DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Palácio do Planalto cogita admitir publicamente que fez em fevereiro um dossiê para comparar gastos da família de Fernando Henrique Cardoso com despesas da de Luiz Inácio Lula da Silva. Motivo: preparar-se para uma batalha com a oposição na CPI dos Cartões Corporativos, na iminência de ser criada no Senado.
Ao admitir que "organizar dossiês de natureza política não é crime", o ministro da Justiça, Tarso Genro, colocou na praça uma peça desse roteiro, precavendo-se contra eventuais revelações incômodas caso a Polícia Federal descubra quem vazou dados secretos sobre o governo FHC.
Essa estratégia dá à ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, uma saída de emergência. Se o eventual vazador for descoberto pela PF e afirmar que agiu motivado por revelar um suposto desejo do governo petista de atacar FHC, as palavras de Tarso minimizariam a repercussão disso. O governo diria que agiu em auto-defesa.
O dossiê ou "levantamento específico", de acordo com outro ministro, teria constatado um padrão razoável e semelhante de gastos de FHC e Lula. Pela versão que corre no governo, o Planalto teria guardado o levantamento, mas um "clandestino", como disse Lula, teria invadido um ou mais computadores da Casa Civil para vazá-lo à oposição.
Se admitir que fez um dossiê sobre FHC, o governo enfraquecerá o argumento usado por Dilma de que estava sendo montado um banco de dados. Mas parte da cúpula do governo avalia que está cada dia mais difícil sustentar tal versão. Daí Tarso dizer que não é incorreto governos fazerem dossiês.
Há discussão reservada no governo sobre quem, na cadeia de comando, assumiria a ordem para elaborar o "levantamento específico". A Folha já publicou que a ordem para fazer um dossiê com os gastos de FHC partiu da secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra. Restaria decidir se o governo assumirá que Dilma também sabia ou se foi surpreendida pela auxiliar.
Arthur Virgílio: “Tarso faz apologia ao Estado policial”
Por Gabriela Guerreiro, na Folha Online:
O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), reagiu nesta sexta-feira às declarações do ministro Tarso Genro (Justiça) favoráveis à elaboração de bancos de dados para levantar informações sobre despesas realizadas com recursos públicos. Segundo o tucano, o ministro fez "apologia ao Estado policial" em um "pensamento autoritário" ao defender o dossiê contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
"Elaborar dossiê, com dados pinçados para atingir adversários políticos, para o ministro, não constitui crime. Não é só correto, como necessário, diz ele, numa defesa sem peso da prática da delação, da espionagem e da perseguição política. É a apologia do Estado policial", afirma Virgílio em nota.
Segundo o senador, a tentativa de Tarso "dirigir e limitar o trabalho investigativo da Polícia Federal" merece "repulsa". O tucano defende que a PF investigue tanto o vazamento de informações da Casa Civil que deu origem ao dossiê, quanto o responsável pela sua confecção.
"Os dados não são sigilosos, como afirma o Palácio do Planalto? Então, compilar dados sigilosos, para fins políticos, não é crime? Nas confusas declarações, o próprio ministro admite que é, ao dizer que quem fez o dossiê poderia ser co-autor no crime de vazamento", completa o líder.
A Polícia Federal abriu um inquérito para investigar o vazamento do dossiê com informações dos gastos sigilosos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e da ex-primeira-dama Ruth Cardoso. O governo solicitou, porém, que as investigações estejam concentradas no vazamento das informações da Casa Civil que deram origem ao dossiê.
O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), reagiu nesta sexta-feira às declarações do ministro Tarso Genro (Justiça) favoráveis à elaboração de bancos de dados para levantar informações sobre despesas realizadas com recursos públicos. Segundo o tucano, o ministro fez "apologia ao Estado policial" em um "pensamento autoritário" ao defender o dossiê contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
"Elaborar dossiê, com dados pinçados para atingir adversários políticos, para o ministro, não constitui crime. Não é só correto, como necessário, diz ele, numa defesa sem peso da prática da delação, da espionagem e da perseguição política. É a apologia do Estado policial", afirma Virgílio em nota.
Segundo o senador, a tentativa de Tarso "dirigir e limitar o trabalho investigativo da Polícia Federal" merece "repulsa". O tucano defende que a PF investigue tanto o vazamento de informações da Casa Civil que deu origem ao dossiê, quanto o responsável pela sua confecção.
"Os dados não são sigilosos, como afirma o Palácio do Planalto? Então, compilar dados sigilosos, para fins políticos, não é crime? Nas confusas declarações, o próprio ministro admite que é, ao dizer que quem fez o dossiê poderia ser co-autor no crime de vazamento", completa o líder.
A Polícia Federal abriu um inquérito para investigar o vazamento do dossiê com informações dos gastos sigilosos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e da ex-primeira-dama Ruth Cardoso. O governo solicitou, porém, que as investigações estejam concentradas no vazamento das informações da Casa Civil que deram origem ao dossiê.