Aproveitando que o país atravessa, no entender de seus analistas, seu melhor momento econômico dos últimos 30 anos, a empresa de consultoria Macroplan, do economista Cláudio Porto, especializada em estudos prospectivos, voltou a se aprofundar na análise de nossa economia, pesando os fatores “estruturais e conjunturais favoráveis”, e contrapondo-os “às debilidades e gargalos”, para responder a uma pergunta fundamental: O Brasil entrará em uma trajetória de crescimento sustentado e em patamares elevados? Os já tradicionais cenários que a empresa faz para o futuro do país, desta vez abrangendo os próximos sete anos (os três últimos do segundo governo Lula e os quatro do governo que se iniciará em 2011), têm duas tendências principais.
O mais provável, segundo a Macroplan, com 45% de chance de acontecer, é um “Crescimento Inercial”, com patamares medianos, sem grandes avanços nas reformas estruturais. A outra probabilidade maior, com 30% de chances, é também o cenário mais pessimista: sintomaticamente intitulado “Baleia Encalhada”, está diretamente relacionado ao recrudescimento da crise externa e ao surgimento de um projeto neopopulista no país como resposta às dificuldades.
As dúvidas sobre a capacidade de o país manter um desenvolvimento sustentado está ligada à incerteza sobre como evoluirá o ambiente econômico mundial em relação ao Brasil nos próximos anos, levando em consideração especialmente os desdobramentos da atual crise econômica americana.
No plano interno, a incerteza se refere à intensidade com que serão enfrentados os gargalos estruturais. Outro vetor fundamental para a análise prospectiva são as eleições de 2010, que poderão, segundo o estudo da Macroplan, abrir três trajetórias para a condução da política econômica do país: Um cenário “livre de surpresas”, com a continuidade da atual coalizão de poder político; a emergência de uma coalizão reformista; ou a escolha pelo eleitorado de uma “opção neopopulista”, repetindo-se aqui escolhas que têm sido freqüentes na América do Sul.
No momento, os analistas da Macroplan consideram que as duas primeiras opções têm mais chance de ocorrer. No entanto, o mais provável, segundo o estudo, é que as reformas estruturais não sejam realizadas, ou sejam feitos pequenos remendos emergenciais.
É elevada a probabilidade de manutenção do cenário de crescimento inercial desde 2008 até 2014, mesmo se vitoriosa uma opção neopopulista.
Trata-se da força da inércia, dizem os técnicos: certamente o cenário sofreria ajustes e mudanças, mas a sua essência tenderia a ser preservada.
Os economistas da Macroplan, no entanto, advertem que somente com um novo ciclo de reformas será possível alcançar o crescimento sustentado em altos patamares, combinando crescimento ascendente do PIB com baixas taxas de inflação, forte elevação da taxa de investimento, câmbio relativamente baixo, forte redução da relação dívida/ PIB e baixo risco-Brasil.
Segundo o estudo, o desempenho da nossa economia no cenário de crescimento inercial não é ruim, mas antecipa uma trajetória de declínio das taxas de investimento e de crescimento do PIB; e pequenas elevações da inflação, do câmbio e um pouco maior da relação dívida/ PIB, “o que sugere que este não é um caminho sustentável a longo prazo”.
O cenário “Salto para o Futuro”, o mais otimista, só tem chances robustas de acontecer na hipótese da formação de uma coalizão hegemônica reformista, seja como resultado direto das eleições, seja em decorrência de pressões do cenário externo e de atores internos.
Mesmo nessa hipótese, advertem os economistas, não é baixa a probabilidade de que possa a ocorrer uma “recaída” para o cenário de crescimento inercial, especialmente se o cenário externo permanecer muito favorável e a coalizão interna não for muito forte.
A prevalência de uma opção populista levaria novamente a economia à estagnação.
Os dois cenários menos prováveis, juntos, têm 25% de chances de se realizarem, e prevêem o surgimento na eleição de 2010 de uma aliança reformadora que coloque o país no caminho do desenvolvimento sustentado.
O “Salto para o Futuro”, segundo os economistas da Macroplan, tem apenas 15% de probabilidade de acontecer.
Um quarto cenário, identificado como “Travessia na Turbulência”, tem probabilidade de apenas 10%. Os dois prevêem que o Brasil superará a crise econômica internacional, que poderá causar mais turbulência, ou ser branda durante pouco tempo.
No cenário mais otimista, e também mais improvável, de hoje até o fim do governo Lula, os Estados Unidos experimentam uma recessão leve, e iniciam o enfrentamento estrutural à crise. O “descolamento” parcial das economias emergentes e da Europa mantém a economia mundial em expansão moderada, sustentando preços relativamente elevados do petróleo e das commodities agrícolas e industriais, mantendo-se o crescimento da demanda mundial por produtos exportados pelo Brasil.
Já no Brasil, os dois principais fatos novos seriam um forte aperto fiscal, incluindo a contenção das despesas de custeio do governo, e a implementação de medidas para melhorar o ambiente de negócios.
Com essas medidas, haveria um salto de desempenho na implementação do PAC, o país alcançaria o grau de investimento e a trajetória de crescimento da economia e do emprego seria mantida.
O novo presidente, eleito para o período de 2011 a 2014, chegaria ao poder com uma coalizão suprapartidária unida em torno da aprovação das reformas estruturais: política, administrativa, do judiciário, trabalhista e previdenciária, e com uma agenda de melhorias microeconômicas de impacto rápido, especialmente no campo da desburocratização.
(Continua amanhã)
Entrevista:O Estado inteligente
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