Entrevista:O Estado inteligente

sábado, abril 12, 2008

Lula escala publicitário João Santana para orientar Dilma

O Estado de S. Paulo,

Presidente tenta preservar ministra da Casa Civil na guerra que se abriu no Planalto por causa do dossiê

Vera Rosa

Preocupado com os efeitos do tiroteio na direção da ministra Dilma Rousseff, escolhida como alvo da oposição após o vazamento de dados sigilosos de gastos do governo Fernando Henrique, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva escalou o publicitário João Santana, consultor do governo, para ajudar a “mãe do PAC”. Lula avalia que Dilma é “vítima” de conspiração orquestrada por adversários, temperada pela guerra de grupos dentro da Casa Civil, e está disposto a defendê-la não só nos palanques domésticos como no exterior.

“Não sei qual o incômodo que as pessoas podem ter com a Dilma”, afirmou o presidente, ontem, durante entrevista em Haia, na Holanda. Ao ser questionado se a chefe da Casa Civil ainda está forte, Lula respondeu com outra pergunta: “E qual a razão para ela não estar forte?” Com um discurso recheado de elogios à ministra, o presidente insistiu em que Dilma é “extremamente importante”, além de “coordenadora excepcional”, com “função primordial” no governo. “É a mulher que faz o PAC acontecer 24 horas por dia, e por isso eu disse que ela é a mãe do PAC.”

Lula sabe, porém, que o episódio do dossiê - chamado no Planalto de “banco de dados” - causou grande desgaste à imagem da ministra, que, apesar da turbulência, continua sua favorita para disputar a sucessão presidencial de 2010. Foi para blindá-la que ele pediu a assessoria de Santana. O marqueteiro dá orientações a Dilma desde o lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), em janeiro de 2007. A crise do dossiê, porém, aproximou ainda mais os dois.

Santana aconselhou Dilma a sair da defensiva e enfrentar a oposição: ontem mesmo, a ministra mandou ofício à Comissão de Infra-Estrutura do Senado, aceitando prestar esclarecimentos sobre a usina hidrelétrica de Belo Monte e as obras do PAC. O publicitário também orientou a chefe da Casa Civil a manter sua agenda administrativa como gerente do PAC.

Vestindo esse figurino, Dilma participará da abertura do encontro de prefeitos do PT, na segunda-feira, em Brasília. Três dias depois, acompanhará Lula na viagem a Belo Horizonte para inaugurar novo lote de obras do PAC.

Mesmo assim, o governo vai tirar Dilma da vitrine eleitoral até a temperatura da CPI dos Cartões baixar. “Dilma exerce uma função primordial no governo como coordenadora da administração, das execuções dos projetos, e faz isso com uma competência que, eu diria, poucas pessoas são capazes de fazer”, argumentou Lula. Ao destacar que a ministra continua forte, ele também fez uma deferência a Dilma, bastante diferente daquela prestada ao ex-poderoso ministro José Dirceu, abatido pelo escândalo do mensalão, em 2005. Motivo: lembrou que sempre dizia não existir ministro forte no regime presidencialista.

O vazamento de dados secretos do governo FHC agravou a briga de grupos no Planalto, como revelou o Estado ontem. Em conversas reservadas, servidores ligados a Dirceu afirmam que Dilma berra, humilha e distribuiu broncas na Casa Civil. Segundo eles, os ataques de nervos atingem não apenas funcionários como importantes secretários e ministros. Sustentam, ainda, que a secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, cumpriu ordem de Dilma para montar o dossiê antitucano e repassou a determinação aos subordinados.

Na outra ponta, funcionários mais afinados com Dilma querem jogar a crise no colo do secretário de Controle Interno da Casa Civil, José Aparecido Nunes Pires, auditor do Tribunal de Contas da União (TCU), levado para o cargo por Dirceu em janeiro de 2003.

Em mais um dia sem dar entrevistas, sob alegação de que só falará depois de concluída a investigação da Polícia Federal sobre o vazamento do “banco de dados”, Dilma viajou ontem para Porto Alegre, enquanto a agenda divulgada à imprensa garantia que ela passaria o dia em “despachos internos”.

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