Keanu Reeves & cia. poderiam passar
sem o mal-intencionado Reis da Rua
Isabela Boscov
Divulgação |
Keanu e Whitaker: ludibriados pelo nome do escritor James Ellroy |
Em Os Reis da Rua (Street Kings, Estados Unidos, 2008), desde sexta-feira em cartaz no país, algo ronda Keanu Reeves. Em tese, trata-se do espectro da mulher de seu personagem, cuja perda acentuou nele os traços de policial violento, que leva a justiça a lugares aonde a lei não chega. Na verdade, o fantasma é o de astros de ação passados – a começar por Sylvester Stallone – que em alguma ocasião decidiram se impor por meio da força bruta, ou da brutalidade pura e simples, e assim envenenaram sua imagem. Eficiente em filmes como Velocidade Máxima, Matrix ou Constantine, Keanu certamente não precisa da bilheteria que algo tão mal-intencionado quanto Reis da Rua possa lhe render. Mas lá está ele, junto de várias outras pessoas que poderiam igualmente ter passado sem essa – como Forest Whitaker, que ganhou o Oscar por O Último Rei da Escócia, e Hugh Laurie, o protagonista da série House. Todos dão vexame nessa história que advoga que policiais dispostos a serviços como execuções sumárias são um mal necessário, sem o qual cidades como Los Angeles ficariam ainda piores do que estão. (E é bom frisar: ao contrário de Tropa de Elite, que radiografa a truculência policial, este filme a defende, e sem nenhuma nuance.) O mais espantoso em Reis da Rua – e talvez a explicação para o elenco ter cometido tal engano – é quem assina o argumento, e portanto a defesa tosca dessa tese: James Ellroy, autor de romances soberbos como Dália Negra e Meus Lugares Escuros. Sabe-se lá o que o escritor anda bebendo hoje em dia. Mas é algo que faz muito mal ao fígado – e à carreira.