo que transa com seu orientador (Kevin Kline) – o qual, em sua inocência interiorana, Will pensa ser o pai dela. Todas as três continuarão a entrar e sair da vida de Will nos anos seguintes. E todas, em algum momento, serão a mulher certa para ele: o que muda em Will é o seu grau de experiência, que o esclarecerá não só sobre as verdadeiras cores de Emily, April e Summer, mas também sobre as de Clinton.
O elenco é primordial num enredo como esse, e também aí o diretor fez escolhas felizes. Elizabeth Banks, a mais fraca do conjunto, é a que menos aparece. Rachel Weisz e Isla Fisher se mostram, cada uma à sua maneira, luminosas. E Ryan Reynolds é um achado. Vindo de produções como Blade Trinity, ele se prova aqui um ator discreto, com ritmo cômico mas que não tenta fazer comédia, e que tem charme mas não o usa como muleta. Tem, ainda, um traço pessoal encantador: é o tipo de sujeito muito alto que nunca sabe bem o que fazer com tanta altura. Para um galã, seria um defeito – mas, para um personagem possível, é o que basta para começar a derreter qualquer gelo.