Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, abril 10, 2008

O Brasil e as advertências do FMI


editorial
O Estado de S. Paulo
10/4/2008

Avaliando o estado da economia mundial, o Fundo Monetário Internacional (FMI)considera que o Brasil, entre os países emergentes, é um dos mais capazes de resistir aos impactos negativos da crise criada pelos EUA. Insiste, todavia, em duas preocupações: a necessidade de o País controlar a expansão excessivamente rápida do crédito e de restringir os gastos do governo.

A baixa relação do volume de crédito com o PIB, no Brasil, leva muita gente a dizer que o País usa pouco o crédito. Mas é preciso levar em conta a distribuição de renda, muito negativa no País, assim como a taxa de juros, a mais alta do mundo, que afasta as empresas do crédito, ao mesmo tempo que os amplos prazos ocultam, para as pessoas físicas, esse custo.

O crédito às pessoas físicas cresceu 24,8% em 2006 e 33,4% no ano passado. Se consideramos a relação do crédito com o consumo das famílias, que aparece nos dados das Contas Nacionais, verifica-se que passou de 16,4% em 2006 para 20,4% no ano passado.

O crédito deve ser avaliado em razão, em primeiro lugar, do crescimento do PIB, que foi de 3,8% em 2006 e de 5,4% em 2007 - “per capita” os valores são, respectivamente, de 2,3% e de 4%. Enquanto em valor nominal o PIB cresceu 9,68% no ano passado, o crédito para as pessoas físicas aumentou 33,4% e o prazo médio, 19,3%. É essa evolução que justifica certa preocupação do FMI. É normal, no entanto, que se procure avaliar esse crescimento do crédito às famílias em razão de dois parâmetros importantes: o crescimento do emprego e dos rendimentos. Os dados disponíveis para isso são apenas os da indústria. Em fevereiro, considerando os últimos 12 meses, houve aumento de 2,5% do emprego e de 2,8% dos salários reais (com uma inflação em torno de 5,4%). Tem-se de levar em conta que os empréstimos hipotecários foram os de maior crescimento e que, no 1º trimestre deste ano, as transações com cartões de crédito somaram R$ 1,3 bilhão, com aumento de 21% no período.

O FMI considera que a política fiscal pode ajudar os países emergentes a evitarem um aquecimento excessivo da demanda. Cumpre notar que no bimestre os gastos do governo federal cresceram 15,1% em termos nominais (10,4% em termos reais) com aumento de 14,2% nas despesas de pessoal e de 16,8% nas de custeio e capital, mas isso sem aumento da produtividade, ao contrário do que se verificou no setor industrial.

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