A campanha municipal de 2008 assistirá a uma inversão na lógica da conduta dos candidatos, de acordo com suas posições no campo partidário: os de oposição vão buscar falar ao eleitor sobre assuntos exclusivamente locais e os da situação adotarão discursos referidos na temática nacional.
Habitualmente ocorre o contrário. Ao governo federal interessa “municipalizar” ao máximo as campanhas de prefeitos de vereadores, enquanto aos adversários é conveniente a “nacionalização” das disputas.
Presidentes da República em geral preferem manter distância para evitar levar pancada em palanques Brasil afora e não transformar o pleito num julgamento adicional de suas administrações.
Convencida de que o presidente Luiz Inácio da Silva pretende exatamente produzir um plebiscito tácito em outubro, a oposição orienta seus candidatos a deixar Lula fora da cena, discutindo com o eleitor só assuntos de interesse direto das cidades.
A questão é: conseguirão resistir à força da agenda desde já imposta pelo presidente da República em sua caravana eleitoral iniciada com o intuito de se apresentar ao País como o principal personagem da eleição de 2008?
Candidato a prefeito de Salvador, o líder do DEM na Câmara, deputado ACM Neto, acha que vale o esforço: “Por mais que as lideranças parlamentares de expressão nacional se sintam obrigadas a responder às provocações do presidente, os candidatos em si se ocuparão das demandas locais do eleitor.”
Na opinião dele, qualquer estratégia diferente dessa põe Lula no centro da cena e dá a ele a chance de fazer da eleição de 2008 uma espécie de turno antecipado da eleição de 2010 para consagrar uma imagem de invencibilidade.
O deputado vive o problema na pele. Único candidato realmente de oposição em Salvador, onde até o PSDB funciona como linha auxiliar do PT, se não conversar com o eleitor sobre a cidade em si, será engolido pela tropa adversária. Em compensação, se ao eleitor agradar mais a pauta local, ele vira o comandante da agenda.
Com a vantagem de que, diante da gama de candidatos situacionistas, Lula fará campanha em Salvador.
Outra decisão tomada nas hostes oposicionistas é dar à questão do terceiro mandato do presidente o tratamento de factóide. Não que exista consenso entre eles sobre o repúdio real de Lula à idéia.
Há concordância de que não houve ainda uma decisão formal de governo a respeito. Só que alguns acham que Lula pode embarcar e outros consideram que não daria essa bandeira de bandeja à oposição.
Mas uma coisa é manifestar descrédito para não alimentar o debate e acabar tornando palatável o tema; outra é falta de precaução. Por isso, democratas e tucanos já pararam de defender o fim da reeleição e combinaram ficar de prontidão na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara para vigiar e matar no berço quaisquer mudanças institucionais de natureza eleitoral.
Milícias populistas
Não pode ser creditada só na conta da oposição a aprovação no Senado dos projetos do fim do fator previdenciário e extensão do índice de reajuste do salário mínimo aos aposentados e pensionistas.
A proposta é de autoria do PT e a aprovação deu-se por unanimidade. A base governista, portanto, apoiou medidas que aumentam o rombo (em R$ 40 bilhões) e na prática anulam reformas da Previdência.
Essa mesma base será, na Câmara, mobilizada para derrubar os projetos. Uma situação deveras constrangedora. Não só pela origem petista das propostas, mas principalmente pelo malabarismo verbal a que se obrigarão deputados de governo e oposição.
Os primeiros, porque rejeitaram a reforma previdenciária quanto estavam na oposição, atacando em especial a questão do cálculo do tempo das aposentadorias.
O tema ensejou a frase de Fernando Henrique sobre os “vagabundos”, referindo-se aos precocemente aposentados, mas que a exploração política distorceu o sentido para estendê-lo a todos os aposentados.
Os outros, oposicionistas, precisarão explicar por que desmontam mecanismos por eles defendidos como cruciais para a sobrevivência do sistema.
Se disserem que apenas repetem a incoerência do PT, aderem à mania petista de buscar respaldo em ações do passado para justificar as incongruências do presente.
O espetáculo da demagogia e da falta de compromisso com a palavra de ontem e o dia de amanhã foi no Senado - será na Câmara - uma obra conjunta resultante de um conjunto da obra parlamentar abaixo da crítica.
A posição dos tucanos, então, arautos da responsabilidade nas contas públicas, é de quinta. A moldura é outra - hoje há muito mais folga de caixa -, mas o espírito cafajeste é o mesmo.
Calendas
Oxalá a Polícia Federal conclua o inquérito sobre o dossiê FHC antes das investigações sobre o caso Waldomiro Diniz, iniciadas em 2004 e até hoje em aberto.
Entrevista:O Estado inteligente
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sábado, abril 12, 2008
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